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Estado de Minas Entrevista/Luiz Vilela

"Os editores devem ter se assustado com a liberdade de linguagem do livro'"


18/11/2023 04:00 - atualizado 17/11/2023 20:41
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Jovens escritores na Livraria do Estudante,
Jovens escritores na Livraria do Estudante, em BH, em 1967. � frente, de �culos, Luiz Vilela. Ao fundo, de blusa preta, S�rgio Sant'Anna. (foto: Luigi Mamprin/Editora Abril)

O que o levou a escrever “Os novos”? 
Tendo come�ado a escrever aos 13 anos, aos 20 eu j� havia escrito muito e de quase tudo. Ent�o achei que era a hora de escrever o meu primeiro romance. Mas o ano passou, e acabei n�o escrevendo. Veio o ano seguinte, e tamb�m n�o escrevi. Mais um ano, e nada.

Em 18 de outubro de 1966 anotei no meu di�rio: “Tr�s anos ensaiando para escrever um romance. Que merda de talento tenho eu? Vou ser desses que passam a vida se preparando para uma obra que nunca escrever�o? G�nios para o caix�o, obra-prima para os vermes.”Alguns dias depois, em 1.º de novembro, anotei: “Comecei o romance. De manh�. Duas p�ginas apenas, mas era, esse come�o, o mais dif�cil: agora a coisa vai por si. Assim espero.” E assim, felizmente, foi.

Quanto ao tema do romance, numa carta escrita um ano depois ao meu amigo S�rgio Sant’Anna, que na ocasi�o estava em Paris, numa bolsa de estudos, eu digo: “Tenho pensado muito sobre a nossa gera��o, particularmente sobre a nossa turma, os que escrevem; qu� que � ela, qu� que ela traz, qu� que ela est� fazendo, qu� que ela pretende, aonde ela quer chegar, tudo isso. Ali�s, meu romance � sobre isso.”

Voc� escreveu o livro ao longo de dois anos...
Sim, de 1966 a 1968, como est� l�, no final. Dois anos, mas com v�rias interrup��es. A maior delas foi quando, em junho de 68, deixei Belo Horizonte e fui para S�o Paulo, para trabalhar no Jornal da Tarde. Em S�o Paulo n�o escrevi nem uma p�gina.

Em fins de agosto recebi um convite para participar do International Writing Program, em Iowa City, Iowa, nos Estados Unidos. O programa, com dura��o de nove meses, reunia escritores de v�rias partes do mundo e lhes oferecia, al�m de uma boa bolsa em dinheiro, o tempo inteiro para escrever.

Eu aceitei o convite, claro. Tomei as provid�ncias necess�rias para a viagem – a minha primeira internacional –, desliguei-me do jornal, e ent�o, no come�o de outubro, fui para os Estados Unidos. L�, em Iowa City, uma pequena cidade do meio-oeste, eu retomei o romance. Numa das cartas que, na �poca, troquei com a minha ex-colega de reda��o, Cl�udia Batista, hoje a Monja Coen, eu conto: “De fins de outubro para c� s� tenho feito tr�s coisas: comido, dormido, e escrito meu romance, que corre a todo vapor e espero terminar esse m�s ainda. J� tem mais de 350 p�ginas. Um neg�cio de louco. Come�o pelas dez, onze horas, e vou at� a manh�, oito, nove, dez horas. A� deito e levanto j� no come�o da noite. Noite? Nem sei mais direito o que � isso. Noite, dia, jantar, almo�o, s�bado, domingo, feriado, tudo isso foi virado de pernas para o ar.” E, de fato, em novembro eu terminei o romance. Comprei ent�o uma m�quina de escrever semiport�til Smith Corona e comecei a datilograf�-lo a limpo. Em junho de 1969, com o fim do programa e dinheiro sobrando no bolso, resolvi conhecer a Europa. Fui � Irlanda, Inglaterra, Fran�a, Espanha e, na volta, Portugal. Na Espanha, fixei-me por algum tempo em Barcelona e l� continuei o trabalho de revis�o do romance, que eu havia come�ado ainda nos Estados Unidos. Em agosto escrevi ao amigo S�rgio: “Acabei a revis�o do romance, que j� n�o tem mais as gordas seiscentas p�ginas, pois rasguei quase umas duzentas. Agora tenho de bater tudo a limpo de novo.”  No fim do m�s, de volta ao Brasil, passei uns dias em Belo Horizonte, outros em S�o Paulo, e ent�o vim para Ituiutaba. Aqui peguei de novo o romance e, com as inevit�veis interrup��es, nele trabalhei ao longo de todo o ano de 1970, terminando-o.


