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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Sobreviventes do c�ncer: menos rancor e mais disposi��o

Especialista em cuidados paliativos refor�a a import�ncia da aten��o de profissionais capazes de entender a dor de quem � diagnosticado com a doen�a


26/06/2022 04:00 - atualizado 25/06/2022 10:18

Oncologista Marcela Mascarenhas de Paula
A oncologista Marcela Mascarenhas de Paula destaca que ap�s um c�ncer os pacientes ficam menos rancorosos e mais dispostos a serem felizes (foto: Patr�cia Penna/Divulga��o)

Qual � a diferen�a entre viver e sobreviver diante do c�ncer – uma doen�a t�o temida e avassaladora? Segundo Marcela Mascarenhas de Paula, oncologista e paliativista do Grupo Oncocl�nicas Belo Horizonte, “ao ser diagnosticado com c�ncer, a primeira coisa que vem � mente do paciente � que um sofrimento insuport�vel o aguarda. Toma conta da imagina��o, ocupa as lembran�as e infiltra-se em todas as conversas e pensamentos”, comenta a especialista. 
 
 
“Infelizmente, muitos t�m a vida praticamente apagada pela doen�a, j� que lidam com o adoecimento de maneira diferente, amparados por suas viv�ncias. Ter algu�m que acolha esse sofrimento � uma das coisas que mais trazem paz nesse momento.  Percebo que quando a pessoa sobrevive a essa doen�a, ela passa a dar mais valor � vida, pois j� teve um contato direto com a possibilidade da morte e aceita que o futuro � imprevis�vel. Noto que os pacientes que passaram por experi�ncias dif�ceis ficam mais leves, menos rancorosos e mais dispostos a serem felizes, passando a valorizar pequenas coisas.”
 

Para a oncologista, n�o � uma quest�o de o paciente escolher viver: “H� certos tipos de c�ncer que dar�o � pessoa a oportunidade de viver e seguir em frente; mas outros, infelizmente, n�o.  Sabemos que, independentemente do diagn�stico, todos os pacientes precisam de profissionais capazes de entender a dor de cada um, ajudando-os a transformar o sofrimento em algo que fa�a sentido”, comenta.

“Mesmo aqueles pacientes com um progn�stico mais reservado, podem escolher viver o tempo que lhes resta com mais qualidade de vida. Nunca, em hip�tese alguma, devemos dizer que ’n�o h� mais nada a ser feito’. Sempre digo que em determinados momentos pode n�o haver tratamentos dispon�veis para a doen�a, mas h� muito mais a fazer pela pessoa e por seus familiares”, acrescenta a especialista.

SA�DE MENTAL Na experi�ncia de Marcela, a sa�de mental ajuda a lidar com um diagn�stico dif�cil, mas mesmo as pessoas mais fr�geis emocionalmente, se contarem com o suporte e o acolhimento da equipe multiprofissional, certamente conseguem elaborar suas dificuldades e encarar a doen�a com menos sofrimento. 

“No momento extremo da dor, vem a tristeza, o choro, o desespero e a raiva. Digo que todos esses sentimentos devem ser aceitos e experimentados, pois quando reconhecemos esse sofrimento, ele quase sempre se ameniza. E quando o negamos, ele pode se apoderar da nossa vida inteira.”

O lugar do medo

A m�dica afirma que, diante do c�ncer, o medo tem um lugar de destaque, e ele precisa ser ouvido e validado. “Da mesma forma que o medo pode nos paralisar, ele pode impulsionar a pessoa a buscar uma qualidade de vida melhor. Lidar com a finitude gera medo, mas pode tamb�m gerar pot�ncia. A doen�a d� medo, mas o sofrimento excessivo causa terror e nos impede de vislumbrar uma alternativa. � esse sofrimento que precisa ser cuidado para que o paciente possa ter a melhor qualidade de vida poss�vel.”

