Invas�o. A usurpa��o da terra ocupada. Ex�lio e perda da identidade de quem ruma ao estrangeiro. Tamb�m h� o ex�lio de quem fica, de um povo que, dentro de seu pr�prio pa�s, se encontra despossu�do de seu territ�rio, de seus direitos, de sua hist�ria. Tais s�o as marcas inequ�vocas daqueles n�o judeus nascidos nas terras da Palestina ou descendentes destes, dali expulsos. � em torno da tem�tica das conquistas e reconquistas, das migra��es for�adas, que na hist�ria da humanidade, dizem respeito tamb�m ao ind�gena das Am�ricas, que com a chegada dos colonizadores nos s�culos 15 e 16, perdem as terras e ganham b�blias.
� aos palestinos, mas tamb�m a todos os povos amea�ados em seu direito de existir, que Mahmud Darwich (1942-2008), considerado um dos maiores expoentes da literatura palestina e poeta nacional, tece os versos em “Onze astros”, pela primeira vez traduzido no Brasil por Michel Sleiman. “Onze astros” est� entre os mais recentes lan�amentos da editora Tabla, que publica livros referentes �s culturas do Oriente M�dio e do Norte da �frica. “Nosso objetivo � construir pontes culturais e o nosso desejo � apresentar e representar essas culturas de forma aut�ntica, longe dos estere�tipos”, lembra a assessora de imprensa Ana Cartaxo.
“Arrisco dizer que somos a �nica editora com esse foco no Brasil. Temos a sorte de trabalhar com os melhores tradutores do �rabe no Brasil, como Safa Jubran, Michel Sleiman e Mamede Jarouche (tradutor do “Livro das mil e uma noites” pela Biblioteca Azul)”, destaca.
Em “Onze astros”, as vozes do ex�lio de povos de hoje e de ontem se elevam sobre a sinfonia da hist�ria. Desde os tempos remotos em que o povo palestino – judeu e n�o judeu –, antecedia aos juda�smos, cristianismos e islamismos, conforme sugerem os manuscritos milenares de Qumran encontrados na Cisjord�nia ao final dos anos 40 e 50. Ao prefaciar a obra, Michel Sleiman considera: “O palestino que perde a casa e a adjacente terra para o estrangeiro judeu reconquistador de 1948, quando se decretou o Estado de Israel, e para o israelense conquistador de 1967, ano em que se deu a Guerra dos Seis Dias, � o andalusino de Granada que perde a casa para o reconquistador de Castela no ano de 1492. � tamb�m o ib�rico, em vaiv�m de cigano, que perde a casa para o conquistador �rabe no pretenso ano de 711”.
� assim que o ex�lio � a experi�ncia hist�rica dos ind�genas das Am�ricas, e de todos os povos originais lan�ados � periferia dos sistemas – cujo direito � exist�ncia �, desde as coloniza��es, permanentemente combatido.
A palavra est� com Mahmud Darwich, no poema l�rico de abertura “Onze astros no �ltimo c�u andalusino”:
“Na �ltima noite nesta terra, arrancamos nossos dias
dos arbustos e separamos as costelas, as que levaremos junto
e as que deixaremos aqui, na �ltima noite
n�o temos tempo para despedidas, ou tempo para acabar as coisas,
tudo fica como est�, � o lugar que vai trocar nossos sonhos
e vai trocar seus visitantes. De s�bito, n�o saberemos como brincar,
porque o lugar j� aguarda seu h�spede por aqui, na �ltima noite
contemplamos as montanhas cercadas pelas nuvens: conquista, reconquista,
o tempo antigo entrega ao tempo novo as chaves de nossas portas.
Entrem, ent�o, conquistadores, entrem em nossas casas, bebam de nosso vinho
E de nossas doces muachah�t. A noite � o que somos depois da meia-noite,
Sem o alvorecer trazido nas patas de um cavalo emiss�rio do �ltimo chamado � ora��o.
nossas camas s�o verdes, da madeira do cedro, usem-nas para descansar
ap�s t�o longo cerco, e durmam sobre as plumas de nossos sonhos,
as camas est�o forradas, o perfume recende � porta, h� tantos espelhos, entrem,
n�s sairemos de vez e logo procuraremos saber
como era nossa hist�ria em torno da hist�ria de voc�s no pa�s distante,
vamos ao final nos perguntar: o Andalus
era aqui ou l�? Na terra ou no poema?”