 Por que o livro n�o foi logo publicado?
N�o foi porque eu quis. � uma longa hist�ria... Come�a, a hist�ria, no final de dezembro de 1969, quando meu amigo Oswaldo Fran�a J�nior, editado pela Sabi�, numa ida ao Rio, falou, na editora, sobre mim e o meu livro. “Est� combinado”, ele me escreveu depois. “Eu mesmo o levarei quando voc� o considerar terminado.” Um ano se passou. Em mar�o de 1971, estando o livro pronto para a publica��o, e tendo eu j� nas costas tr�s livros publicados – “Tremor de terra”, “No bar” e “Tarde da noite”, os tr�s de contos e um deles, o “Tremor”, recebido o Pr�mio Nacional de Fic��o –, mandei para Fernando Sabino, um dos donos da Sabi� (o outro era Rubem Braga), com uma carta, um dos cap�tulos. 

Alguns dias depois recebi tamb�m dele, em resposta, uma carta. Depois de reafirmar seu interesse no livro, manifestado ao “nosso comum amigo”, o Fran�a, diz ele: “Vimos acompanhando o seu sucesso liter�rio atrav�s dos contos, que nos parecem excelentes, e estamos certos de que o romance confirmar� a sua extraordin�ria voca��o de escritor.” Mas, continuava, a editora vinha atravessando uma fase dif�cil e n�o tinha como publicar o livro.  Tentei, em seguida, a Editora Civiliza��o Brasileira. Depois de dois meses de espera e de duas cartas minhas pedindo uma resposta, essa veio, assinada pela secret�ria: “Lamentamos informar-lhe que, apesar da ineg�vel qualidade de escritor que revela, e que j� se comprovou em certames liter�rios...” Sim, tamb�m n�o podiam publicar o livro, alegando tamb�m dificuldades.  �quela altura, sabendo das recusas, um jovem editor americano que eu conhecera em Iowa City, Barry Casselman, me escreveu levantando a possibilidade de ele publicar l�, por sua pequena editora, uma edi��o bil�ngue do livro e envi�-la para o Brasil. E terminava dizendo que achava um absurdo (“an outrage”) que um importante escritor brasileiro n�o conseguisse publicar um livro em seu pr�prio pa�s. “Yes”, eu respondi, “it is an outrage, and I’m feel very angry and very depressed about that.”No come�o de agosto escrevi ao meu amigo Roberto Drummond, contando a minha situa��o: “E viva a burrice, a estupidez e a covardia dos editores brasileiros”, desabafei. Pouco dias depois resolvi fazer uma nova tentativa: mandei de uma vez, com uma carta, o tal cap�tulo para tr�s diferentes editoras, duas do Rio e uma de S�o Paulo. A de S�o Paulo respondeu que s� se interessava por romances e contos “para jovens”. As do Rio nem se dignaram a responder.  No final de setembro, conversando, em Belo Horizonte, com um amigo meu que trabalhava como vendedor de livros para uma pequena editora do Rio, a Edi��es Gernasa, especializada em livros did�ticos, narrei para ele a minha via-cr�cis editorial. Ele, querendo me ajudar, me deu maiores informa��es sobre a editora, e, por elas, achei que valeria a pena fazer mais uma tentativa. Eu fiz. Entrei em contato, por telefone, com o editor, L�cio de Abreu. Ele se interessou, e ent�o – fim da hist�ria – o livro foi publicado. Em 21 de dezembro eu o lancei, em Belo Horizonte, na livraria Interlivros.

