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Estado de Minas ODONTOLOGIA

Como cuidado com gengiva e dentes afeta sa�de, de Alzheimer a diabetes

Longe de ser restrita a dores e inflama��es, nossa sa�de bucal afeta desde nossa alimenta��o at� o bem-estar geral


14/07/2022 07:53 - atualizado 14/07/2022 12:19
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Dentes de uma pessoa
A sa�de bucal vai muito al�m das fronteiras da boca, afetando desde o c�rebro at� o cora��o (foto: Getty Images)

Os seus dentes e sua gengiva t�m amplo impacto sobre a sa�de - desde o risco de doen�a de Alzheimer at� a diabete e doen�as cardiovasculares.

 

Encavalados, desalinhados, cheios de c�ries e com gengivas inflamadas, nossos dentes s�o conhecidos pelas suas imperfei��es. O ser humano moderno � uma esp�cie �nica pelo n�vel de interven��es di�rias meticulosas que precisamos fazer para garantir que nossos dentes e gengivas n�o fiquem doentes.

Longe de ser restrita �s dores de dentes e gengivas inflamadas, nossa sa�de bucal afeta tudo, desde nossa alimenta��o at� o bem-estar geral e o risco de morte por outros motivos.

 

 

 

Isso ocorre porque as doen�as orais nem sempre se restringem � boca. Est� sendo descoberta uma rela��o estreita entre a sa�de bucal e algumas das doen�as mais preocupantes do mundo, como as cardiovasculares, a diabetes e Alzheimer, reiterando o papel da boca como espelho da sa�de e da doen�a e como sentinela do nosso bem-estar geral.

 

Leia tamb�m: Laser na odontologia: tecnologia e inova��o transformam sorrisos  

 

Mas, infelizmente, talvez a caracter�stica mais marcante da sa�de bucal seja a mais frequentemente ignorada.

 

A periodontite � a segunda doen�a bucal mais frequente do mundo (atr�s somente das c�ries) e a 11ª doen�a mais comum do planeta. Ela afeta mais de 47% dos adultos com mais de 30 anos de idade. E, entre as pessoas com 65 anos ou mais, 64% t�m periodontite grave ou moderada.

 

A periodontite � uma infec��o localizada n�o na superf�cie da gengiva, que voc� pode ver quando sorri, mas bem abaixo dela. Ap�s uma fase inicial de inflama��o superficial na parte vis�vel da gengiva (a gengivite), as bact�rias se movem para baixo, sob a linha da gengiva, at� formarem bols�es nas ra�zes dos dentes, onde corroem as estruturas que mant�m os dentes no lugar.

 

Devido � natureza oculta da periodontite, muitas pessoas n�o sabem que t�m a doen�a at� que ela atinja est�gios muito avan�ados. A periodontite tem um componente gen�tico e tamb�m � influenciada pela higiene bucal.

 

Para a maioria das pessoas, a doen�a n�o pode ser observada at� os 40 ou 50 anos de idade, segundo Sim K. Singhrao, pesquisadora s�nior da faculdade de Odontologia da Universidade do Centro de Lancashire, no Reino Unido. Com essa idade, danos s�rios podem j� ter prejudicado a estrutura dent�ria, sujeitando a pessoa a perder os dentes.

 

A essa altura, a infec��o j� ter� fornecido um fluxo cont�nuo de bact�rias como Treponema denticola e Porphyromonas gingivalis para a corrente sangu�nea por d�cadas. E � essa presen�a cont�nua de bact�rias causadoras de doen�as nas gengivas e no fluxo sangu�neo que afeta nossa sa�de muito al�m da boca.


Raio-x dentário
Parte do risco da periodontite � que ela n�o � detectada em muitos pacientes, pois normalmente n�o apresenta sintomas (foto: Getty Images)

O sangue como meio de transporte

"Se voc� imaginar o fluxo sangu�neo como um �nibus, ele levar� passageiros - como as bact�rias da boca - para todas as partes do corpo", explica Singhrao. "Alguns ir�o desembarcar no c�rebro, outros nas art�rias e alguns, no p�ncreas ou no f�gado."