“Onze astros” traz ao leitor seis longos poemas l�ricos de Mahmud Darwich que orbitam em torno da tem�tica da conquista, reconquista em seu central drama humano do ex�lio, que importa. “Violinos”, �ltimo verso livre do poema que d� nome ao livro, traz refer�ncia � brutalidade dos ex�rcitos e �s rupturas de refer�ncias hist�ricas:
“Violinos choram com os ciganos que se v�o a Alandalus
Violinos choram pelos �rabes que saem de Alandalus
Violinos choram por um tempo perdido que n�o volta
Violinos choram por uma p�tria perdida que tem volta
Violinos incendeiam as matas de uma escurid�o sem fronteiras
Violinos sangram os dentes farejando meu sangue nas veias (...)
Violinos me perseguem ali, aqui, para vingarem-se de mim
Violinos querem matar-me sempre e onde me virem (...)”
� assim que “violinos” s�o liricamente referenciados por Mahmud Darwich a uma identidade coletiva abatida pela trag�dia da for�a bruta, ora associados aos “cavalos em cordas de miragem e �gua gemente”; ou “ao ex�rcito que ergue t�mulos de m�rmore e alabastro”; aos “bandos de p�ssaros que saltam da bandeira desaparecida”. Mas o autor tamb�m remete “violinos” � dor �ntima e individual da paix�o inacess�vel, interrompida pelo ir e vir do drama das migra��es for�adas: “violinos s�o animal fustigado por unha de mulher que o arranha e ele se afasta”; “s�o o caos de um cora��o enlouquecido pelo vento do p� da dan�arina”; “s�o queixas da seda enrugada na noite da apaixonada sozinha”.
Ex�lio for�ado
Nascido em 1941 no vilarejo de al-Birwa, na Palestina, Mahmud Darwich, o segundo de oito filhos de uma fam�lia sunita propriet�ria de terra, viveu aos 6 anos a violenta experi�ncia da chamada Nakba palestina – em tradu��o livre “cat�strofe”, quando cerca de 700 mil �rabes, algo pr�ximo � metade da popula��o, foi empurrada para a di�spora, a maioria para os pa�ses vizinhos. Durante a guerra �rabe-israelense que se seguiu ao fim do mandato brit�nico, em 1948, a vila de al-Birwa foi inteiramente destru�da por Israel, for�ando a fam�lia do poeta e escritor a refugiar-se no L�bano. Ao retornar clandestinamente um ano depois, a propriedade dos Darwich havia se transformado num colonato agr�cola judaico.
Mahmoud Darwich publicou pela primeira vez aos 19 anos, a partir da�, usando a escrita po�tica como poderosa arma de resist�ncia � ocupa��o ilegal por Israel de territ�rios palestinos. Inequivocamente posicionado, foi o autor da Declara��o de Independ�ncia Palestina proclamada por Yasser Arafat (1929-2004), em 1988. Traduzida em mais de 20 l�nguas, premiada internacionalmente, para al�m dos bel�ssimos poemas, a obra de Mahmud Darwich chega tamb�m em prosa ao Brasil, com a tradu��o de “Mem�ria para o esquecimento”, por Safa Jubran, para a Tabla. O enredo da obra se passa em um �nico dia de 1982, na Beirute bombardeada e invadida, e o autor-narrador descreve o cotidiano de uma popula��o sob o cerco de Israel.
A prosa � concisa, po�tica e poderosa. Mahmoud Darwich descreve a experi�ncia de acordar sob bombardeio: “Tr�s horas. Um amanhecer montado no fogo. Um pesadelo vindo do mar. Galos de metal. Fuma�a. Ferro preparando um banquete para o Ferro-Mestre e uma alvorada que irrompe em todos os sentidos antes de romper. Um rugido me expulsa da cama e me joga neste corredor estreito. Nada quero e nada desejo. N�o consigo ordenar meus membros neste tumulto. N�o h� tempo para a cautela, nem tempo para o tempo. Se eu soubesse...se eu soubesse como organizar o ac�mulo desta morte derramada. Se ao menos eu soubesse como libertar o grito contido num corpo que n�o � mais meu corpo, de tanto esfor�o despendido para se salvar da persegui��o do caos ininterrupto das bombas. ‘Chega’, sussurro apenas para verificar se ainda consigo fazer alguma coisa que me guie e aponte para o abismo aberto em seis dire��es. N�o posso me render a tal destino. E n�o posso resistir a ele. Um ferro late; outro para ele, uiva. A febre do metal � o c�ntico deste amanhecer”.
