
"Fatos relativos a joias, que podem configurar os crimes de descaminho, peculato e lavagem de dinheiro, entre outros poss�veis delitos, ser�o levados ao conhecimento oficial da Pol�cia Federal para provid�ncias legais. Of�cio seguir� na segunda-feira", destacou.
Al�m de Dino, o ministro das Rela��es Institucionais, Alexandre Padilha, cobrou apura��o para o caso e caracterizou como "repugnante" a tentativa feita por Bolsonaro de recuperar as joias.
"N�o sei para quem eram as joias. A apura��o vai dizer. Mas, independentemente disso, � absolutamente repugnante qualquer atitude de um chefe de Estado, de qualquer servidor p�blico, utilizar do seu poder pra cometer um ato de ilegalidade como esse", disse, depois de um evento do cons�rcio de governadores do Sul e Sudeste, no Rio de Janeiro.
Padilha classificou a tentativa de entrar com o conjunto de joias como "contrabando" e disse que um pr�mio deveria ser dado aos fiscais que impediram a ilegalidade. "Se fosse dar uma joia, deveria ser para esse fiscal, todos os fiscais da Receita que impediram esse contrabando ilegal de trazer aquilo que foi recebido por uma comitiva presidencial", salientou.
Tamb�m por meio das redes sociais, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parabenizou os servidores da Receita — ao qual est� subordinada — pelo Dia Nacional de Combate ao Contrabando, comemorado em 3 de mar�o, mas n�o citou diretamente o caso das joias. Ele destacou a "fiel aplica��o da lei no cumprimento da miss�o institucional", destacando "em especial os que atuam diretamente no controle aduaneiro" — numa refer�ncia velada ao presente dos sauditas.
Mas as a��es para investigar a suspeita de contrabando n�o se restringir�o ao Executivo. A deputada federal Erika Hilton (PSol-SP) pediu que o Minist�rio P�blico Federal (MPF) apure o epis�dio, pois, segundo a parlamentar, h� ind�cios do crime de corrup��o passiva. A representa��o foi enviada � Procuradoria da Rep�blica em S�o Paulo.
Bem pessoal
Para o presidente da Associa��o Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Mauro Silva, os fatos relacionados ao transporte ilegal de joias realizado pela c�pula do governo Bolsonaro n�o deixam d�vida de que se tratava de um presente pessoal, destinado a Michelle Bolsonaro e ao ex-presidente.
"A alega��o de que seria um presente para o governo brasileiro n�o faz sentido nenhum. Ningu�m mandaria um presente desses para a Presid�ncia do Brasil na mochila do assessor de um ministro", disse.
Mauro lembra que h� os caminhos diplom�ticos para que isso seja feito e que, justamente por se tratar de um presente de alto valor, qualquer pa�s faz quest�o de seguir o protocolo oficial. "Quando � enviado um presente ao governo, � valorizado todo o protocolo, a cerim�nia que esses processos possuem. Essa � a ess�ncia dessas quest�es diplom�ticas", explicou.
Bolsonaro se esquiva: nada pediu
O ex-presidente Jair Bolsonaro negou, ontem, que o colar, o anel, o rel�gio e o par de brincos presentados pelo governo da Ar�bia Saudita foram trazidos ao Brasil de forma ilegal. Ele tamb�m negou que as joias seriam para fins pessoais dele e da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
"Estou sendo acusado por um presente que n�o pedi, nem recebi. N�o existe qualquer ilegalidade da minha parte. Nunca pratiquei ilegalidade. Veja o meu cart�o corporativo pessoal. Nunca saquei, nem paguei nenhum centavo nesse cart�o", esquivou-se, em entrevista � CNN. Entretanto, o ex-presidente, por meio de auxiliares, tentou em v�rias oportunidades reaver o conjunto de joias (veja quadro ao lado).
Apesar das indica��es de que o presente dos sauditas entraria irregularmente no Brasil, Bolsonaro estava mais interessado em tratar da participa��o que fez na Confer�ncia de A��o Pol�tica Conservadora (CPAC), em Washington. No discurso, assegurou que sua "miss�o como presidente ainda n�o acabou".
"Agrade�o a Deus pela minha segunda vida e tamb�m pela miss�o de ser presidente por um mandato. Mas sinto, l� no fundo, que essa miss�o ainda n�o acabou", observou.
Bolsonaro criticou, indiretamente, a ex-presidente Dilma Rousseff, quando afirmou ter se candidatado � Presid�ncia ap�s ver uma "comunista" reeleita. Afirmou "n�o ter obrigado ningu�m a tomar vacina" porque, segundo ele, enquanto uns recorrem � ci�ncia, ele defende a liberdade.
"Sempre defendi a liberdade, n�o obriguei ningu�m a tomar vacina no Brasil. Tem certos assuntos no pa�s que s�o proibidos de serem tratados. Um � a vacina. � o tempo todo: '� a ci�ncia, � a ci�ncia, � a ci�ncia'. Eu digo: '� liberdade, liberdade, liberdade'", justificou-se.
N�o poderia faltar uma alfinetada no presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que autorizou dois navios de guerra iranianos a atracarem no Rio de Janeiro. Segundo Bolsonaro, se "fosse presidente, n�o ter�amos problema com navios iranianos" — insinuando que n�o permitiria que entrassem nas �guas brasileiras.
Seguindo o roteiro de questionar a derrota eleitoral de outubro passado, disse: "Tive muito mais apoio em 2022 do que em 2018. N�o sei por que os n�meros mostraram o contr�rio", sugeriu. Ele tamb�m comentou a revoga��o do decreto que liberava a compra de armas e muni��o. "A primeira medida desse novo velho governo foi revogar os meus decretos. Sempre disse no Brasil: povo armado jamais ser� escravizado e pa�s armado jamais ser� subjugado".
Bolsonaro tamb�m jactou-se de ter sido o �ltimo a reconhecer a derrota de Donald Trump para Joe Biden, nas elei��es presidenciais dos Estados Unidos. "Fui o �ltimo presidente a reconhecer as elei��es h� dois anos aqui nos EUA. Continuo fiel aos nosso princ�pios, ao nosso lema; 'Deus, p�tria, fam�lia e liberdade'", garantiu. (IS)