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Estado de Minas ALIMENTA��O

Insetos: o superalimento do futuro

Seguro e sustent�vel, incorporar insetos na alimenta��o humana � sa�da para o futuro dos homens e do planeta, alerta a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU)


14/02/2021 04:00 - atualizado 13/02/2021 23:07
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E 2050, seremos 10 bilhões de pessoas no mundo e a demanda por proteína animal, o que obriga a humanidade a repensar a agricultura e adotar novos hábitos alimentares
E 2050, seremos 10 bilh�es de pessoas no mundo e a demanda por prote�na animal, o que obriga a humanidade a repensar a agricultura e adotar novos h�bitos alimentares (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 11/9/19)


Eles est�o por toda parte, das regi�es polares aos desertos, de todas as cores, na terra, no ar e na �gua, estranhos, diferentes, de v�rias formas e tamanhos, s�o milh�es no mundo, � o grupo de ser vivo mais diverso e numeroso do planeta. A maior e mais bem-sucedida classe do reino animal. Falo dos insetos. E antes da express�o de nojo, da sensa��o de avers�o, preconceito ou da vontade de encerrar a leitura, o Bem Viver o convida a manter a mente aberta, prop�e descobrir ou se aprofundar em uma realidade de hoje e, seguramente, do futuro: os insetos na alimenta��o humana. Eles s�o a prote�na do futuro e � prov�vel que a maioria da popula��o mundial ir� com�-los em algumas d�cadas.

E, se n�o acredita, na verdade, � uma quest�o de sobreviv�ncia do homem e do planeta. Conforme a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), em 2050, seremos aproximadamente 10 bilh�es de pessoas no mundo, o que implica crescimento de 70% a 88% de demanda por prote�na animal, o que obriga a humanidade a produzir mais alimento do que nos �ltimos 10 mil anos. Para alimentar todos, � preciso repensar a agricultura e adotar novos h�bitos alimentares para n�o ocorrer um colapso na produ��o mundial de alimentos. Por isso, a necessidade de outras fontes de prote�nas, da� entram os insetos. Ali�s, estudos apontam que seu consumo data da pr�-hist�ria.
 
Ainda n�o est� convencido? Outro dado cient�fico, comprovado. Para a Organiza��o das Na��es Unidas para a Alimenta��o e a Agricultura (FAO), uma das ag�ncias das Na��es Unidas, a que lidera esfor�os para a erradica��o da fome e o combate � pobreza no mundo, a import�ncia dos insetos � ainda maior. Eles s�o fundamentais para a exist�ncia humana por atuar como decompositores na cadeia alimentar, reciclando mat�ria org�nica, e como polinizadores, garantindo a reprodu��o das plantas. Portanto, s�o vistos como uma solu��o sustent�vel para a crescente demanda por alimentos no pla- neta.

Como op��o proteica, os insetos apresentam vantagens nutricionais associadas a um menor impacto ambiental. Outra vantagem dos insetos, na compara��o com mam�feros e aves, � o baixo risco de transmiss�o de zoonoses, contrariando o senso comum, que os associa a doen�as. Claro, desde que criados em condi��es controladas e processados corretamente. Al�m de emitirem menos gases de efeito estufa (GEEs) que outros animais.

Se para o brasileiro � algo distante, inimagin�vel, sem tradi��o ou rela��o cultural e enfrenta resist�ncia, os insetos est�o presentes nas mesas de v�rios pa�ses da �frica, �sia e at� da Europa e Estados Unidos. Eles s�o mat�ria-prima para a nutri��o humana.

