(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PENSAR

Christian Dunker: 'O bolsonarismo introduz um estado permanente de guerra'

Psicanalista acredita que o movimento dos apoiadores do atual presidente trabalha com a simplifica��o de um mundo complexo e inst�vel


28/10/2022 04:00 - atualizado 10/11/2022 11:00

Christian Dunker, psicanalista
"Bolsonaro n�o est� acreditando naquilo que diz, mas est� negociando aquilo que diz, para produzir mais e mais efeito de engajamento. Estamos diante de um personagem como aqueles bonecos no posto de gasolina, que � medida que vai passando o vento, v�o ficando de p�. Qualquer coisa pode ser reverberada" , Christian Dunker, psicanalista (foto: Arquivo Pessoal)

Advers�rios pol�ticos s�o tratados como “inimigos”, naturaliza-se a ret�rica da elimina��o. Esse � o aspecto mais grave do bolsonarismo, na avalia��o do psicanalista Christian Dunker, professor titular do Departamento de Psicologia Cl�nica do Instituto de Psicologia da Universidade de S�o Paulo (USP) e autor de v�rias obras. A mais recente � “Lacan e a democracia”. “A nega��o ativa do outro � praxe no bolsonarismo, ou seja, ir para cima do outro para negar a exist�ncia dele, a palavra dele, o ponto de vista dele, porque no fundo, ele � considerado diferente, apontado como a origem do mal. Portanto, h� uma interpreta��o aberta pelo bolsonarismo - e isso � o que h� de pior nele - de que o conflito social vai se resolver pela elimina��o de um dos polos”, afirma Dunker.

Com a emerg�ncia dessa narrativa discursiva, o bolsonarismo introduz um estado permanente de guerra e de produ��o de inimigos internos e externos. � um discurso que explora os medos e inseguran�as de pessoas em crise identit�ria e que est�o enfrentando muitas dificuldades na vida, e que tem grande potencial, do ponto de vista psicol�gico, para apaziguar e orientar a a��o. 

 

“O bolsonarismo funciona como uma esp�cie de anestesia, ao mesmo tempo que de organiza��o ps�quica, para sujeitos em crise, sujeitos em divis�o subjetiva, em incerteza, em desalento. Ent�o a pessoa engancha nesse discurso, recebe um incremento de coragem e de pacifica��o, que esse discurso lhe d� como novo ponto de identifica��o”, afirma Dunker. “Tem um inimigo, que � o comunismo, s�o as esquerdas, tem algo a destruir que � o estado, que est� atrapalhando a sua vida, � muito imposto, muita regra, ent�o vamos nos reunir pelo �dio para destruir isso e fazer uma democracia customizada, para quem pode pagar e para todos aqueles que ser�o vencedores desse estado de guerra”, acrescenta, em entrevista ao Estado de Minas. Ele lembra que, ao ser introduzida, a teoria conspirat�ria simplifica, joga para o outro o conflito que est� em si e permite que a pessoa se ligue a uma comunidade de destino pelo �dio e pela guerra.


A psican�lise explica como, pessoas que s�o alvo preferencial da viol�ncia do sistema - pobres, negros, mulheres, homossexuais - se veem, �s vezes, cooptados pela narrativa bolsonarista. “A pessoa sofre com o sistema, apanha do sistema e at� certo ponto, qual � a resposta mais simples e equivocada? Mudar para o outro polo do sistema. Ou seja, a ideia de que ‘sou negro, mulher, sou vulner�vel e preciso transformar o sistema’ � substitu�da pela ideia: ‘Vamos manter esse mesmo sistema, s� que eu vou mudar de lado’. E � isso o que Bolsonaro promete”, considera Dunker. A seguir, a entrevista exclusiva com o psicanalista. 

 

O senhor lan�ou recentemente o livro “Lacan e a democracia” (Boitempo). Em que momento a psican�lise aprofundou a interface com a pol�tica no Brasil? 

