
O ex-ministro das Rela��es Exteriores Ernesto Ara�jo cunhou um nome ao Brasil que colou como chiclete na imagem internacional. "Que sejamos p�ria", disse o diplomata ao falar sobre o papel do pa�s no mundo. Ao mitigar pol�ticas ambientais e deteriorar a democracia nos �ltimos tr�s anos, o solo tupiniquim se colocou � margem da sociedade internacional.
A quest�o, no entanto, vai al�m da fala de um embaixador. O presidente Jair Bolsonaro (PL) se tornou um chefe de Estado contestado pela comunidade internacional. Bolsonaro se utiliza de dados sem comprova��o ou equivocados sobre a Amaz�nia — o que preocupa a maioria dos chefes de Estado. Desde sua primeira apari��o para o mundo no F�rum Econ�mico Mundial, ocorrida em Davos, na Su��a, em janeiro de 2019, j� parecia um "estranho no ninho".
Para Alexandre Uehara, doutor em ci�ncia pol�tica e coordenador do centro brasileiro de neg�cios internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o Brasil chegou a situa��o de p�ria porque falta percep��o do governo sobre quem � o Brasil no cen�rio internacional e como s�o as rela��es com os outros pa�ses. De acordo com o especialista, a percep��o do Executivo � "muito presun�osa". "Como se o Brasil fosse um pa�s totalmente independente e que pudesse viver sem as rela��es com os demais pa�ses", afirmou.
Uehara aponta que n�o se pode ignorar a depend�ncia do Brasil frente �s outras na��es. "Apesar de ser considerado um pa�s pujante, ainda � uma economia fechada. O governo considera que pode fazer o que desejar sem prestar contas � comunidade internacional, o que n�o � verdade, isso ter� consequ�ncias nas rela��es com os demais pa�ses", disse.
Chave
Al�m de implodir a democracia brasileira, Bolsonaro se afasta da principal pol�tica de alinhamento internacional com o Brasil: o meio ambiente. A falta de conhecimento e apresenta��o de dados imprecisos sobre a Amaz�nia pelo presidente brasileiro s�o um soco no est�mago do Brasil na comunidade internacional. Al�m disso, o pa�s deixou importantes acordos como o de Paris e do Pacto Global das Migra��es.
"O Brasil nunca protestou. Medidas n�o foram tomadas para proteger, ou praticar pol�tica antidumping. Da� vieram uma s�rie de medidas ilegais. Ele come�ou a passar um trator em cima das entidades. Demitiu o diretor do Inpe porque os dados da Amaz�nia estavam "errados", al�m de desmantelar as organiza��es ambientais. Bolsonaro j� estava grifado no mundo por sua postura ambiental", avalia Paulo Roberto Almeida, diplomata e ex-presidente do Instituto de Pesquisa de Rela��es Internacionais (Ipri).
O afastamento das quest�es ambientais tamb�m preocupa o legislativo. De acordo com o presidente da C�mara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a imagem desgastada do Brasil no exterior � resultado, em primeiro lugar, da m� gest�o do meio ambiente brasileiro e as consequ�ncias s�o graves. "H� projetos importantes como a lei de licenciamento ambiental, da grilagem e a do agrot�xico. Essas pautas dever�o ser debatidas independente do governo para o ano que se inicia", afirmou ao Correio.
O l�der da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Rodrigo Agostinho (PSB- SP), afirma que o colegiado acompanha mais de mil projetos ambientais. "Existem 5 propostas que chamam a aten��o internacional: a lei de licenciamento ambiental e a lei da grilagem que est�o no Senado, as propostas que acabam com terras ind�genas, a legisla��o de minera��o e a lei do veneno. Uma parte ser� aprovada e a �ltima esperan�a ser� o Judici�rio. O pre�o ser� caro pois teremos muita retalia��o comercial. A Europa j� est� tirando produtos brasileiros das prateleiras", frisou.
Economia internacional
A deteriora��o do PIB tamb�m � um ponto no qual o atual governo chama a aten��o da comunidade internacional. No �ndice de liberdade econ�mica do think-thank Heritage Foundation Freedom of the World, que mede 12 liberdades - de direitos de propriedade e liberdade financeira - em 184 pa�ses, o Brasil pontuou 53.4 e ficou atr�s da m�dia global dos 48 pa�ses mais pobres da �frica Subsaariana, que pontuou 55.7. � a primeira vez desde 1996 que isso acontece.
No com�rcio exterior, o pa�s fica cada vez mais aqu�m. Com a China, principal parceiro comercial, esta � a pior rela��o dos �ltimos anos. Segundo Alexandre Uehara, o Brasil se coloca como imprescind�vel para a China, o que n�o � verdade. "O Brasil hoje depende muito mais da China do que o oposto", disse. Segundo o especialista, as rela��es do Brasil com a �sia ainda � t�mida. "O que falta ao Brasil, � olhar com mais cuidado para os pa�ses asi�ticos de uma forma geral, dado que o mundo percebe a regi�o como o futuro. O Brasil precisa de planejamento", avaliou.
Cidad�o prejudicado
A situa��o afeta a vida do cidad�o comum. Paulo Roberto destaca que o impacto da falta de articula��o internacional � "muito grave para os brasileiros". De acordo com o ex-embaixador, "h� impactos no com�rcio, na gest�o sanit�ria e no Or�amento P�blico. Mandaram o Ex�rcito fazer toneladas de cloroquina, desperdi�ando dinheiro. H� impacto no programa interno, eros�o da democracia, ataque a institui��es. No plano da credibilidade humana � um p�ria de direito e de fato. Na quest�o comercial, toda vez que ele (Bolsonaro) falava, o real ca�a e o d�lar subia.
O custo dessa reconstru��o de credibilidade ainda � incerto. Para Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Rela��es Internacionais da Universidade de Bras�lia, � poss�vel, mas demandar� um grande esfor�o. "H� no seio da comunidade internacional o reconhecimento de que as atuais posi��es do Brasil n�o s�o condizentes com aquelas tradicionalmente perseguiu. Antes de mais nada � necess�rio uma mudan�a no comando da pol�tica externa, resgatando as suas posi��es tradicionais, procurando reinserir o pa�s nos principais f�runs de negocia��o multilateral a uma agenda global.