.“Os novos” teve algum problema com a censura?
N�o, n�o teve, mas acho que foi mais pelo medo de que isso acontecesse que os editores n�o quiseram public�-lo. N�o s� a censura, mas a repress�o em geral, na �poca, estava muito forte. Eu pr�prio, antes de o livro sair, orientei um advogado meu amigo, em Belo Horizonte, como ele deveria agir com minha fam�lia, caso eu fosse preso. Felizmente n�o aconteceu nada comigo, nem com o livro. “Os novos” n�o � um “romance de protesto”. Mas, como disse Raymond Leslie Willians, no seu The Columbia Guide to the Latin American Novel Since 1945, lido no contexto em que foi escrito e publicado, o da ditadura militar, ele n�o deixa de ser uma obra subversiva. Citando no original e na �ntegra o texto: “His novel Os Novos (1971, The New Ones) reveals his background in philosophy and his ability in creating dialogue; it is also a borderline subversive work when read in the context of the military dictatorship under which it was written and published.” Outra coisa que deve ter assustado os editores foi a linguagem do livro, com uma liberdade que, at� onde sei, nunca houvera no romance brasileiro. Em 67, quando publiquei meu primeiro livro, o “Tremor de terra”, Raimundo Magalh�es J�nior, na Manchete, j� observava: “O autor tem aud�cias de linguagem e, quando lhe parece indispens�vel, usa uns en�rgicos palavr�es.” Voltando a “Os novos”, em fevereiro recebi, de Honolulu, uma carta de Stefan Baciu: “Acabo de ler ‘Os novos’. Quem foi que disse ‘romance’? Vida, s� isto.” E mais adiante: “O seu livro � excelente. Se haver� quem diga que tem palavr�es demais, manda ele pra merda.” Pois �...

Como foi a repercuss�o do livro?
Em 1984, quando saiu, pela Nova Fronteira, a 2.ª edi��o, Wilson Martins, no Jornal do Brasil, comentou: “Tendo inspirado a Luiz Vilela um retrato tanto mais cruel quanto menos contest�vel, � natural que a jovem intelectualidade da d�cada de 60 reservasse a ‘Os novos’ a mais glacial acolhida.” Glacial e jovem intelectualidade foram, a meu ver, termos um pouco exagerados; mas, de fato, pelo menos no caso da minha turma, o livro n�o teve boa acolhida, o que me surpreendeu e me decepcionou.  Um da turma, num longo artigo, disse que o romance era “fogos de artif�cio”; outro, em carta, que nele era “todo mundo meio fantasma”; e um terceiro, este o S�rgio, tamb�m numa carta, que eu cometera um erro ao publicar o livro.  Numa entrevista que dei ao Rascunho, em 2002, eu lembrei que naquela �poca, nos anos 70, meu amigo Wander Piroli me contou, com o exagero que lhe era caracter�stico, que “todos” os meus amigos haviam se reunido uma noite na Lanchonete para falar mal de ‘Os novos’. ‘‘E terminava, com um risinho sacana: ‘Voc� n�o tem l� um exemplar pra me arrumar? Fiquei com vontade de ler o livro...’”

Em 1992, vinte anos depois da publica��o, Wilson Martins, em sua coluna, fazendo refer�ncia a ‘Os novos’, tamb�m lembrou que o livro “segundo se diz, deixou de mau humor n�o poucos dos seus modelos, se n�o todos.” Fora de Minas houve tamb�m cr�ticas negativas, mas a maioria falou bem do livro. Al�m disso, recebi, pelo correio, os cumprimentos de alguns importantes escritores, como Marques Rebelo. Num cart�o dirigido ao “jovem companheiro” e assinado “seu admirador”, escreveu ele: “Tenho acompanhado com entusiasmo sua brilhante carreira.”
Outro que me escreveu foi N�lida Pi�on, indignada: “Incr�vel n�o se discutir amplamente o aparecimento de um livro seu nesta cidade que ainda se intitula capital.” Mais um: Dalton Trevisan. Eu tinha escrito a ele sobre uma poss�vel ida minha a Curitiba, no Carnaval, quando ent�o gostaria de l� encontr�-lo. A viagem n�o se concretizou, mas, na ocasi�o, recebi dele, em resposta, esta cartinha: “Grande alegria ser� bebermos umas e outras celebrando o seu romance. Abra�o do seu velho Dalton.’’  Um coment�rio que me deixou particularmente feliz veio de Praga, de Pavla Lidmilov�, que mais tarde traduziria para o tcheco a minha novela “O choro no travesseiro”. Disse ela, numa carta, que gostou muito do livro, e comentou: “Quanta ironia, desilus�o e esperan�a que n�o quer parecer esperan�a est�o entre a primeira e a �ltima frase do seu romance.” Fausto Cunha, que fez a orelha do livro, havia feito antes uma outra, que n�o foi usada por ser meio grande. Ela assim come�a: “Este � um romance que merece adjetivos: duro, cruel, amargo, impiedoso, imensamente ing�nuo, �s vezes sinistramente engra�ado. Quase diria tamb�m que � sard�nico, se ainda se lembrassem dessa palavra.” Em 1975, Fausto, num artigo sobre a nova literatura mineira para o suplemento Livro, do Jornal do Brasil, falando sobre “Os novos”, disse que o livro “foi um fracasso injusto”. Sim, concordo que seria injusto; mas, se o livro n�o foi um sucesso, n�o acho que ele tamb�m tenha sido um fracasso. O final do texto: “� um romance que, mais dia menos dia, ser� descoberto e apreciado em toda a sua for�a. Sua gera��o ainda n�o produziu nenhuma obra como essa, na fic��o.”