A f� � um instrumento sempre em voga diante do diagn�stico. Marcela explica que lidar com a doen�a n�o � somente uma quest�o de cren�a: “Sobreviver � uma quest�o, principalmente, da medicina – que nos d� a possibilidade de sermos salvos. A f� nos qualifica para lutar, como se nos desse um arsenal para encararmos a luta, mas h� diversas variantes nessa luta: m�dico, doen�a, medicamentos e tamb�m a f�”.

O c�ncer ainda carrega a marca do nome, muitas vezes evitado, al�m de ser recebido por muitos como senten�a de morte: “C�ncer � o nome dado a um conjunto de mais de 100 doen�as que t�m em comum o crescimento desordenado de c�lulas que invadem tecidos e �rg�os. Podemos perceber que � uma doen�a extremamente heterog�nea, com comportamentos vari�veis. Vimos ao longo do tempo o advento de novos tratamentos e melhora do suporte cl�nico, gerando um aumento importante no tempo de vida e na qualidade de vida dos pacientes oncol�gicos”. 
 

Marcela ressalta que n�o � correto generalizar. Cada pessoa reage de uma maneira singular diante da doen�a. O importante � que ela seja acolhida. “O que sabemos � que precisamos fazer parte do instrumento que transforma sofrimento em al�vio. No meu dia a dia, vejo que quando o paciente percebe que pode estar caminhando com uma doen�a que amea�a seriamente sua vida, h� uma transforma��o importante na sua percep��o de mundo. Nosso objetivo � estar presente ao lado do paciente, acolhendo sua dor (n�o somente a dor f�sica) e trabalhando para que seu sofrimento seja amenizado.”

Cuidados paliativos promovem qualidade de vida dos pacientes e suas fam�lias


O cuidado paliativo, esclarece a especialista, � uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doen�as que ameacem a continuidade da vida, por meio da preven��o e al�vio do sofrimento. 

“Diferentemente do que muitos pensam, a medicina paliativa n�o vem quando ‘n�o existe mais nada a ser feito’. Trabalhamos em conjunto com a equipe assistente para promover uma melhor assist�ncia aos pacientes e seus familiares. Estudos evidenciam que pacientes oncol�gicos em acompanhamento com equipes de cuidados paliativos t�m melhor qualidade de vida e, por muitas vezes, podem viver por mais tempo”, diz. 

“A base do cuidado paliativo ï¿½ promover o al�vio do sofrimento f�sico, mas o paciente � visto em todas as suas dimens�es. O objetivo � que todos os procedimentos diagn�sticos e terap�uticos propostos devem ter como finalidade a manuten��o do conforto, dignidade, qualidade, significado e valor da vida, em todas as suas dimens�es.” 
  
DESAFIO A oncologista destaca que, felizmente, o acesso dos pacientes aos cuidados paliativos vem sendo cada vez mais frequente, tanto no Sistema �nico de Sa�de (SUS) quanto na rede privada. “O grande desafio � dedicar ainda mais qualidade de tempo e atendimento aos pacientes em cuidados paliativos. � necess�rio, tamb�m, garantir que ele, ao sair da consulta, esteja acolhido, sabendo que, caso tenha dor, que a dor dele vai melhorar; que a fam�lia dele saiba que, mesmo no momento mais dif�cil da vida deles, eles n�o estar�o sozinhos; que esse sofrimento vai ser cuidado pela equipe.” 

“Portanto, acredito que o maior desafio para a rede p�blica e privada � atender a todas as demandas e conseguir oferecer um cuidado pr�ximo a todos aqueles que necessitam.”

Em seu trabalho, Marcela Mascarenhas de Paula revela que busca responder a uma �nica pergunta: “O que eu posso fazer para aquela situa��o ser menos dolorosa e o menos dif�cil poss�vel? O que tenho que aprender para estar l�, ao lado daquela pessoa e dos seus familiares, e fazer com que aquilo seja vivido de uma forma menos sofrida do que se eu n�o estivesse presente? Enquanto as pessoas n�o olharem para a morte com a honestidade de perguntar a ela o que h� de mais importante sobre a vida, ningu�m ter� a chance de saber a resposta. A melhor coisa que posso fazer por algu�m nesse momento � estar presente. Presente ao lado dessa fam�lia, diante dela, por ela e para ela.”


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