Arador liban�s
Tamb�m tendo Beirute por cen�rio principal, desta vez, devastada pela guerra civil (1975-1990), a Tabla faz chegar ao Brasil outra obra-prima: “O arador das �guas”, da libanesa Hoda Barakat, nascida em 1952 e uma das vozes mais poderosas da literatura moderna �rabe. O mais recente t�tulo da autora do premiado romance epistolar “Correio noturno” foi traduzido para o portugu�s por Safa Jubran. Sob os destro�os da guerra, a hist�ria que atravessa sete mil anos de sucessivas civiliza��es � urdida por meio do tear da seda e tecidos nobres. Resiste nos por�es da mem�ria coletiva de seu povo. Integra o legado fen�cio, “aradores das �guas”, que, muito antes de Cristo, entregam � humanidade o alfabeto fon�tico e as t�cnicas de navega��o, mas deixando em Biblos, Tiro e Sidon a imortalidade das ru�nas de uma aniquilada era de esplendor.
Perdas, err�ncia, viol�ncia, ex�lio, del�rios, a obra de Barakat evoca a resili�ncia associada � f�nix – p�ssaro mitol�gico que renasce das cinzas, � semelhan�a de Beirute, que, segundo o fio narrado entre as gera��es, teria sido destru�da e reerguida sete vezes. O pano de fundo � a guerra civil que se abate sobre a capital libanesa, varrida, aniquilada pelas bombas. Como aut�nticos personagens, a autora apresenta os top�nimos e ruas do antigo centro, rel�quias milenares, entre elas o “Suq”, onde, ap�s a morte dos pais e a eclos�o do conflito, se passa a maior parte da vida do personagem narrador Nikula Mitri.
Sobrevivente, sem fam�lia – o pai e a m�e j� morreram quando a guerra se inicia –, com a sua casa invadida por refugiados, Nikula busca abrigo na loja de tecidos, heran�a paterna. Embora, assim como o Suq, completamente destru�da em sua parte t�rrea, Nikula descobre que por detr�s das portas seladas do subsolo, permaneceu intacto o precioso estoque de tecidos que um dia trouxeram prosperidade � fam�lia. � assim que a guerra varre as mercadorias baratas e decadentes como o Diolen, odiadas pelo pai, mas no por�o, a ess�ncia � preservada, onde Nikula busca sentido ao caos e novo significado � sua identidade.
O por�o � o cen�rio, em que, impregnada de elementos do realismo m�gico, Nikula, s� e incapaz de precisar o tempo, sob bombardeios, interage em seus del�rios com o pai, a m�e e a sua amada Chamsa, descendente de curdos, pouco importando o fato de tais presen�as serem, h� muito, parte do passado. � mulher, narra as hist�rias da seda e do tear, urdidura que constru�ram cidades, em permanente di�logo com os povos que por ali estiveram antes: fen�cios, ass�rios, babil�nicos, persas, gregos, bizantinos, �rabes, om�adas, ab�ssidas, cruzados, mamelucos e otomanos. Mas h� tamb�m hist�rias dos arm�nios e dos curdos. Em completo isolamento, aos poucos a personalidade de Nikula vai se diluindo e transformando-se em um outro ser: um animal. Um c�o ou um lobo?
(foto: Reprodu��o)
“Onze astros”
• Mahmud Darwich
• Tradu��o de Michel Sleiman
• Tabla Editora.
• 112 p�ginas
• R$ 53,00
(foto: Reprodu��o)
“O arador das �guas”
• Hoda Barakat
• Tradu��o de Safa Jubran
• Tabla Editora
• 240 p�ginas
• R$ 64,00. E-book: R$ 48,00
(foto: Reprodu��o)
“Mem�ria para o esquecimento”
• Mahmud Darwich
• Tradu��o de Safa Jubran
• Tabla Editora
• 214 p�ginas
• R$ 63,00. E-book: R$ 44,00
Safa Jubran (foto: Reprodu��o)
ENTREVISTA Safa Jubran (tradutora de “O arador das �guas” e “Mem�ria para o esquecimento”)
Qual � o principal desafio para a tradu��o do �rabe para o portugu�s?