PROJETOS AMBIENTAIS 


A qu�mica Th�r�se Cibaka, de 28 anos, � da Rep�blica Democr�tica do Congo, vive em Belo Horizonte desde mar�o de 2011 e trabalha em diferentes projetos ambientais. Os insetos sempre fizeram parte da sua alimenta��o por cultura e tamb�m porque se preocupa com a alimenta��o, com agricultura familiar e com a sustentabilidade do planeta. “Sou africana e comer alguns insetos faz parte da nossa alimenta��o cotidiana. L�, comer insetos � t�o normal quanto comer frango aqui. Os insetos s�o consumidos como fonte de prote�na. No Congo, os pratos s�o constitu�dos de uma fonte de carboidrato (apenas uma, que pode ser arroz ou fufu ou chikwangue ou batata-doce etc.), uma fonte de prote�na (carne, peixe, aves, insetos) e uma fonte de fibra (os legumes, quase sempre temperados e cozidos, nunca crus).”

A química Thérèse Cibaka diz que não pretende convencer ninguém a comer insetos, mas talvez para ajudar a sustentabilidade do planeta elas possam tentar diminuir o consumo de carne
A qu�mica Th�r�se Cibaka diz que n�o pretende convencer ningu�m a comer insetos, mas talvez para ajudar a sustentabilidade do planeta elas possam tentar diminuir o consumo de carne (foto: Arquivo Pessoal)
Quanto aos insetos, Th�r�se Cibaka explica que s�o comumente preparados fritos. “A maior parte dos insetos se vende vivos para garantir o frescor. Em alguns casos, eles podem ser comercializados secos (um processo de secagem no Sol). No Congo, n�o temos pratos t�picos doces (desconhe�o), os pratos com insetos s�o salgados. Os insetos que comemos no Congo s�o grilos, lagarta branca, lagarta preta e branca, gafanhotos, besouro. Nem toda lagarta branca ou lagarta preta e amarelo � comest�vel; existem tipo espec�ficos.”
 
Th�r�se Cibaka conta que a venda e compra dos insetos � interessante tamb�m. Eles s�o cuidados nas regi�es do interior do Congo e para vender � necess�rio consultar o chefe da comunidade (da regi�o) onde est�o os insetos. Ele define qual quantidade pode ser vendida e/ou consumida. Isso ocorre para evitar o consumo exagerado e at� o desaparecimento dos insetos (levando em conta todas as consequ�ncias que isso acarreta). Alguns insetos est�o dispon�veis o ano todo, outros em �pocas espec�ficas.

Sou africana e comer alguns insetos faz parte da nossa alimenta��o cotidiana. L�, comer insetos � t�o normal quanto comer frango aqui. Os insetos s�o consumidos como fonte de prote�na

Th�r�se Cibaka, de 28 anos, qu�mica, da Rep�blica Democr�tica do Congo

A qu�mica diz que cada inseto fresco tem um sabor espec�fico. “N�o vou saber comparar todos os gostos dos insetos, mas os gafanhotos, por exemplo, t�m gosto de camar�o crocante (pessoalmente, acho mais gostosos que os camar�es, mas isso se discute). J� os insetos secos (as lagartas pretas e amarelas s�o vendidas secas), t�m um gosto marcado pelo processo de secagem, acho menos gostoso e menos caracter�stico. Os meus preferidos s�o as lagartas brancas frescas/fritas e os gafanhotos.”

Quanto � aceita��o dos insetos na alimenta��o por maior n�mero de pessoas, Th�r�se Cibaka enfatiza que, a priori, n�o pretende convencer ningu�m a comer. “Talvez a gente possa ter mais sucesso em tentar diminuir o consumo de carne para melhorar a sustentabilidade do planeta. Seria bom entender de onde vem o estranhamento. Pode ser que venha do fato de n�o ter restaurantes que ofere�am pratos com insetos, o que daria visibilidade e as pessoas poderiam se acostumar ao que se achava estranho. Assim, acho que entre comer peixe cru e gafanhotos fritinhos, os gafanhotos fritos me parecem mais 'normal'. Gosto de comida japonesa e acho que por se uma op��o t�o difundida se tornou normal. J� ouvi pessoas dizerem que o problema dos gafanhotos s�o as patinhas, mas camar�o tamb�m tem patinhas! E lembro-me de que a textura dos insetos n�o � nada muito diferente do que existe na dieta brasileira.”
 

