Teyssier Gwenaelle/Pixabay


“� marcante, � desgastante, � sofredor. Tive as piores rea��es poss�veis durante o tratamento, emagreci demasiadamente, sentia muito mal-estar e �nsias de v�mitos, precisei lidar com a perda de apetite e tive quadros de hipotermia. Minha mente tamb�m sofreu, passei a ter crises de ansiedade e p�nico. E eu nunca tive ningu�m para conversar. Passei por tudo sozinha, sem ajuda de familiares ou assist�ncia psicol�gica. Minha terapia, todo o protocolo, a descoberta da doen�a, radioterapia, quimioterapia, braquiterapia, as vezes que passei mal pelo efeito das medica��es. Tudo isso sempre sozinha.”

� o que conta a seguran�a e auxiliar administrativo Ana Paula Martins, de 49 anos, que teve constatada neoplasia maligna para dois tipos de c�ncer diferentes, um adenocarcinoma e um carcinoma invasor, ambos no colo do �tero, em 2016. “Foi uma pancada para mim. E n�o pude fazer a cirurgia para retirar os tumores justamente por ter dois deles no corpo. Fiquei desestruturada e sem ch�o, e chegou um momento em que n�o conseguia mais andar. Mas encerrei o tratamento em 2018, e mesmo assim sinto dores, ainda h� sequelas”, relata Ana Paula, que, at� hoje, faz uso de morfina e demais medicamentos para al�vio de sintomas.

Eles chegam com muitas d�vidas e dificuldades em lidar com problemas corriqueiros, como queda de cabelo, feridas na boca, e inc�modos. E, por meio do projeto, integramos v�rias frentes de cuidado

Paula Mota Vasconcelos, idealizadora do projeto e professora do curso de est�tica e cosm�tica da UNA

A auxiliar administrativo relata que, inclusive, pensou, em diversos momentos durante o tratamento, em tirar a pr�pria vida. O cansa�o, o trauma de estar sozinha e as dores. Tudo isso a faziam pensar que a melhor sa�da estava em tirar o seu bem mais precioso: a vida. “As dores eram insuport�veis e as medica��es n�o resolviam. Eu n�o tinha par�metro algum na minha vida, mas com o projeto a minha vida ganhou outro rumo. Eles salvaram a minha vida”, afirma Ana Paula Martins ao relembrar o seu primeiro contato com o projeto Est�tica no P�s-c�ncer, da UNA Cidade Universit�ria.
 
Foi a� que Ana Paula Martins recuperou o bem-estar pessoal e amor pela vida, com cuidado e atendimento humanizado. “Muitas vezes, o foco do paciente est� no tratamento e nos seus resultados, e a parte da busca do bem-estar acaba sendo negligenciada. Eles chegam com muitas d�vidas e dificuldades em lidar com problemas corriqueiros e inc�modos, como pele e cabelos ressecados, feridas na boca e sangramentos nas gengivas. E, por meio do projeto, integramos v�rias frentes de cuidado”, diz a idealizadora do projeto e professora do curso de est�tica e cosm�tica Paula Mota Vasconcelos.

Jéssica Mendes de Omena Lacerda destaca que projeto proporciona conversas e um pouco de esperança

J�ssica Mendes de Omena Lacerda destaca que projeto proporciona conversas e um pouco de esperan�a

Arquivo Pessoal
Com a administradora J�ssica Mendes de Omena Lacerda, de 29, n�o foi diferente. Para ela, o projeto foi um “divisor de �guas”, algo especial em sua vida em um momento perturbador. “Fui diagnosticada com c�ncer de mama em 2018 e senti muito medo. Comecei o tratamento, fiz mastectomia – retirada do seio – e coloquei pr�tese. Fiquei muito tempo indo todos os dias ao hospital para me tratar e, hoje, estou em remiss�o. Ou seja, n�o tenho mais a doen�a no corpo, mas ainda n�o estou curada porque a doen�a pode voltar.”

“Por isso, sigo tomando rem�dios para manter o controle. E o projeto � muito especial nesse sentido, porque o tratamento � limitado � medicina e, portanto, n�o temos o acompanhamento de outras �reas, como de nutricionistas ou esteticistas. Isso faz falta. Assim sendo, temos muitas d�vidas durante todo o processo a respeito do que pode e n�o pode e dos nossos direitos, bem como sobre como proceder para cuidar dos resqu�cios da doen�a e do tratamento na pele, cabelo e unhas, por exemplo. No projeto, temos informa��o e, o mais importante, atendimento especializado para cada paciente”, relata.

J�ssica Mendes, assim como Ana Paula, sentiu no corpo toda essa aus�ncia de cuidado especializado. Elas relatam ter percebido pele e cabelo oleosos e unhas quebradi�as, por exemplo. Por�m, isso se resolveu com as recomenda��es e atendimentos no projeto. “Al�m disso, ele nos proporciona conversas e um pouco de esperan�a. Isso � essencial: sentir que tem algu�m cuidando de n�s, que est� ali conosco naquele momento”, pontua a administradora.