H� uma percep��o crescente, que a gente enfrenta com os nossos pacientes, de que os seus sofrimentos, os seus sintomas, t�m liga��o com as formas de vida, s�o decorr�ncia do mundo que nossos pacientes e n�s mesmos habitamos. Isso nos leva a ter interven��es cada vez mais agudas e diretas sobre pr�ticas que reputamos como indutoras de sofrimento. Pr�ticas como a segrega��o racial; as situa��es conflitivas de g�nero, de transforma��o do lugar social da mulher e a opress�o de g�nero; o bullying nas escolas, essas coisas afetam completa e diretamente o que fazemos. A entrada da psican�lise na pol�tica � diretamente proporcional � muta��o na pol�tica brasileira e da emerg�ncia de formas de viol�ncia, da ascens�o do bolsonarismo. E isso n�o � completamente novo. Podemos perguntar: quando (Sigmund) Freud se volta para a pol�tica? Quando a �ustria � invadida pelos nazistas. Quando (Jacques) Lacan fala sobre a pol�tica? Em maio de 1968 e ap�s a Segunda Guerra Mundial. Momentos de autoritarismo, em que o espa�o pol�tico se reduz, se comprime, a democracia est� em risco, s�o momentos em que a psican�lise se v� comprimida, obrigada a ir para as ruas, tomar posi��es, se manifestar em rela��o �s pr�ticas de sa�de, a fazer cr�ticas de certos discursos pol�ticos, a defender a palavra. H� uma afinidade entre a psican�lise e outras tantas pr�ticas que est�o amea�adas, que t�m a ver com o cuidado da palavra. Todos aqueles que t�m por of�cio, por dever ou por �tica cuidar do debate, cuidar da conversa, seja a conversa cultural, da sa�de, da pol�tica, conversa social, se sentem agora amea�ados. Porque � pr�prio do autoritarismo fazer isso. Por isso, dentro do universo pol�tico, � fundamental demonstrar o compromisso da psican�lise com a democracia, forma de governo definida pelo uso da palavra em espa�o p�blico. A democracia seria imposs�vel sem essa confian�a na palavra como pacto e revela��o, como partilha e reconhecimento do car�ter humano das leis. Olhando para textos e o desenvolvimento de v�rios conceitos de Lacan, pude argumentar que h� afinidade muito grande entre a psican�lise e a democracia, ambas s�o pr�ticas muito ligadas ao uso da palavra em contexto p�blico, para substituir a viol�ncia, como lugar de media��o entre as pessoas e encaminhamento de seus desejos e ideais. 

 

Sob a perspectiva psicanal�tica, qual � o perfil de Bolsonaro?

Mais do que a pessoa, acho que o que temos de enfrentar � o discurso bolsonarista. E temos de fazer a an�lise psicanal�tica desse discurso, pois � isso o que leva algu�m entrar no anivers�rio de outra pessoa, puxar o rev�lver, atirar e dizer: “Aqui � Bolsonaro”. O discurso n�o � s� o que a pessoa fala, mas aquilo que a pessoa faz o outro fazer. Ent�o a pessoa engancha nesse discurso, recebe um incremento de coragem e de pacifica��o, que esse discurso lhe d� como ponto de identifica��o. Esse discurso precisa de uma esp�cie de l�der encarnado. Ou como diria Adorno, o Bolsonaro � o pequeno grande homem, aquela pessoa sem qualidades, sem grande educa��o, sem muitas virtudes pessoais, que encarna um discurso. 

 

Como uma lideran�a como Bolsonaro consegue se manter pela ambiguidade?

Para cumprir em seu discurso essa fun��o, � uma pessoa que tem de ser meio vazia. Assim pode se reorientar de forma mais flex�vel para aquilo que est� produzindo mais engajamento. Essa realidade de dizer uma coisa, depois dizer outra, � pr�pria de um funcionamento cuja base � o cinismo. Bolsonaro n�o est� acreditando naquilo que diz, mas est� negociando aquilo que diz, para produzir mais e mais efeito de engajamento. Estamos diante de um personagem como aqueles bonecos no posto de gasolina, que � medida em que vai passando o vento, v�o ficando de p�. � caracter�stica fundamental, estrutural, de tal forma que por ele pode passar qualquer coisa, de Roberto Jefferson a Padre Kelmon. Qualquer coisa pode ser reverberada. 

 

Como se processa essa identifica��o e culto de pessoas � ideia do “mito”?

