
“Por que ler os ‘Tristia’, do poeta Ov�dio? Primeiramente, porque com este livrinho ir�s a Roma, partindo do Ponto Euxino; porque, com esta obra, conhecer�s a alma sens�vel de um poeta exilado que esculpiu seu pr�prio epit�fio, partindo da revis�o de seu monumento liter�rio. Depois, porque navegar�s por um texto com m�ltiplos estratos, que vai da superficial narrativa de ex�lio at� as profundezas de um instrutivo manual de significado metapo�tico. Embora �midos das l�grimas de um exilado, os ‘Tristia’ n�o levam ao choro, mas ao bom humor de um poeta que descreve seu desterro com fina ironia e com a costumada mordacidade it�lica, um toque real�stico-cruel que permeia a literatura latina.
A competente autora da tradu��o, J�lia Avellar, captou bem o convite do poeta de n�o o deixar no esquecimento e traz�-lo vivo, ainda que n�o salvo de seus intrigantes e inesquec�veis crimes. Mas como se pode captar tudo o que est� registrado pelas penas de um perform�tico poeta, que escreveu no latim do s�culo I de nossa era? � pela tradu��o verso a verso que J�lia conduz o leitor pelas linhas do poema, buscando deixar �ntegro o sentido textual, seja preservando as figuras de linguagem e o esp�rito po�tico das express�es seja aliterando as constru��es portuguesas em busca de uma musicalidade original quase imposs�vel de se alcan�ar. A tradutora conduz, com maestria, a “barca” dos Tristia, carregada de narrativas m�ticas e de refer�ncias contempor�neas da Roma Augustana, e a faz deslizar – manejada pelo estilo ovidiano – por um mar �s vezes calmo, �s vezes tempestuoso da sintaxe latina.”
Heloisa Penna, da Faculdade de Letras da UFMG, na apresenta��o da edi��o bil�ngue de “Tristia/Tristezas”, de Ov�dio, com tradu��o, introdu��o e notas de J�lia Batista Castilho de Avellar. O lan�amento � da editora mineira Relic�rio, que tamb�m editou “Uma teoria ovidiana da literatura: os Tristia como epit�fio de um poeta-leitor”, de J�lia Avellar. Os dois livros ser�o lan�ados pela autora em BH neste s�bado, �s 14h, na Livraria Quixote (Fernandes Tourinho, 247).