
"Estarmos unidos nesses momentos foi fundamental. Tentamos manter o equil�brio"
Silmara e Luiz Gustavo Trindade, pais de Dastan e Rayan
A webdesigner Silmara Cardoso Trindade, de 46 anos, e o administrador Luiz Gustavo Rabelo Trindade, de 47, viram os filhos manifestarem diferentes sentimentos durante a pandemia. Dastan � o ca�ula, de 9, e o mais velho � Rayan, de 16. O que parecia uma certa divers�o no in�cio, com a suspens�o das aulas, acabou se prolongando e o assunto virou coisa s�ria.
Sobre o filho menor, Silmara conta que seu forte desejo de intera��o e socializa��o com amigos e primos e o empecilho para tanto foram motivos para agita��o, tristeza e ansiedade. No caso de Rayan, que sempre foi um menino alegre, ele acabou apresentando um quadro de depress�o –, muito pelo medo de ocorrerem situa��es ruins e diante da possibilidade de morte de pessoas pr�ximas.
"Ficamos assustados. Rayan teve um estresse forte, chorava muito e parou de comer. Procuramos aux�lio na terapia on- line", diz Silmara. A webdesigner conta tamb�m que teve dificuldade em se posicionar diante dos filhos restritos ao ambiente de casa, e a necessidade de auxili�-los com as atividades escolares a dist�ncia, por exemplo, foi outro motivo de desgaste para ela.
"Ficamos cansados, exaustos. Em nossas conversas com os dois, procur�vamos demonstrar a esperan�a de que tudo ia ficar bem. Estarmos unidos nesses momentos foi fundamental. Tentamos manter o equil�brio emocional." Agora, com todos vacinados, Silmara fala sobre a dificuldade de se adaptar novamente a tudo que come�a a voltar � normalidade. "Eles est�o ansiosos, as crian�as n�o s�o mais como eram", relata.
O que a fam�lia experimenta tem sido recorrente para muita gente. Impedidas de ir � escola, privadas do conv�vio com amigos, familiares como av�s e primos, e limitadas a brincar fora de casa, as crian�as foram duramente impactadas pela pandemia. Ainda que uma alternativa seja o universo digital, com sua lista de benef�cios, o distanciamento de quem se gosta e das atividades de costume geraram preju�zos para a sa�de emocional e psicol�gica dos pequenos. � o alerta que faz o casal de m�dicos Thanguy Fri�o e Patr�cia Fri�o.
ALTERA��ES
Segundo os especialistas, � importante estar atento a alguma altera��o brusca ou exagerada de comportamento da crian�a, como agressividade, agita��o, inquietude ou dificuldade em manter a aten��o, problemas escolares e regress�o de alguma fase do desenvolvimento. "Essa faixa et�ria � mais vulner�vel a essas mudan�as que a pandemia imp�s, por estar em franca fase de amadurecimento ps�quico e de desenvolvimento f�sico e motor", esclarecem.
Thanguy e Patr�cia contam que, do in�cio da dissemina��o do coronav�rus at� hoje, t�m recebido pacientes com desequil�brios emocionais, al�m de muitas situa��es que surgem a partir do relato de pais e respons�veis pelas redes sociais, pedindo orienta��o sobre como podem ajudar os filhos. "Os problemas mais recorrentes s�o ansiedade, d�ficit de aten��o na escola e tamb�m depress�o, que vem acontecendo cada vez mais entre os mais jovens."
Dificuldade de verbalizar dores e inseguran�as
Um ponto importante a ser observado, de acordo com os m�dicos, � se as crian�as ficam doentes sem que os pais encontrem uma causa biol�gica ou f�sica para esse quadro. Isso pode acontecer, explicam, porque as crian�as muitas vezes n�o conseguem verbalizar suas dores e inseguran�as.
Dessa forma, podem aparecer sintomas comportamentais ou mesmo f�sicos. Ou seja, � o corpo falando pela crian�a. "Se seu filho ou filha est� manifestando sinais como dor de cabe�a, febre ou dor de barriga, sem que exista uma explica��o m�dica, � importante procurar ajuda profissional", orientam.
EXEMPLOS
Antes de mais nada, os pais precisam lembrar que s�o exemplos para os filhos. A crian�a pode estar vivendo uma montanha-russa de emo��es, com mudan�as de atitudes que podem acontecer de uma hora para outra. Mas, por mais tentador que possa ser, � importante que pais e m�es n�o embarquem nessa onda, nas palavras dos profissionais.
"Mantenha seus p�s no ch�o, procure se acalmar e esteja pronto para guiar seu filho quando ele retornar ao estado de tranquilidade. Talvez seja importante respirar fundo ou at� sair de perto quando ele come�ar a tirar voc� do s�rio. Se voc� conseguir manter a calma enquanto eles est�o fora de controle, estar� mais apto a falar sobre a vida deles quando a situa��o acalmar", ensinam.
Outra quest�o importante � incentivar a viver os sentimentos. "As emo��es, sejam boas ou ruins, n�o s�o erradas e os filhos n�o devem ter vergonha delas. E os educadores tamb�m t�m um papel central no ensino do controle emocional das crian�as e adolescentes", dizem Thanguy e Patr�cia.