
A 27ª fase da Opera��o Lava-Jato, que apura desvios de recursos da Petrobras, trouxe novamente � cena pol�tica o controverso assassinato do ent�o prefeito de Santo Andr� Celso Daniel (PT), ocorrido em 2002, e ainda revelou que os operadores do esc�ndalo do mensal�o – esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada do governo Luiz In�cio Lula da Silva em troca de aprova��o de projetos pelo Congresso, em 2004 –, recorreram, cinco anos depois, ao dinheiro desviado da petrol�fera para quitar d�vidas.
Ao decretar as pris�es de Pereira e a condu��o coercitiva de Del�bio, o juiz federal S�rgio Moro, que coordena as a��es da Lava-Jato, afirmou que “� poss�vel” que o esquema criminoso alvo da nova fase da opera��o, que envolve o empr�stimo fraudulento de R$ 12 milh�es por interm�dio do pecuarista Jos� Carlos Bumlai – amigo de Lula – e o repasse de R$ 6 milh�es para o dono do Di�rio do Grande ABC, Ronan Maria Pinto – tamb�m preso ontem – , “tenha alguma rela��o com o homic�dio, em janeiro de 2002, do ent�o prefeito de Santo Andr� Celso Daniel (PT)”.
As circunst�ncias do assassinato do prefeito nunca foram esclarecidas por completo. De acordo com a Pol�cia Federal, respons�vel pela apura��o da morte, o petista foi v�tima de um sequestro seguido de morte, sem qualquer vincula��o pol�tica. Vers�o rejeitada por toda a fam�lia de Celso Daniel.
CAIXA 2 Apelidada de Opera��o Carbono 14 – por remeter a fatos de mais de uma d�cada atr�s – a 27ª fase da Lava-Jato apurou que, ainda em 2004, Del�bio Soares e Silvio Pereira procuraram Jos� Carlos Bumlai para que ele contra�sse um empr�stimo de R$ 12 milh�es junto ao Banco Schahin para o caixa 2 do PT, que irrigou campanhas eleitorais de filiados da legenda.
O esc�ndalo de corrup��o do mensal�o foi revelado em 2005 e tinha como principal parceiro o empres�rio Marcos Val�rio, um dos donos da ag�ncia de publicidade SMP&B, que promovia empr�stimos fict�cios junto a institui��es financeiras como BMG e Banco Rural. Agora, a Lava-Jato revela que o esquema tinha outros alimentadores como o Banco Schahin, sendo que a lavagem de dinheiro era operada pelos mesmos personagens: Silvio Pereira, preso ontem, e Del�bio, conduzido coercitivamente para prestar depoimento.
Relat�rio do Minist�rio P�blico Federal aponta ainda que a empresa DNP Eventos, de Pereira, recebeu, entre 2009 e 2011, R$ 508.682 das empreiteiras OAS e UTC Engenharia, investigadas na Lava-Jato.
PROVAS De acordo com o Minist�rio P�blico Federal, o envolvimento de Pereira e Del�bio revela que o PT atuou diretamente junto ao Banco Schahin para a libera��o do empr�stimo fict�cio. “Em suma, h� provas que apontam para o fato de que a operacionaliza��o do esquema se deu, inicialmente, por interm�dio da transfer�ncia dos valores de Bumlai para o Frigor�fico Bertin, que, por sua vez, repassou a quantia de aproximadamente R$ 6 milh�es a um empres�rio envolvido no esquema”, afirma o MPF.
Durante as investiga��es, ficou claro que, como o PT n�o quitou a d�vida de R$ 12 milh�es com o Schahin, os operadores do mensal�o, com ajuda de diretores da Petrobras, teriam providenciado um contrato fraudulento, em 2009, da estatal com o banco, referente ao navio-sonda Vit�ria 10.000, pela cifra bilion�ria de R$ 1,6 bilh�o. Agora, o que a for�a-tarefa quer saber � por que Ronan Maria Pinto recebeu de Bumlai R$ 6 milh�es, ou seja, metade do empr�stimo de R$ 12 milh�es que ele fez com o Schahin. A suspeita, de acordo com testemunhas, � que ele estivesse extorquindo dinheiro de petistas para n�o revelar o envolvimento de membros do partido com o assassinato de Celso Daniel.
Por meio de nota, Ronan disse que sempre esteve � disposi��o da Lava-Jato, e considera a cita��o de seu nome “indevida”. J� Bruno Daniel, irm�o do ex-prefeito, afirma que as novas revela��es da for�a-tarefa trazem a “expectativa de que haja esclarecimento em rela��o a tudo que aconteceu” com Celso.
Mem�ria
Muitas mortes, nenhum culpado
Desde que o prefeito Celso Daniel foi sequestrado, torturado e morto, em 2002, pelo menos outras oito pessoas, entre suspeitos, testemunhas e investigadores, que tiveram contato com o caso tamb�m foram assassinadas. At� agora, ningu�m cumpre pena pelo crime, executado com requintes de crueldade. A Pol�cia Federal, que assumiu o caso, concluiu que o petista foi morto por assaltantes e prendeu o l�der do grupo, Dion�sio Aquino Severo, que foi assassinado no pres�dio. As investiga��es, no entanto, foram reabertas a pedido do Minist�rio P�blico de S�o Paulo, que denunciou como mandante do crime S�rgio Gomes Silva, o Sombra, considerado o fiel escudeiro do petista. Ele ficou sete meses preso, mas foi beneficiado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sombra nunca quis colaborar com as investiga��es e, at� hoje, n�o foi julgado pelo crime.
Em janeiro do ano passado, o promotor Roberto Wilder Filho, que investigou o caso, disse que n�o restam d�vidas de que o assassinato de Daniel foi motivado por um grande esquema de pagamento de propina para financiamento de campanha que funcionou na Prefeitura de Santo Andr�, em contratos superfaturados de coleta de lixo, obras p�blicas e transporte, que teriam causado um preju�zo de mais de R$ 100 milh�es.
� �poca, Wilder Filho afirmou achar dif�cil a identifica��o dos mandantes do crime. “N�s t�nhamos dois caminhos para trilhar. Um deles era seguir o do dinheiro e outro contar com a dela��o premiada, mas nenhum deles se mostrou eficaz”, disse. “N�s t�nhamos ind�cios de que o dinheiro desviado foi depositado em contas de Jos� Dirceu, mas n�o conseguimos autoriza��o do Supremo para ter acesso aos dados”, contou.