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Estado de Minas FORMAS DE HABITAR O MUNDO

Livros discutem viv�ncia urbana em reflex�es de arquitetos e artistas

Tr�s livros da Editora UFMG ser�o lan�ados neste s�bado (30/9) na Quixote Livraria e Caf�


30/09/2023 04:00 - atualizado 29/09/2023 21:50
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Genealogia da cidade, de Carlos Antônio Leite Brandão, Desvios da arquitetura: imagem e cultura contemporânea, organizado por Junia Cambraia Mortimer e Eduardo Augusto Costa, e Paisagem como modo de entender o mundo, de Laura Beatriz Lage.
Lan�amento dos livros Genealogia da cidade, de Carlos Ant�nio Leite Brand�o, Desvios da arquitetura: imagem e cultura contempor�nea, organizado por Junia Cambraia Mortimer e Eduardo Augusto Costa, e Paisagem como modo de entender o mundo, de Laura Beatriz Lage. (foto: Editora UFMG/Divulga��o)

 

Belo Horizonte nasceu, ap�s acaloradas discuss�es, na prancheta dos engenheiros, e, ao longo dos quase 126 anos de sua hist�ria, s�o muitos os profissionais que se dedicam a pesquisas sobre a metr�pole, ainda mais por ser a primeira cidade planejada, no pa�s, para se tornar capital, no per�odo republicano. A arquitetura, com seus v�rios estilos, em contraste com a Serra do Curral, s�mbolo local, tem lugar garantido nos estudos, e, entrela�ada com o urbanismo, as mem�rias, a filosofia, a cultura e a paisagem, em universo amplo, conduz BH �s p�ginas de tr�s livros que ser�o lan�ados neste s�bado (30), na Quixote Livraria e Caf�. 

Em publica��o da Editora UFMG, da Universidade Federal de Minas Gerais, chegam aos leitores “Genealogia da cidade”, de Carlos Ant�nio Leite Brand�o, “Desvios da arquitetura: imagem e cultura contempor�- nea”, organizado por Junia Cambraia Mortimer e Eduardo Augusto Costa, e “Paisagem como modo de entender o mundo”, de Laura Beatriz Lage. Os autores contam hist�rias, trazem ideias, mergulham em experi�ncias pessoais e coletivas para emergir com reflex�es e apontar caminhos – valiosos, por sinal, a toda a sociedade, aos gestores, ao leitor de todas as cidades e pessoas que admiram o conhecimento. 

“Genealogia da cidade” cativa logo de cara – tanto pelo conte�do como pela bonita capa da obra de Carlos Ant�nio Leite Brand�o, arquiteto, doutor em filosofia e professor titular da Escola de Arquitetura da UFMG. O desenho em bico de pena, feito por Cl�udio Parreiras Reis, enche os olhos, com os pr�dios, vias p�blicas e monumentos de BH abra�ados ao Sul, pelas montanhas, e ao Norte, pela Lagoa da Pampulha. 

Em seu livro, Carlos Ant�nio escreve sobre a “cidade”, nos seus aspectos filos�ficos, hist�ricos, culturais, arquitet�nicos e urbanos, come�ando por Jeric�, a primeira aglomera��o conhecida, que est� completando 100 s�culos. Ao considerar a “cidade”como a maior inven��o da humanidade, ele, no entanto, demonstra preocupa��o. “A concep��o de cidade pode estar sendo ‘desinventada’”. E por qu�? “Pode ser que a barb�rie soft e hi-tech, que se propaga no in�cio do s�culo 21, requer uma nova maneira de estarmos juntos com outros seres humanos e com o universo que nos cerca”. Essa � a principal raz�o da pesquisa: “lan�ar um olhar transdisciplinar e transtemporal para o tema da p�lis. Uma avalia��o daquilo que constitui a cidade e do que podemos estar abrindo m�o”. 

Na conversa com o rep�rter, o autor ressalta que “a cidade nos liberta”, favorece para que a pessoa seja o que quer ser, abre possibilidades em todos os sentidos. “E permite que a pessoa descortine, vislumbrar novos horizontes, v�rias potencialidades, despertando o que est� latente em n�s.”Mineiro de S�o Jo�o Nepomuceno, na Zona da Mata, o arquiteto chegou a BH aos 10 anos de idade: “Meu pai nos trouxe do interior para a capital, e foi aqui que estudei, me formei, fiz amigos, enfim, os horizontes se abriram”, afirma.

Reflex�es 

J� a obra “Desvios da arquitetura: imagem e cultura contempor�nea” re�ne estudos e reflex�es de professores universit�rios e de artistas visuais de cinco unidades da federa��o: Minas, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro e S�o Paulo. Conforme os organizadores, “o livro-pesquisa apresenta um debate sobre a apreens�o do que v�m a ser a arquitetura e suas pr�ticas, demonstrando que a imagem e a visualidade ganharam patamar estrutural para as pr�ticas contempor�neas”. 