No contexto do neoliberalismo e do hiperindividualismo, dos processos de mobilidade social que trazem mais inseguran�a e agressividade nas rela��es sociais, o que � promovido e intensificado em comunidades digitais paralelas, h� o elemento, que catalisa todas essas for�as em torno dessa figura, um l�der, que se torna popular, explorando as inseguran�as, medos das pessoas em crise identit�ria, dizendo-lhes o que elas est�o querendo ouvir: “Tem um inimigo, que � o comunismo, s�o as esquerdas, tem algo a destruir que � o estado, que est� atrapalhando a sua vida, � muito imposto, muita regra, ent�o vamos nos reunir pelo �dio para destruir isso e fazer uma democracia customizada, para quem pode pagar e para todos aqueles que ser�o vencedores desse estado de guerra”. Ent�o � um discurso que introduz um estado permanente de guerra, um estado permanente de quem ser� nosso pr�ximo inimigo, tanto externo quanto interno. E o discurso do “inimigo” � muito poderoso do ponto de vista psicol�gico, porque orienta nossas vidas especialmente quando estamos em dificuldade, em inseguran�a identit�ria: “Olha, est�o dizendo que eu homem, branco, pode ser que saia de validade daqui a pouco, vai acontecer alguma coisa que vai me amea�ar, amea�ar a minha esposa, meus filhos”. E ao tentar se contrapor a esse discurso, a esquerda n�o consegue dizer muita coisa para esse personagem que se sente amea�ado. Ent�o chega algu�m e diz: “Vou devolver o lugar que os outros est�o tirando de voc�”. Isso � extremamente tentador. A simplifica��o cria coer�ncia. Temos um mundo complexo, em transi��o, inst�vel e amea�ador do ponto de vista identit�rio. Quando voc� introduz uma teoria conspirat�ria, ela simplifica, ela joga para o outro o conflito que est� em voc�, ela faz voc� se ligar a uma comunidade de destino pelo �dio e pela guerra. Ao mesmo tempo ela lhe pacifica. Tem uma regress�o, um jeito de funcionar muito mais simples e por isso apaziguador. Ent�o voc� tem a� todos os elementos para entender o bolsonarismo como uma esp�cie de anestesia e organiza��o ps�quica para sujeitos em crise, sujeitos em divis�o subjetiva, em incerteza, em desalento.


Bolsonaro se vende como uma pessoa que seria “aut�ntica”, inclusive em comportamentos e discursos que naturalizam o deboche do sofrimento alheio. Como a psican�lise aborda essa quest�o? 

Estamos diante de um personagem que faz transgress�es do tipo homenagear um torturador, imitar algu�m com falta de ar morrendo de COVID, transgress�es em que aparece a dissolu��o da separa��o entre o p�blico e o privado. A mensagem que ele quer passar �: “Eu n�o sou uma pessoa para fora e outra para dentro, sou uma pessoa aut�ntica, aut�ntica como voc�”. Ent�o com esse discurso, ele promove o que a gente chama de arcar com a verdade mentirosa. Por um lado, est� dizendo a verdade, porque realmente n�o temos essa segmenta��o interna pronta, entre p�blico e privado. A gente � uma coisa s�. Porque o que fazemos quando a gente se divide entre p�blico e privado � tamb�m se educar, se civilizar, levar em conta a etiqueta, a �tica, a moral, os bons costumes, etc. Ent�o ele apresenta aquele discurso que precisa ser sexualizado - a� j� tivemos o “golden shower”, o “imbroch�vel”, “n�o te estupro porque voc� n�o merece”, incitando em cada um de n�s aquilo que � menos controlado, a nossa sexualidade. Bolsonaro faz isso de uma maneira a incitar o que h� de pior em cada um de n�s. Em seguida, o que ele faz? Ele prop�e a transforma��o dessa sexualidade, que est� lhe espica�ando por dentro, gerando inseguran�a pela falta de controle, em �dio, em viol�ncia e em crueldade contra o outro. Assim a gente se reprime atrav�s do outro: da� se justifica bater nos homossexuais, bater nos “sujos”, nos “pobres”, vai bater nesses que n�o s�o como n�s. E enquanto fazemos isso estamos nos reprimindo, ao mesmo tempo em que a gente sente que est� em gozo.


Ao longo do governo Bolsonaro, aprofundou-se o abismo entre dois Brasis, que n�o conseguem dialogar mais. Por que as palavras perderam a capacidade de emprestar sentido �s coisas e de descrever fatos?