Fazer a media��o entre dois textos, duas l�nguas, duas culturas sem domesticar nem exotizar.
Que caracter�stica destacaria da cultura libanesa que permeia “O arador das �guas”?
Talvez a rela��o intensa dos habitantes com o lugar, o conv�vio de v�rias culturas sobre o mesmo solo. Muitos s�o os trechos que me impressionaram e me marcaram, destaco os trechos em que o narrador “fala” com a sua amada: “O que voc� faz comigo, Chamsa? Por que com voc� eu aprendo a gra�a das coisas, enquanto comigo voc� aprende a falta dessa gra�a e a agonia de alcan�ar sua plenitude? � porque voc� � mais s�bia do que eu? Ou mais humilde? Ou mais brilhante e menos temerosa dos perigos da perda? O que voc� faz comigo, Chamsa, quando me atormenta? Voc� some. Depois, volta com palavras alegres, ciente de t�-las escolhido por sua leveza e sabendo que elas n�o preenchem o vazio nem diminuem o peso da sua aus�ncia”.
Que caracter�stica destacaria da obra de Mahmud Darwich, “Mem�ria para o esquecimento”, tamb�m traduzida por voc�? H� pontos de contato com “O arador das �guas”?
O ponto de contato mais �bvio � Beirute, um palco dos acontecimentos em ambos os livros. � tamb�m a cidade desconcertante que resiste a todos e a todas as defini��es. N�o d� para falar sobre este livro em poucas palavras, destaco, por�m, a linguagem simb�lica e a intertextualidade empregada neste texto pelo poeta Mahmud Darwich.
Poesia em Gaza
O mais recente lan�amento da Tabla � “Gaza, terra da poesia”, antologia in�dita que re�ne poemas de 17 jovens nascidos em Gaza, na Palestina, entre os quais, Muhammad Taysir, organizador da colet�nea. Publicado em Beirute pela editora Almuassasa Alarabiyya Liddirasat Wannachr, no final de 2021, esta edi��o brasileira � a primeira tradu��o da obra.
Coordenado por Michel Sleiman, professor de L�ngua e Literatura �rabe da USP e por Safa Jubran, o Grupo de tradu��o da Poesia �rabe Contempor�nea (GTPAC) � o coletivo respons�vel pela tradu��o, com a participa��o de alunos e ex-alunos da gradua��o e p�s-gradua��o de L�ngua e Literatura �rabe da USP.
“� um livro de poemas muito raro que, em nossa humilde met�fora, � uma flor milagrosa, aberta vermelha e fresca, em terra dura, livro testemunho da vida palpitante e em curso nas mazelas dos tempos de guerra. Escrito por pessoas que nasceram na realidade do ex�lio na pr�pria terra e que vivem ainda a realidade do cerco, numa estreita faixa de terra disposta entre um mar bloqueado e duas fronteiras hostis”, consideram Sleiman e Safa Jubran.
A arrecada��o com a venda do livro ser� revertida para o Tamer Institute, institui��o n�o governamental, sem fins lucrativos, sediada em Ramallah e que trabalha com literatura e educa��o em todo o territ�rio palestino. O lan�amento da edi��o brasileira ser� neste domingo, no restaurante Al Janiah, em S�o Paulo, em conversa entre a editora Laura Di Pietro e os editores e tradutores Safa Jubran e Michel Sleiman.
Outros lan�amentos da Tabla
DA TURQUIA
(foto: Reprodu��o)
“Uma mulher estranha”
• Leyl� Erbil
• Tradu��o de Marco Syrayama de Pinto
• Tabla Editora
• 224 p�ginas
• R$ 63
A for�a feminina “Uma mulher estranha” � o primeiro romance da escritora e ativista Leyl� Erbil (1931-2013), a primeira escritora turca a ser indicada ao Pr�mio Nobel . Publicado em 1971, dez anos ap�s o golpe militar de 1961, carrega uma poderosa voz feminina que incorpora, em sua escrita, tabus da sociedade turca e questionamentos sobre os pap�is da mulher, da religi�o e o funcionamento do sistema pol�tico. “Quem � essa mulher estranha?”, � a pergunta que ressoa nesse contexto hist�rico repressivo, quando vizinhos se referem � m�e da protagonista, que n�o gerou filhos do sexo masculino. Essa mulher estranha � tamb�m aquela que perde a virgindade com o pr�prio irm�o, e a estudante que se envolve com o partido de esquerda e luta para libertar o povo que ela diz amar. A autora inova no emprego de sinais de pontua��o, como a sequ�ncia de tr�s v�rgulas, recurso hoje conhecido como “garra do le�o”.
