
Trata-se do tu�te publicado pelo general Eduardo Villas B�as em 3 de abril de 2018, na v�spera do julgamento de um habeas corpus ao petista pelo Supremo Tribunal Militar, no qual o ent�o chefe da For�a intimidava a corte ao repudiar o que chamava de impunidade.
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O epis�dio � um marco da rela��o entre os poderes civil e militar desde a redemocratiza��o de 1985. O pr�prio Villas B�as viria a dizer depois, primeiro � Folha de S.Paulo e depois em um livro, ter agido no limite da responsabilidade.
Ele nega ter amea�ado a corte que, segundo ministros, iria de qualquer modo negar o habeas corpus ao petista, abrindo caminho para os 580 dias que ele passou preso na Superintend�ncia da Pol�cia Federal em Curitiba por condena��o na Opera��o Lava Jato. Mas o epis�dio deixou marcas indel�veis.
As tentativas do petista de estabelecer pontes com os fardados, desde que recuperou seus direitos pol�ticos, n�o prosperaram. Mas as cr�ticas que se ouvem entre generais, almirantes e brigadeiros a Lula nunca ecoaram fora de quart�is.
Agora Lula ter� de optar por um novo comandante, e tudo o que quer � previsibilidade e normalidade na rela��o com os fardados --que n�o dever� ser calorosa, apesar do passado em que promoveu grandes programas de reequipamento das For�as em seus governos.
Isso colocaria o mais antigo general de quatro estrelas, o chefe do Departamento de Engenharia e Constru��o J�lio Cesar de Arruda, como o favorito para o posto. Ningu�m na For�a discute antiguidade, mas ela n�o � um crit�rio mandat�rio: o presidente pode escolher qualquer um do topo da hierarquia, da ativa ou da reserva, para o cargo.
Aqui entra o fator Villas B�as. Em 2015, a presidente Dilma Rousseff (PT) o escolheu por consider�-lo o mais pol�tico e articulado dos tr�s mais antigos do Ex�rcito: ele era o terceiro na fila.
Como o pr�prio general descreveu em seu livro-depoimento no ano passado, "estabeleci como meta que o Ex�rcito voltasse a ser ouvido com naturalidade", contra o "patrulhamento que agia toda vez que um militar se pronunciava, rotulando de imediato como quebra de hierarquia ou amea�a de golpe".
Deu no que deu. Ap�s o tu�te, como Villas B�as conta, houve uma ades�o progressiva do estamento fardado � candidatura de Bolsonaro, mais por antipetismo do que por admira��o. Ao contr�rio, o ent�o deputado era visto como um med�ocre a ser manipulado, e a segunda parte do plano n�o deu certo, como a crise em que ele demitiu ministro da Defesa e comandantes militares em 2021 provou.
Neste 2021, o Villas B�as da vez se chama Tom�s Miguel Min� Ribeiro, chefe do Comando Militar do Sudeste, que compreende o estado de S�o Paulo, desde o ano passado. Ele � visto pelo entorno de Lula como o nome mais habilitado a ocupar o topo da hierarquia do Ex�rcito.
Discreto, sempre teve interlocu��o com pol�ticos de diversas colora��es. Foi ajudante de ordens do tucano Fernando Henrique Cardoso, mas tamb�m era o chefe de gabinete de Villas B�as respons�vel pela reda��o do famigerado tu�te --naturalmente, naquela ocasi�o ele cumpria ordens, tanto que o texto passou pelo Alto-Comando da For�a, composto hoje por 16 generais de quatro estrelas.
Assim, sua grande vantagem competitiva � lembrada, por petistas e outros aliados de Lula, com um certo receio.
Tom�s, como � chamado no Ex�rcito, � o segundo da fila da antiguidade. Est� ao lado de Val�rio Stumpf, hoje o n�mero 2 da For�a, considerado carta fora do baralho para o comando por ser pr�ximo do bolsonarismo.
Stumpf, que como quatro estrelas foi chefe da Secretaria de Finan�as, do poderoso Comando Militar do Sul e, desde maio, do Estado-Maior da For�a, antes trabalhou como secret�rio-executivo do Gabinete de Seguran�a Institucional sob os generais da reserva S�rgio Etchegoyen (governo Michel Temer, MDB) e Augusto Heleno (gest�o Bolsonaro).
Etchegoyen, ao lado de Villas B�as, � visto como um dos te�ricos da volta ao protagonismo pol�tico dos militares, fazendo a transi��o para a gest�o Bolsonaro.
Na sequ�ncia da antiguidade vem o general Estevam Teophilo, comandante de Opera��es Terrestres. Ele tamb�m � descartado a priori pelo entorno de Lula: � um dos mais aguerridos bolsonaristas do Alto-Comando da For�a, al�m de irm�o de um ex-secret�rio nacional de Seguran�a do atual governo, general da reserva Guilherme Teophilo.
Se Tom�s for abatido pelo fantasma do antigo chefe Villas B�as, os olhos se voltam para Arruda, que � da arma de Engenharia --tradicionalmente, celeiro de oficiais-generais mais cinzentos politicamente. Respeitado e com perfil discreto, ele comandou a Academia Militar das Agulhas Negras. Ele e os tr�s outros generais na fila v�o � reserva de mar�o a novembro do ano que vem.
Alckmin pode ir para a Defesa
H� outros n�s a serem desatados. No petismo, ningu�m engoliu a participa��o ativa do ministro da Defesa, o ex-comandante do Ex�rcito Paulo S�rgio Nogueira, na tentativa de Bolsonaro de criar confus�o eleitoral ao promover um relat�rio sobre confiabilidade de urnas eletr�nicas que nunca veio � luz.
Lula j� decidiu que, ap�s quatro ministros que eram generais de quatro estrelas da reserva, a Defesa voltar� a ser comandada por um civil, como era previsto no plano original da pasta.
Contra o ex-ocupante da pasta Jaques Wagner (PT-BA) pesa o fato de ele ser malvisto pelo Alto-Comando. Outro ex-ministro da era petista, Celso Amorim, tem interlocu��o, mas n�o � perdoado pela condu��o da Comiss�o da Verdade que apontou crimes dos militares na ditadura, mas n�o apurou os da luta armada.
A batata quente pode assim cair no colo do vice eleito, Geraldo Alckmin (PSB), bem-visto como um nome moderado. Seria uma repeti��o do que Lula fez com Jos� Alencar de 2004 a 2006, impondo o respeito da vota��o recebida na chapa --restando saber se o ex-governador paulista evitaria a p�ssima gest�o do ent�o vice do petista.