� pr�prio de toda contrarrevolu��o, e o bolsonarismo � uma contrarrevolu��o, tomar palavras e termos que eram usados e, ao se reapropriar deles, inverter o seu sentido, impondo-o como novo discurso. Isso � claro, patente, e repetido na hist�ria dos autoritarismos. O livro “A linguagem do Terceiro Reich”, de Victor Klemperer, mostra como a ascens�o do nazismo correspondeu � ascens�o de um l�xico. As palavras comuns passaram a significar outras coisas. O que voc� est� dizendo � que no fundo elas n�o significam mais o que significavam para todos n�s. N�o s�o mais significantes em disputa, como dir�amos no universo lacaniano. Mas foram apropriados por determinado grupo, que olha para o outro n�o mais tentando disputar a palavra, mas tentando eliminar o oposto. Ou seja, n�o temos mais advers�rios, mas inimigos. Isso � o que h� de pior no bolsonarismo, a emerg�ncia de uma ret�rica da elimina��o. � o que vivemos de forma acintosa no Brasil, o chamado negacionismo. Quando a realidade � dura demais para que eu possa assimilar com os meus esquemas, eu a nego. Eu posso neg�-la passivamente, pois estou no fundo resistindo ao outro, ao que o outro est� me dizendo. E eu posso tamb�m, est� acontecendo no bolsonarismo, negar ativamente, ou seja, ir para cima do outro para negar a exist�ncia dele, a palavra dele, o ponto de vista dele, porque no fundo, o outro � apontado como a origem do mal. Portanto, h� uma interpreta��o aberta de que o conflito social vai se resolver pela elimina��o de um dos polos. E com isso, o bolsonarismo consegue dar carne lingu�stica e discursiva para um processo infelizmente, muito antigo no Brasil, e que podemos chamar de nossa vers�o pr�pria da necropol�tica, deixar morrer, n�o dar assist�ncia, permitir desamparo continuado de vulner�veis por muito tempo. O que o bolsonarismo faz � dizer: “Vamos assumir isso explicitamente e acelerar esse processo”. Ele ganha for�a por que de certa forma � um processo que estava latente no Brasil. Vamos lembrar que n�o fizemos o nosso ajuste hist�rico de contas com a ditadura militar, fomos o �ltimo pa�s a ter uma comiss�o da verdade. N�o acertamos as contas com a escravid�o. Vamos lembrar, tivemos poucos per�odos de democracia real ao longo do �ltimo s�culo. E como a gente conta essa hist�ria? De uma forma muito prec�ria. Nossas escolas ainda n�o conseguem chegar nos anos 70, 80 em termos de historiografia. Ent�o temos uma popula��o muito vulner�vel a essa manipula��o.  

Em recente pesquisa realizada pelo Datafolha, aferiu-se um apoio de 75% da popula��o � ideia da democracia. Como democracia sup�e a conviv�ncia entre advers�rios - n�o a elimina��o do outro polo - em sua avalia��o, o sentido de “democracia” foi tamb�m invertido pelo bolsonarismo?

Uma das poucas coisas que o bolsonarismo n�o consegue dizer � de que seja contr�rio � democracia. Ele diz que � contra os privilegiados, contra o estado, � uma forma de governo contra pol�ticas p�blicas, consegue se autonomizar ao que chamamos de democracia em muitos aspectos. Mas ele n�o consegue assumir que ele encarna uma proposta n�o democr�tica. O bolsonarista responde que � democr�tico quando o outro faz essa pergunta para ele. Mas ele n�o sai por a� defendendo a democracia, se dizendo democr�tico. � o uso reativo, um sentimento fraco no lado bolsonarista, um sentimento que hoje no Brasil ainda � organizador da resist�ncia. N�o � por outro motivo que os grandes eventos que a esquerda conseguiu promover mobilizaram tantas for�as em defesa da democracia, como a leitura da Carta Democr�tica aos Brasileiros. Dessa froma, democracia � um dos poucos termos que n�o foi parasitado pelo bolsonarismo. O “verde amarelo” foi, a palavra “liberdade” foi, a “na��o” foi, a “seguran�a” foi, v�rios outros foram incorporados a essa linguagem, a essa nova forma de usar a linguagem. Mas a democracia n�o. Por isso � uma palavra que ainda tem um valor de resist�ncia para o nosso momento, porque de certa forma, proteg�-la autoriza o funcionamento limite de algumas institui��es, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

 

Como a psican�lise explica o fato de uma mulher, v�tima do discurso de g�nero, um negro, v�tima de racismo estrutural, o homossexual, todos alvos desse discurso da viol�ncia, podem apoiar Bolsonaro?