(foto: Reprodu��o)
“Istambul Istambul”
• Burhan Sonmez
• Tradu��o de T�nia Ganho
• Tabla Editora
• 320 p�ginas
• R$ 68
Encontros na masmorra Em celas subterr�neas, por dez dias, um m�dico, um barbeiro, um estudante e um velho revolucion�rio, prisioneiros pol�ticos, criam um universo paralelo em que recorda��o e fantasia se mesclam, para sobreviver aos horrores do centro de tortura de Istambul. As biografias se constroem em um mosaico de confiss�es, casos e passagens aned�ticas, que carregam o leitor do tempo subterr�neo ao tempo da vida sobre a cidade. As narrativas se fundem revelando a Istambul de contrastes, da luz e das sombras. Ainda que mergulhado na desumana e dram�tica condi��o das masmorras, Burhan Sonmez n�o perde, em meio a dores e sofrimentos, a perspectiva da compaix�o e do senso de humor, desvendando a protagonista do romance: Istambul. A ela, o autor apresenta em sua obra a declara��o de amor l�cida e despida de ilus�es.
DA L�BIA
(foto: Reprodu��o)
“O tumor”
• Ibrahim Al-Koni
• Tradu��o de Mamede Jarouche
• Tabla Editora
• 192 p�ginas
• R$ 63
A t�nica do escolhido O enredo se constr�i em torno de uma fantasia dist�pica sobre o poder e se desenvolve no seio de uma sociedade des�rtica, de tuaregues, etnia do grupo berbere � qual pertence o autor l�bio Ibrahim Al-Koni, que habita um o�sis. Numa sociedade tradicional, nem �rabe nem mu�ulmana, de personagens com estranhos nomes para os padr�es da l�ngua �rabe, um l�der que ningu�m jamais viu nomeia, por meio de seu mensageiro, um lugar-tenente para represent�-lo. Sem clareza dos crit�rios para a escolha, o ritual de un��o do escolhido utiliza uma t�nica que logo se revela um sutil, mas poderoso instrumento de controle e domina��o. Mais do que uma alegoria sobre o poder, a novela se transcorre numa sociedade primitiva, sob os mesmos dilemas das sociedades modernas.
DO L�BANO
(foto: Reprodu��o)
“Samarcanda”
• Amin Maalouf
• Tradu��o de Mar�lia Scalzo
• Tabla Editora
• 352 p�ginas
• R$ 82
A hist�ria de um manuscrito “Rubaiyat” � o t�tulo atribu�do pelo ingl�s Edward Fitzgerald (1809-1883) para a tradu��o de uma sele��o de poemas do matem�tico, astr�nomo e s�bio persa Omar Khayyam (1048-1131). � em torno da hist�ria do manuscrito original que se passa a narrativa de “Samarcanda”, de sua composi��o no s�culo 11 ao definitivo naufr�gio � bordo do Titanic, em 1912. Acusado de zombar dos c�digos do isl�, Omar Khayyam foi conduzido ao juiz local que, reconhecendo a genialidade do poeta e pensador, poupa-lhe a vida e lhe entrega um caderno em branco para que se limite a escrever versos. Assim nasce o “Rubaiyat”, manuscrito que sobreviveria para a posteridade porque foi escondido por Hassan Sabbah, fundador da Ordem dos Assassinos, na fortaleza montanhosa de Alamut. Traduzido por Fitzgerald no final do s�c. 19, o livro encantou o Ocidente. No in�cio do s�culo 20 um acad�mico estadunidense recupera o manuscrito original com a ajuda de uma princesa persa. Ambos o levam a bordo da �ltima viagem do Titanic. Nesse romance premiado, o autor liban�s Amin Maalouf guia o leitor por s�culos e continentes, em travessia pela Rota da Seda.