NUTRITIVO E RICO EM PROTE�NA, GORDURA E MINERAIS

 
Eleonice Moreira Santos, professora de qu�mica de alimentos da Escola de Nutri��o da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), tem expertise no assunto. “Os insetos podem ser considerados alimentos nutritivos, por apresentar uma elevada concentra��o de prote�nas, lip�deos e minerais, contribuindo de forma significativa para a alimenta��o humana. Para alguns autores que estudam e avaliam h� mais tempo o valor nutricional dos insetos, eles s�o considerados como superalimentos”, destaca Eleonice.

Eleonice Moreira Santos, professora de química de alimentos da Escola de Nutrição da UFOP, avisa que os insetos são alimentos nutritivos pela concentração de proteínas, lipídeos e minerais
Eleonice Moreira Santos, professora de qu�mica de alimentos da Escola de Nutri��o da UFOP, avisa que os insetos s�o alimentos nutritivos pela concentra��o de prote�nas, lip�deos e minerais (foto: Arquivo Pessoal)
A professora explica que o consumo de insetos, ou entomofagia, como j� publicado pela Food and Agriculture Organization (FAO), � considerado seguro, al�m de sustent�vel. “A qualidade nutricional se deve ao elevado teor de prote�nas, �cidos graxos e minerais. Como exemplo, em um trabalho que fizemos na Escola de Nutri��o da Ufop avaliando a composi��o nutricional do grilo- preto (Gryllus assimilis) e do ten�brio gigante (Zophobas morio), o principal constituinte encontrado foi prote�na, com 65% e 46% respectivamente, seguido por lip�deos (ou gordura) e minerais.”

Em rela��o aos lip�deos (ou gordura), a composi��o dos �cidos graxos presentes nesses insetos, segundo Eleonice, � semelhante ao �leo de palma, com uma boa rela��o entre �cidos graxos saturados e insaturados. O conte�do mineral presente nesses insetos em rela��o � presen�a de ferro e zinco, por exemplo, � semelhante ao encontrado na carne bovina, e superior � carne su�na e a de frango. Outros minerais, como c�lcio e mangan�s, apresentam concentra��es maiores que as principais fontes de prote�na animal. Outros insetos, como baratas e gafanhotos, tamb�m exibem composi��o semelhante.

BARATA NO CHOCOLATE 


Os aspectos culturais em rela��o ao consumo de insetos, principalmente em pa�ses do Ocidente, s�o padr�es complexos de ser alterados. “O nojo, o preconceito e o medo de doen�as est�o associados, em partes, � falta de co- nhecimento. De certo modo, e em algum grau, todos n�s j� comemos insetos, j� que eles est�o presentes em alimentos que s�o comuns � nossa alimenta��o. Claro que dentro de uma 'faixa de contamina��o' permitida. Um exemplo? O querido chocolate. Segundo a Food and Drugs Administration (FDA), uma barra de chocolate comum tem, em m�dia, oito peda�os de insetos, e entre eles a temida barata”, informa a professora.

Eleonice Moreira Santos conta que muitas empresas, startups e institui��es de pesquisa t�m desenvolvido produtos e t�cnicas de processamento com insetos, como a desidrata��o simples ou o revestimento dos insetos desidratados com chocolate, produ��o de farinhas, isolados proteicos, barras tipo cereal, e muitos outros. “Esses produtos tendem a auxiliar a aceita��o de insetos na alimenta��o ou mesmo despertar o desejo de experimentar, nas culturas em que o h�bito de consumir insetos n�o � praticado. Como as mudan�as nas pr�ticas alimentares s�o constantes, como a vegana, que tem alcan�ado cada vez mais adeptos, e at� muito pouco tempo era desconhecida pela maioria das pessoas, existe um caminho aberto para esse ‘superalimento’”.




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