“Os novos” foi traduzido?
N�o, n�o foi. Em abril de 72, animado com a repercuss�o internacional que vinha tendo a literatura hispano-americana, e acatando a sugest�o de alguns colegas, eu, propondo a tradu��o, mandei o livro para quatro editoras de l�ngua espanhola: Monte �vila, na Venezuela, Sudamericana, na Argentina, Joaquin Mort�z, no M�xico, e Seix Barral, na Espanha. Todas responderam da mesma forma, ou seja: nenhuma respondeu nada. Desanimado, mas ainda com alguma esperan�a, mandei o livro para uma editora italiana, a Bompiani, em Mil�o. Essa respondeu. Respondeu que a hist�ria do meu “professor” n�o convencia inteiramente, que a ideia pol�tica discutida no livro era “bastante nebulosa”, que o problema do lesbianismo parecia “vagamente provinciano”, e que havia no livro uma falta de focaliza��o: “visto dall’Italia, il Brasile � remoto come um altro planeta.” E assim, “a malincuore”, a editora recusava a proposta de tradu��o. Depois dessa, eu, c� no outro planeta, n�o mandei mais o livro para nenhuma editora estrangeira, e ele n�o foi traduzido, nem ent�o, nem at� hoje. Quem sabe algum dia ele ser�?...

O livro foi constru�do quase todo com di�logos, t�cnica liter�ria que acabou por se tornar sua marca registrada...
Mod�stia � parte, h� pouco tempo fui a� mesmo, no jornal, chamado de “o maior dialoguista da literatura brasileira”. Maior n�o sei, mas sei que os meus di�logos s�o muito elogiados, tanto pelo leitor comum quanto pelos cr�ticos. A prop�sito, uma coisa que me deixou muito contente foi o texto de um blog de Porto Alegre, que um amigo me enviou. O autor do blog encontrou “Os novos” num balaio da Feira de Livro, comprou-o, leu-o, e entre outros coment�rios descontra�dos, disse: “pode-se reclamar que os caras n�o param de beber cerveja, mas, por favor, os di�logos s�o maravilhosos, vivos, humanos.” O blog recebeu, de uma jovem mestranda em letras, um coment�rio: “Este livro � maravilhoso, discute temas t�o profundos de uma �poca t�o tensa. Cada vez que o leio, para minha pesquisa, descubro coisas novas, di�logos mais intensos e reveladores. Estou amando estudar ‘Os novos’.” Ficando ainda nos pampas, e no embalo dos elogios, o escritor e cr�tico Luiz Antonio de Assis Brasil, num email � editora, agradecendo o envio do livro, disse sobre “Os novos”: “uma das obras fundamentais de nossa literatura”.

Com a exce��o de um cap�tulo passado numa cidade do interior, “Os novos” se passa todo em Belo Horizonte, principalmente na Faculdade de Filosofia, que anos depois se mudou para o campus UFMG...
Minha turma de universit�rios foi a que, em 1961, inaugurou o imponente pr�dio de oito andares da Rua Carangola. Fiz l� o curso de filosofia, em quatro anos. Depois de formado, eu, na condi��o de professor, mas sem dar aulas, l� trabalhei por tr�s anos como secret�rio do departamento de filosofia. Sete anos na faculdade. Ela era, portanto, um cen�rio que eu conhecia bem. Outro autor americano, Irwin Stern, em seu livro “Dictionary of Brazilian Literature”, no verbete a mim dedicado, diz que “Os novos” trata das “ilusions and desilusions of universitary life.” Em parte, sim, mas, como sabemos, n�o no todo.