 

Se esses �rg�os tiverem vulnerabilidades ou os micr�bios n�o forem efetivamente eliminados, as bact�rias causam inflama��es e iniciam ou agravam outras doen�as inflamat�rias.

 

De fato, a periodontite est� relacionada a uma enorme lista das doen�as n�o transmiss�veis mais frequentes do mundo: doen�as cardiovasculares, diabetes, Alzheimer, obesidade, diversos tipos de c�ncer, artrite reumatoide, Parkinson, pneumonia e complica��es da gravidez.

Para muitas dessas condi��es, � uma via de m�o dupla. A periodontite pode piorar condi��es como a arteriosclerose (o endurecimento das paredes arteriais), e a presen�a de arteriosclerose tamb�m predisp�e os pacientes � periodontite, por exemplo.

 

N�o existem estudos cl�nicos randomizados controlados (RCT, na sigla em ingl�s) - considerados o padr�o-ouro da pesquisa m�dica - que examinem essa correla��o, porque seria dif�cil sua condu��o �tica, negando a um grupo o tratamento da periodontite por um per�odo prolongado para ver como isso afetaria sua arteriosclerose.

 

Mas as bact�rias causadoras da periodontite normalmente encontradas na boca j� foram encontradas em placas arterioscler�ticas.

Periodontite e diabete

De todas as condi��es cr�nicas de sa�de, a diabetes tem a liga��o de m�o dupla mais forte com a periodontite. Pessoas com diabetes tipo 2 apresentam tr�s vezes mais risco de desenvolver periodontite. J� entre as pessoas que t�m diabetes tipo 2 e periodontite, a infec��o piora a capacidade do corpo de controlar os n�veis de a��car no sangue.

 

Mas o que h� por tr�s dessa correla��o?


Escovas de dente
A periodontite tem um componente gen�tico, mas � poss�vel minimizar o risco de desenvolver a doen�a com higiene bucal cuidadosa (foto: Getty Images)

A raz�o � o fluxo cont�nuo de bact�rias dos bols�es no fundo da gengiva para a corrente sangu�nea.

Quando o sistema imunol�gico detecta bact�rias ou outros pat�genos, as c�lulas imunol�gicas liberam uma barreira de mol�culas mensageiras celulares, conhecidas como marcadores inflamat�rios. Esses marcadores ajudam o sistema imunol�gico a atacar e destruir os pat�genos invasores.

 

O incha�o e a vermelhid�o que surgem momentos ap�s uma ferida s�o o resultado dessa eficiente rea��o inflamat�ria. No curto prazo, os marcadores inflamat�rios agem como excelentes guias para o sistema imunol�gico at� o local da prov�vel infec��o. Mas, quando estes sentinelas permanecem no corpo, causam uma s�rie de problemas.

 

A maior parte das condi��es relacionadas � periodontite tem um elemento inflamat�rio bem estabelecido. Cerca de 30 anos atr�s, por exemplo, descobriu-se que um marcador inflamat�rio chamado fator de necrose tumoral alfa aumenta a resist�ncia � insulina em pacientes diab�ticos.

 

Essa revela��o foi rapidamente seguida pela descoberta de uma s�rie de outros marcadores inflamat�rios que agravam a obesidade e a diabetes tipo 2. E essa densa rede de marcadores inflamat�rios levou a pesquisas para tentar tratar a diabete reprimindo as inflama��es cr�nicas. 

Mas o fluxo constante de bact�rias de uma infec��o oculta na gengiva faz exatamente o contr�rio.

"Todas as doen�as inflamat�rias est�o conectadas e influenciam umas �s outras", afirma Palle Holmstrup, professor em�rito do departamento de Odontologia da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. "A periodontite � uma das doen�as inflamat�rias mais comuns, se n�o a mais comum, do corpo humano."

"S�o os mesmos mediadores inflamat�rios que s�o ativos em diversos tipos de doen�as inflamat�rias - artrite reumatoide, doen�as card�acas, diabetes e assim por diante. Se voc� tiver periodontite, voc� ter� aumento do n�vel de inflama��es sist�micas de baixo grau", afirma Holmstrup.

