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Estado de Minas PENSAR

Revista da Academia Mineira de Letras re�ne poesia contempor�nea do estado

Volume inclui dossi�, organizado por Ana Elisa Ribeiro e Rog�rio Faria Tavares, que traz an�lises e exemplos de variadas vozes mineiras


19/05/2023 04:00 - atualizado 18/05/2023 23:30
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Ana Elisa Ribeiro
Especial para o EM
 
N�o � preciso grande esfor�o para encontrar a poesia. Em Minas Gerais, ela � amplamente cultivada, em suas muitas formas, por uma profus�o de poetas que se espalham pelo estado, em todas as dire��es, noite e dia, centro e periferia, com timbres not�veis, variadas melodias, alturas e intensidades. No novo dossi� da “Revista da Academia Mineira de Letras”, que organizei junto com Rog�rio Faria Tavares, presidente da institui��o, foram reunidos 11 textos, que tratam, afinal, de 14 poetas, em sua diversidade, apresentados por estudiosos da poesia, em certa medida eles mesmos poetas. Obviamente, este � um conjunto pequeno dentro de um universo muito maior e sempre em expans�o.

Entre as mulheres que escrevem e publicam poesia em Minas Gerais, mas que tamb�m andam pelo mundo, est�o Bruna Kalil Othero, com sua voz cr�tica e de alta voltagem feminista, apresentada pela professora Maria do Ros�rio Alves Pereira, estudiosa das escritoras brasileiras. Noutra ponta do s�culo est� Lina T�mega Peixoto, poeta de Cataguases que viveu e faleceu em Bras�lia, editora da revista “Meia-Pataca” nos anos 1940, apresentada aqui por Angela Laguardia, que tem trabalhado sobre Lina h� alguns anos. N�vea Sabino, slammer premiada e reconhecida dentro e fora de Minas Gerais, tem sua obra — em verso, letra e voz — apresentada pela professora Paula Renata Melo Moreira, pesquisadora interessada nas quest�es da literatura e da interseccionalidade. Contamos ainda com a escritora Simone Andrade Neves e sua eleg�ncia po�tica, apresentada pela professora Andr�a Soares Santos; Fl�via de Queiroz, com sua obra meticulosa e mel�dica, pelo professor Ant�nio S�rgio Bueno; e Yone Gianetti, poeta da poesia-pr�xis, por Cl�vis Salgado Gontijo de Oliveira.

Outras poetas s�o comentadas no texto do professor Rog�rio Barbosa da Silva: Luciana Tonelli e Ana Caetano, que fazem parte de uma gera��o que tamb�m editou e espalhou a poesia de maneira coletiva, colaborando, por exemplo, com outros poetas aqui presentes, como Camilo Lara e Adriano Menezes, ambos falecidos precocemente. Na mesma �poca, e reconhecido por sua atividade m�ltipla e radial, est� Marcelo Dolabela, aqui apresentado pelo professor Kaio Carmona. 


Impresso e digital

Pensando a poesia em materialidades diversas, em especial nas mais anal�gicas, est� o poeta Wagner Moreira, apresentado pelo pesquisador, designer e tip�grafo M�rio Vin�cius Ribeiro Gon�alves. Para finalizar esta lista est�o Renato Negr�o, poeta e performer mineiro, apresentado pela pesquisadora Fabiane Rodrigues, e �lvaro Andrade Garcia, poeta do impresso e do digital, no ensaio da pesquisadora Andr�ia Oliveira.

Outros tantos dossi�s j� sa�ram e puderam mostrar uma cena poss�vel da poesia contempor�nea, com outros nomes e variadas vozes de nosso estado. As pessoas est�o em movimento, e a poesia costuma ir adiante, levando nossas possibilidades aos quatro cantos do planeta. Os crit�rios de escolha est�o em rede: a visibilidade da produ��o, sem deixar de atentar para os segmentos, as formas de publica��o, as materialidades, as vozes, t�o singulares, mesmo quando fazem parte de coletivos editoriais. Est�o em jogo o ativismo po�tico, a chamada ao fazer conjunto, a peculiaridade tem�tica e/ou formal. Correndo todos os riscos, apresentamos um dossi� poss�vel, com suas lacunas e aus�ncias. H� aqui intermit�ncias, vaiv�ns, promessas a cumprir, d�vidas, anseios, apostas. 
 

Revista da Academia Mineira de Letras 

  • N�mero 82
  • Lan�amento em 25/05, �s 20h, na sede da Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1466, Centro, Belo Horizonte) Vers�o digital integral gr�tis no site a partir do dia 26/05 
 
 

�LVARO ANDRADE GARCIA



Poesia fractal

uns partem outros nunca
ao limite do infinito
a franja de pontos
o senso das fronteiras
o inexato encosto
entorno de ordem e caos
dois mares que se atracam
nunca e sempre vazantes
uns partem outros nunca
ao topo das l�gicas
o absurdo entrevisto
o certo que n�o se palpa
com o entendimento
mas que se v� com olhos
que d�o n�meros ao infinito
(GARCIA, 1994, p. 3)
 
 

BRUNA KALIL OTHERO


a v� de uma amiga se casou com 12 anos.
teve o primeiro filho com 14, e n�o parou nunca mais.
(de ter filhos.)
era analfabeta. n�o sabia ler nem escrever,
assinava com a digital do ded�o.
dizia que n�o se pode lavar o cabelo
durante a menstrua��o.
apanhava flores no jardim. tamb�m apanhava
do marido.
nasceu em 1933. um ano antes,
as mulheres haviam conseguido o voto. um ano depois,
graciliano ramos publicava s�o bernardo.
o nome dela era
odete.
fora deste poema que ningu�m vai ler,
sua hist�ria
nunca ser� contada.

porque � s� mais uma odete
entre tantas
outras.
 