Outro cen�rio que aparece com frequ�ncia s�o os bares...
� verdade. No livro “Caminhos de Minas”, de 1992, Sebasti�o Martins escreveu: “Nos anos 60, antes que as luzes da Savassi come�assem a brilhar na paisagem urbana, os estudantes e os bo�mios em geral frequentavam principalmente os bares do Maletta: o Sagarana, onde Milton Nascimento aparecia de vez em quando; o Pelicano, o Lua Nova (preferido por Murilo Rubi�o, Jos� Nava e outros) e o Lucas, cen�rios do romance ‘Os novos’, de Luiz Vilela.” Fazendo uma pequena corre��o, Sagarana e Lua Nova n�o est�o no livro; o Pelicano, sim, e o Lucas (Cantina do Lucas) tamb�m. Outro bar do Maletta que est� no livro � o Jangadeiro. Fora do Maletta, frequentado por aquela mesma turma, est�o ainda no livro o Monjolo e o Por�o; e, frequentado por um pessoal mais velho, o Gruta Metr�pole. 

No livro os personagens fazem uma revista, ‘Literatura’; voc� e seus companheiros tamb�m fizeram uma revista, n�o �?
Sim, fizemos a “Est�ria”, uma revista s� de contos. “Est�ria” teve muito boa repercuss�o, chegando at� o exterior. Nos Estados Unidos, a Small Press Review  afirmou que  ela  era  “a  melhor  publica��o  liter�ria  do  continente sul-americano.” 

Quais entre os seus livros voc� indicaria para quem n�o conhece ainda a sua obra?
Meus livros t�m todos, para mim, a mesma import�ncia. N�o considero nenhum melhor do que outro. Assim, eu prefiro n�o indic�-los, deixando que a pessoa escolha os livros que quiser.

 Qual � a sua rotina em Ituiutaba?
Eu passo a maior parte do tempo em casa, escrevendo, lendo, ou cuidando de minhas necessidades pessoais – as minhas e as de meus gatos. No s�bado, � noite, �s vezes vou com alguns amigos a um bar, tomar uma cerveja. Os gatos n�o v�o. Acho que eles n�o gostam muito de cerveja...  

Capa do livro 'Antologia pessoal'


Trecho de “Os novos”, de Luiz Vilela

“Essa cidade n�o � para gente de talento”

– Vai embora, Nei. Vai embora daqui. Essa cidade n�o � para gente de talento, n�o. Para formar gente de talento, sim, ela � boa; mas depois � preciso sair. Quem fica est� perdido: a cidade devora suas crias. � um c�rculo fatal, historicamente comprovado. O c�rculo est� tra�ado desde o in�cio. � preciso uma viol�ncia para romp�-lo. E isso tem que ser feito agora, quando se � jovem. Depois ser� tarde.

Ot�vio encheu de novo os copos. Bebeu e limpou a espuma do l�bio.
P�s a m�o em seu bra�o:

–  Escuta, escuta o que estou te dizendo. Se voc� n�o tivesse valor, tanto fazia ficar aqui ou sair. Mas eu sei distinguir um jovem de futuro. Eu vejo o seu futuro, eu o tenho quase diante dos olhos.

Ficou um instante em sil�ncio.

–  Como eu via o meu... Como eu via o meu um dia tamb�m, quando eu era mo�o, quando eu tinha a sua idade...Tamb�m me disseram para sair daqui, como eu estou te dizendo agora... A hist�ria � sempre a mesma, tudo se repete sempre...

–  E por que voc� n�o saiu?

– Por qu�? Eu fui ficando; fui ficando...

Estavam bebendo ali, na Gruta, havia mais de uma hora, e Ot�vio j� falara de tudo; contara sua vida, suas queixas, m�goas e frustra��es com a fam�lia, os amigos, a cidade, a sa�de, o dinheiro, a voca��o, a literatura – tudo.

Capa do livro 'Antologia pessoal'

 “Antologia pessoal”
Dalton Trevisan
Record
448 p�ginas
R$ 90,90
e-book: R$: 49,90

capa do livro %u201CSonata ao luar'

“Sonata ao luar”
Dalton Trevisan
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200 p�ginas
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