MAIS QUE EST�TICA 


Paula Mota Vasconcelos, idealizadora do projeto,  afirma que ele se tornou um processo de integralidade de tratamento

Paula Mota Vasconcelos, idealizadora do projeto, afirma que ele se tornou um processo de integralidade de tratamento

Mateus Baranowski/Divulga��o
De acordo com Paula Mota, idealizadora do projeto Est�tica e P�s-c�ncer, os pacientes recebem orienta��es que v�o al�m da est�tica – cabelo, pele e unha. Apesar de ter sido esse o intuito inicial, o de ajudar com informa��es e indica��es de como cuidar da autoestima ap�s o fim do tratamento de c�ncer, o projeto fez mais. A princ�pio, os pacientes t�m acesso a informa��es de como cuidar da pele e do cabelo, como melhorar a postura e a forma de vestir.

Al�m disso, recebem instru��es e incentivos para a retomada das atividades f�sicas, cuidados de higiene bucal e de preven��o de feridas na boca. H�, ainda, orienta��es profissionais para al�vio de alguns sintomas, an�lises de exames e informa��es a respeito de direitos e necessidades. O projeto se transformou em muito mais. � um processo de integralidade de tratamento. “Buscamos ajudar o paciente a diminuir todas as suas disfun��es, porque ele sofre muitas altera��es no organismo em raz�o dos processos radiol�gicos, quimioter�picos ou hormonais.”

Segundo ela, mesmo ap�s ter terminado o tratamento, o corpo demora certo tempo para se organizar fisiologicamente. Ent�o, muitas altera��es ainda s�o vis�veis e esse paciente tem altera��o na pele, na alimenta��o, dificuldade com alguns alimentos, dificuldade de usar um produto ou cosm�tico adequado. �s vezes, ele at� apresenta altera��o odontol�gica, como sangramento gengival. “Em tudo isso, buscamos ajudar, porque esse paciente no p�s-c�ncer � um paciente fragilizado. N�o s�o todos os pacientes que sofrem uma cirurgia, mas alguns, por exemplo, precisam ser ouvidos, de simplesmente falar aquilo que eles vivenciaram, porque muitas vezes, a fam�lia tem essa dificuldade”, completa.

Esse cuidado integrado � o norte principal para fazer a diferen�a na vida do paciente. � no que a aluna do curso de est�tica e cosm�tica M�rcia Pereira Rodrigues, uma das estudantes que fazer parte do projeto, acredita. “Como diz o ap�stolo Paulo, mesmo havendo muitos membros eles formam um s� corpo. Quando fizemos o nosso primeiro teleatendimento, eu pude perceber isso claramente, como que todas essas pe�as se encaixavam e o qu�o satisfat�rio � ver as pacientes recebendo as orienta��es com tanto carinho”, conta.


ATENDIMENTO 


Paula Mota conta que o projeto surgiu no fim do ano passado como iniciativa de extens�o do Centro Universit�rio UNA e far� novamente parte da grade na faculdade. A princ�pio, com o objetivo de ser presencial, as consultas foram e ser�o feitas virtualmente, em formato de teleconfer�ncia, em raz�o da pandemia de COVID-19, e atendem pacientes em remiss�o e em tratamento. “Os pacientes passam pela doen�a de forma variada. Tem-se medo, revolta, aceita��o. Tudo isso misturado.”

“E buscamos agir nisso ajudando na autoestima e nos sintomas. Por isso, fazemos uma triagem inicial, com um formul�rio, para pr�-avalia��o. Depois, fazemos agendamento com os pacientes selecionados para um encontro on-line e, a partir disso, gerenciamos as nossas consultas, com avalia��o completa do paciente pelos alunos, que s�o de �reas diversas – est�tica e cosm�tica, odontologia, enfermagem, fisioterapia, servi�o social, biomedicina e nutri��o. Assim, os alunos elaboram orienta��es espec�ficas para o paciente avaliado, aprovamos, orientamos os pacientes e tiramos todas as d�vidas.”

Para Ana Paula Martins, o c�ncer � um vulc�o adormecido, que se acalma e quando entra em erup��o danifica todo o corpo. E o projeto � como uma dose de amor e cuidado que ameniza todas as rea��es. “Voc� passa a viver com esse medo de erup��o para sempre, e sofrendo com os danos. Por�m, no projeto, pessoas t�o jovens, com amor pelo pr�ximo e pelo que fazem, sem estar ali apenas para uma forma��o, v�o al�m para atenuar esses danos e ang�stias. Elas conseguem fazer as pessoas sentirem que podem vencer”, avalia a auxiliar administrativo.

*Estagi�ria sob supervis�o 
da editora Teresa Caram