 

Em seres humanos, � dif�cil pesquisar diretamente como o tratamento de periodontite pode reduzir condi��es como a diabetes, pelas mesmas raz�es �ticas da arteriosclerose: voc� n�o pode negar a um paciente o tratamento da sua doen�a, especialmente se voc� suspeita que ela pode agravar suas outras condi��es.

 

Isso torna especialmente dif�cil o estudo desse complexo n� de doen�as inflamat�rias conectadas e a identifica��o das suas rela��es causais.

 

Mas o grupo de Holmstrup mediu o efeito da periodontite sobre a diabetes em ratos. Seu grupo pesquisou a diferen�a da rea��o sobre o a��car no sangue entre ratos diab�ticos que tinham condi��es similares � periodontite e ratos diab�ticos que n�o apresentavam essas condi��es. A periodontite gerou aumento de 30% do pico de a��car ap�s as refei��es.

A periodontite e o risco de dem�ncia

O desfecho da periodontite, quando agressiva e n�o tratada, � a perda dos dentes. Ap�s d�cadas de inflama��es cr�nicas, a perda dos dentes causa uma s�rie de novos riscos � sa�de, que incluem decl�nios cognitivos e dem�ncia.

 

Bei Wu, professora de Sa�de Global da Faculdade de Enfermagem Rory Meyers da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, descobriu uma rela��o dependente da dosagem: quanto mais dentes voc� perder, maior o seu risco de dem�ncia e de decl�nios cognitivos.

 

No maior estudo da sua esp�cie, Wu estudou os dados de sa�de de 34 mil pacientes nos Estados Unidos e concluiu que, para cada dente perdido por uma pessoa, existe um aumento de 1,4% do risco de impedimentos cognitivos e 1,1% do risco de dem�ncia. Ao todo, os que haviam perdido dentes tinham 48% mais risco de impedimentos cognitivos e 28% mais risco de dem�ncia, em compara��o com indiv�duos que tinham todos os dentes.

 

A perda de dentes vem sendo negligenciada, em grande parte, como fator de risco para dem�ncia. Wu afirma que costuma ser recebida com surpresa quando indica a rela��o entre ambas.

"A sa�de bucal � a pe�a que faltava", diz Wu. "Estamos tentando fornecer as provas que demonstram que ela deve fazer parte da equa��o."

 

Embora a periodontite possa ser uma causa comum de perda dos dentes, pode haver outros respons�veis por esses efeitos al�m da inflama��o. At� o momento, os estudos de Wu sobre a perda dos dentes pesquisaram apenas as correla��es e n�o as causas, mas ela quer investigar o papel da nutri��o nessa rela��o, entre outros fatores.

 

"A boa sa�de dos dentes pode melhorar a ingest�o de nutrientes e tamb�m a mastiga��o", explica Wu. "Isso tem o potencial de aumentar o fluxo sangu�neo, o que pode causar impactos sobre as fun��es cognitivas - mas ainda � apenas uma hip�tese."

 

A descoberta de rela��es entre a sa�de bucal e esse conjunto de outras condi��es tem um aspecto muito significativo: � f�cil reduzir o risco de contrair periodontite ou trat�-la de forma eficaz, se voc� j� tiver a doen�a.

 

"Se escovarmos nossos dentes adequadamente e tivermos boa higiene bucal, podemos evitar o surgimento da periodontite", afirma Wu.

 

Mas, se a doen�a realmente surgir, ela pode ser tratada nos est�gios iniciais com raspagem e alisamento das ra�zes, que retira os micr�bios da superf�cie inferior dos dentes, acima e um pouco abaixo da linha da gengiva.

 

Em caso de periodontite grave, a solu��o pode incluir o tratamento cir�rgico, "o que significa que voc� solta o tecido mole da gengiva, limpa as superf�cies das ra�zes e coloca o tecido de volta", segundo Holmstrup.

O problema est� mesmo na detec��o da doen�a, devido � sua natureza frequentemente sem sintomas, aliada ao equ�voco comum de que voc� s� precisa ir ao dentista se sentir fortes dores de dentes.

Neste caso, a solu��o novamente � simples: n�o deixe de se consultar com seu dentista.

 

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

 

- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/geral-62142795

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