
O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, disse, ontem, durante o encontro preparat�rio para a c�pula, que "sem d�vida" seu pa�s ter� que considerar que tipo de "pertencimento" o Uruguai ter�. "Ou modificamos o tratado fundador ou, eventualmente, cogitamos a possibilidade de sairmos do Mercosul como Estado fundador para tornarmo-nos Estado associado", amea�ou.
Para Bustillo, o bloco sofre com o aquilo que classifica como "imobilismo" do grupo para novos acordos comerciais, com outras regi�es. Conforme disse, seria melhor chamar o Mercosul de "Zocosul". "No estado em que est� o Mercosul, seria melhor criar uma Zona de Livre Com�rcio do Sul, uma Zocosul, e n�o um Mercosul", criticou. Por tr�s da insatisfa��o, est� o interesse uruguaio em estabelecer uma linha direta com a China, "que est� esperando".
O chanceler Mauro Vieira n�o comentou o ultimato uruguaio, mas endossou a necessidade de amplia��o dos acordos comerciais com outros pa�ses da regi�o. Citando nominalmente Chile, Col�mbia, Peru e Equador - que t�m status de associados do Mercosul -, o ministro sinalizou que a presid�ncia rotativa brasileira quer avan�ar nas discuss�es com parceiros da Am�rica Central e do Caribe.
"Devemos aproveitar a oportunidade para ampliar e aprofundar esse acervo de acordos comerciais com a regi�o, sob pena de ficarmos para tr�s diante de outras regi�es e pa�ses extrazona", admitiu Vieira, buscando amenizar a irrita��o uruguaia.
O ministro n�o citou a Venezuela, um tema delicado dentro do grupo - o pa�s integrou o Mercosul, mas foi suspenso, em 2017, por descumprir, principalmente, a cl�usula democr�tica do grupo. Mas a diplomacia brasileira trabalha pela reinclus�o do pa�s, tanto que a embaixadora Gisela Padovan, secret�ria de Am�rica Latina e Caribe do Minist�rio das Rela��es Exteriores (MRE), afirmou que "gostar�amos de ver a Venezuela reintegrada". "No contexto de retomada de di�logo que estamos promovendo, o assunto deve ser discutido em algum momento", salientou.
Acordo com a UE
O tema mais importante para o Itamaraty no encontro, o acordo Mercosul-Uni�o Europeia (UE), tem tudo para continuar apenas no discurso, pois o Brasil n�o deve apresentar uma contraproposta �s cobran�as e adapta��es feitas pelos europeus. O chanceler argentino, Santiago Cafiero, ressaltou a import�ncia do acordo, mas endossou o pleito brasileiro de revisar o texto de 2019.
"O acordo, como foi fechado, reflete um esfor�o desigual entre blocos assim�tricos e n�o responde ao cen�rio internacional", lamentou.
Lula vem sendo a principal voz cr�tica � proposta europeia, que quer estabelecer san��es comerciais em caso de descumprimento de compromissos ambientais. O presidente, por�m, considera a restri��o uma estrat�gia disfar�ada do protecionismo agr�rio europeu.
Sem a contraproposta brasileira - que seria o principal tema da c�pula - para an�lise do colegiado, o encontro corre o risco de esvaziar. Pior: faltaria um argumento forte para dissuadir as pretens�es de autonomia do Uruguai.
A presid�ncia rotativa brasileira ter� de correr para fechar o acordo com a UE e indicar novas parcerias com outros blocos. De acordo com observadores diplom�ticos, somente respostas concretas para essas duas quest�es ser�o capazes de evitar que o Mercosul se enfraque�a ap�s 30 anos de cria��o.