Isso n�o � t�o dif�cil, infelizmente. Paulo Freire dizia se a educa��o n�o � libertadora, voc� quer se transformar no opressor. Ou antes do Paulo Freire, h� a identifica��o com o agressor. A pessoa sofre com o sistema, apanha do sistema e at� certo ponto, qual � a resposta mais simples e equivocada? Mudar para o outro polo do sistema. Ou seja, a ideia de que “sou negro, mulher, sou vulner�vel e preciso transformar o sistema” � substitu�da pela ideia: “Vamos manter esse mesmo sistema, s� que eu vou mudar de lado”. E � isso o que Bolsonaro promete. O que est� acontecendo? Uma esp�cie de crise gen�rica em rela��o �s identidades, para o bem e o para o mal, inclusive as religiosas, o que est� na origem da ascens�o do neopentecostalismo. O que acontece quando voc� produz um sistema de reimplanta��o de identidades? Voc� n�o � mais negro, voc� � bolsonarista. Voc� n�o � mais pobre, voc� � bolsonarista. Voc� substitui essas identidades por uma identidade mais forte e violenta. Mais poderosa. A gente olha para a pessoa e diz: “mas voc� continua sendo negro, voc� continua sendo homossexual, voc� continua sendo mulher”. E a pessoa diz: “Agora estou salvo em Cristo. J� passei desse estrato de minha identidade, cheguei a uma identidade superior, em que estou mais pr�ximo da minha ess�ncia”. Qual � a ess�ncia? Crueldade, brutalidade, opress�o. 

 

O que pode ser feito para se recuperar, no Brasil, uma base de di�logo e de intera��o com a realidade f�tica?

H� um movimento popular que agrega cerca de 51 milh�es de pessoas e vai demorar tempo para ser revertido. O que precisamos � desbolsonaralizar. E esse � um processo longo, que vai exigir a intera��o de muitos saberes para que seja poss�vel a retomada da palavra. As universidades criaram muros, deixaram de falar com as pessoas, deixaram de ter interveni�ncia no cotidiano pol�tico, se voltaram para uma esp�cie de profissionaliza��o das p�s-gradua��es, pesquisas. Isso levou � cria��o de um efeito: somos percebidos como arrogantes, como aqueles que sabem tudo, enquanto o saber do outro n�o valeria nada. Esse sentimento de ser menosprezado aglutinou uma rea��o que diz assim: “Tudo o que vem do lado de l� � mentiroso, porque as pessoas s�o mal-intencionadas”. Voc� desqualifica a fonte, � o que a pessoa �, n�o o que ela est� falando. Isso vai abrindo espa�o para uma experi�ncia de espa�o p�blico paralelo. Jornais paralelos, m�dia paralela, tudo tem outra linguagem, outra vers�o. Todos os fatos podem ser distorcidos. Ent�o, � preciso uma colabora��o entre �reas de conhecimento que estavam um pouco desconexas para enfrentar esse fen�meno.

 

Quem � Christian Dunker

Christian Dunker � psicanalista e professor titular do Departamento de Psicologia Cl�nica do Instituto de Psicologia da Universidade de S�o Paulo (USP). Doutor em psicologia experimental pela USB, obteve o t�tulo de livre-docente em psicologia cl�nica em 2006, ap�s realizar p�s-doutorado na Manchester Metropolitan University. Coordena, ao lado de Vladimir Safatle e Nelson da Silva Jr. o Laborat�rio de Teoria Social, Filosofia e Psican�lise da USP. Autor de v�rios livros, recebeu dois pr�mios Jabuti em psicologia e psican�lise, um deles com “Mal-estar, sofrimento e sintoma: A psicopatologia do Brasil entre muros” (Boitempo, 2015).

 

Obras do psicanalista

 

“Lacan e a democracia”

De Christian Dunker

Boitempo Editora

310 p�ginas

R$ 68

 

 “Mal-estar, sofrimento e sintoma, uma psicopatologia do Brasil entre muros”

De Christian Dunker

Boitempo Editora

416 p�ginas

R$ 92

 

“O c�lculo neur�tico do gozo”

De Christian Dunker

Escuta Editora

232 p�ginas

R$ 76,55 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)