Por sua vez, “Paisagem como modo de entender o mundo”, da arquiteta e urbanista Laura Beatriz Lage, aborda, por meio da experi�ncia est�tica e sens�vel do ambiente, as possibilidades de (re)integra��o entre o homem e seu meio a partir da experi�ncia de paisagem. A autora, mineira de Jaboticatubas, na Grande BH, e criada na capital, aborda discuss�es referentes �s mudan�as nas paisagens sem rela��o com o preexistente, com perdas de qualidades ambientais e est�ticas, e metodologias de an�lise de gest�o territorial com enfoque paisag�stico

Trechos dos Livros

“Genealogia da cidade”, de Carlos Ant�nio Leite Brand�o 


“Na cidade brasileira de onde eu vim, Belo Horizonte, os edif�cios e os lugares n�o permanecem muito tempo. Eles carecem de ‘dur�e’. Mesmo exemplares significativos de sua hist�ria s�o destru�dos, deteriorados ou completamente descaracterizados devido, entre outras coisas, � press�o dos fluxos e da especula��o imobili�ria e � provisoriedade e desperd�cio at�vicos da cultura do meu pa�s. Essa renova��o ca�tica e sem norte faz de Belo Horizonte uma eterna Poeir�polis, como Salom�o de Vasconcellos apelidou quando de sua constru��o”. 

“A origem da cidade n�o est� na aldeia, no vilarejo, na cidade pequena ou na cidadela. A cidade n�o � uma aldeia que aumentou de tamanho, de infraestrutura e de popula��o. Se o fosse, eu n�o teria me sentido t�o estranho ao andar na capital belo-horizontina com as botas trazidas dos currais de S�o Jo�o Nepomuceno e da rua lamacenta cortada por um c�rrego onde eu morei em Juiz de Fora. A cidade nos liberta, mas comporta riscos. Ela proclama e intimida, principalmente aquele que tem miopia, o passo torto e o p� chato. Mas n�o vale a pena voltar para o mundo mental da prov�ncia e do curral, da casa grande e da senzala. A cultura da cidade e a cultura do pasto s�o diferentes, a raz�o da “p�lis”n�o � a do ventre e do f�gado, e o tempo da “urbs”n�o obedece ao ritmo repetitivo das esta��es, das ordenhas e das ora��es”.

“Paisagem como modo de entender o mundo”, de Laura Beatriz Lage


“Na cidade de Belo Horizonte, a forma de conserva��o, desde a d�cada de 1990, baseia-se na manuten��o de ambi�ncias caracter�sticas, e ap�s o estudo das �reas s�o elaboradas diretrizes para futuros desenvolvimentos. No entanto, devido � grande especula��o imobili�ria e press�o desenvolvimentista, aliado � desarticula��o dos �rg�os de patrim�nio e planejamento urbano, mesmo que essa abordagem supere a tradicional conceitualmente, na pr�tica, a forma de preserva��o continua a mesma, est�tica, n�o se relacionando, muitas vezes, com a abordagem inovadora proposta.” 

“A Serra do Curral, s�mbolo da cidade, foi tombada pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), em 1960, e protegida pela Lei Org�nica do Munic�pio de Belo Horizonte, em 1990, tendo ocorrido seu tombamento municipal em 1991. Em 1995, atrav�s de um plebiscito promovido pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a Serra do Curral foi eleita com o t�tulo de s�mbolo de Belo Horizonte, concorrendo com a Igreja S�o Francisco de Assis, Pra�a da Liberdade, dentre outros. Apesar das prote��es existentes, a Serra do Curral desaparece gradativamente dos olhares dos belo-horizontinos. Isso se deve, em grande parte, � press�o pol�tica exercida pelo mercado imobili�rio e da constru��o, que muitas vezes se coloca mais forte perante a vontade dos citadinos, contribuindo com uma verticaliza��o quase sufocante de nossas cidades”. 


“Di�logos de mem�ria insurgente – A greve dos pe�es,1979”, de Maria Beatriz Coelho e Priscila Mesquita Musa, do livro “Desvios da arquitetura: imagem e cultura contempor�nea”, organizado por Junia Cambraia Mortimer e Eduardo Augusto Costa


“Depois do desaparecimento for�ado do Curral Del Rei para dar lugar � cidade planejada, talvez a temporalidade da ditadura militar tenha sido o per�odo em que a face autorit�ria do urbanismo e da fotografia se fez mais presente na hist�ria do territ�rio no sop� da Serra do Curral, na capital de Minas Gerais. O urbanismo e o autoritarismo s�o termos que em certa medida n�o se separam, cabe ressaltar aqui. A cidade n�o � um acontecimento natural, � remodelada pelo poder, sendo que seus espa�os geralmente correspondem aos mecanismos de maior ou menor intensidade de domina��o.” 

“Em julho de 1979, Belo Horizonte era um grande canteiro de obras, vivia ainda os rebatimentos da explos�o (“boom”) imobili�ria. A maquinaria das construtoras e da produ��o de imagens girava a todo vapor, tentava dominar a imagem e o imagin�rio em rela��o � cidade, � pol�tica, � economia. Gerava concentra��o de renda e benfeitoria urbana de um lado e atropelava muitas vidas com condi��es extremas de trabalho e baixos sal�rios, mas tamb�m com desapropria��es, expropria��es, remo��es. No entanto, a cortina de fuma�a do ‘milagre brasileiro’ j� come�ava a se desfazer no ar. O vazio era sentido principalmente pela popula��o que contribuiu para o suposto crescimento econ�mico, mas n�o p�de usufruir dele. Era o tempo do arrocho salarial, da fome, do desemprego, da mis�ria para uma vasta parcela do ‘povo brasileiro’. Como um grito preso no peito por muitos anos, irrompeu a Greve dos Pe�es. Quase todas as obras foram paralisadas naqueles dias.


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