 

CAMILO LARA


mais poeta e editor
menos dubl� de produtor
prevejo sua trilha
pelas ruas do lugar
m�os acompanham o tra�ado
do pr�ximo n�mero:
fui ali, volto j�!
(LARA, 2017, p. 93)
 
 

MARCELO DOLABELA



Maletta revisited #

eu estou: nas maravilhas do mundo
no Coliseu da cidade
no naufr�gio dos poetas
ouvindo Scheherazade
e o zumzum da matilha do mundo
da Muralha da China, o barulho,
a baunilha dos vagabundos
�nica gera��o que ouve
a triste balada dos mouros
o transplante das d�cadas
a arc�dia sem f� e sem ouro.
(DOLABELA, 2006, p. 39)
 
 

SIMONE DE ANDRADE NEVES



Nome ao boi

A marcha � limitada; �.
N�o se marcha para sempre
sempre se marcha
mas n�o se marcha
para sempre.
A marcha � limitada
limitada pelo ato
ato de marchar
N�o o destino
o para onde da marcha
mas a marcha � limitada
at� o destino.
Ap�s
novo marchar
N�o o destino
Mas o ato
Marchar
at� o destino.
E de l� marchar.
(NEVES, 2020, p. 20)
 
 

N�VEA SABINO



O homem branco
Junto a seu bando
Admirado ao avistar
Congonhas de Sabar�


Fez sua
Toda a riqueza
Que a natureza
Escolheu nos dar


Filhos de Nova Lima
A observar


O ciclo do ouro
Que se esvai
E nada fica
Pra gente contar


Extra��o de sa�de
Gera��es marcadas
Vidas minadas


De pulm�es cheios
Falta f�lego no peito
Pra conseguir gritar


Filhos de Nova Lima
A observar
 
 

LUCIANA TONELLI


no come�o perdia alguns minutos
depois passou a perder a hora
e todos os dias perdia as chaves
a carteira, a sombrinha, a passagem

n�o deu tempo ainda

perdia ent�o completamente a calma
o olhar, o gesto, a gra�a
a presen�a, a possibilidade
tudo em algum tempo l� atr�s

n�o deu tempo ainda

n�o se sabe quando nem onde ou por qu�
suspeita-se que tenha sido aquele dia
em que perdeu o trem e ganhou
algo imenso para ser digerido

n�o deu tempo ainda

chegou ent�o o tempo de assumir:
perdeu-se
mas n�o deu tempo ainda
 
 

IONE GIANNETTI FONSECA



Est�tua nº 1

Incons�til
Promessa
De lua:
Sou tua.


Intang�vel
Moeda
Futura:
Ser tua.


Inconteste
Neblina
Do�ura:
Fui tua.
 
 
 Fl�via de Queiroz Lima


TRANSFIGURA��O PELO AFETO


� Dra. Nise da Silveira
Ser� que a loucura existe
num territ�rio – exilada -
ou somente empresta o nome
� ang�stia encarcerada
na mente onde arde em chaga?

Ser� que esconde, amorda�a
seu rugido submerso
nos confins do sofrimento?
Mora no estreito e rec�ndito
- um po�o sem fundo e borda?

Ser� que transp�e o v�cuo
quando a magia das cores
rompe o enigma, ganha tra�os,
trazendo � tona os fantasmas
agora em tela espelhados?

No sil�ncio pelo avesso
o desejo, estrangulado,
derramado, exp�e as v�sceras
- um rastro denso entre o on�rico
e personagens esqu�lidos.

Quase se escuta o gemido
que trasborda das imagens
desassombrando o escuro,
emergindo como n�ufrago
do degredo onde vagava.

O tormento se amainando
quando jorra, extravasa,
na geometria sem r�gua
esbo�a romper os la�os
e usa tinta como asas...

Figuras surpreendentes
surgem pousadas nos quadros.
Devassando labirintos,
a inquietude ali se exprime,
nos perfura como um dardo.

Transp�e muros, atravessa,
e o rascunho se revela,
brota o inimagin�vel:
cada pincel tange o afeto
- essa chave que abre espa�os.
 
 

LINA T�MEGA PEIXOTO
N�O � PEDRA A MEM�RIA


Escrevo debru�ada na mesa
como se alinhavasse
o espa�o
aos atavios do ermo.
Preciso alvorecer o esquecimento
empilhado na estante como um livro
em que se vai lendo lenta
a flora da alma imagin�ria.


Enquanto vou tangendo de d�divas
as vozes
e ser o sil�ncio um horr�vel
escarc�u recomposto
a palavra cai na �gua do copo
j� n�o � pedra a mem�ria.



 


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