Estudo mostrou que diminuir o consumo de prote�nas para 0,8g por quilo de peso corporal foi suficiente para atingir quase os mesmos resultados cl�nicos de uma dieta com restri��o cal�rica
Silvia/Pixabay
Estabelecer uma dieta adequada faz parte da rotina de pessoas com s�ndrome metab�lica: um conjunto de condi��es como hipertens�o, n�vel elevado de a��car no sangue, ac�mulo de gordura na cintura e colesterol excessivo, que aumenta o risco de doen�a card�aca, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes. Em busca de novas estrat�gias alimentares para esse grupo, pesquisadores brasileiros e dinamarqueses compararam os efeitos entre a restri��o proteica e cal�rica na alimenta��o.
Os resultados, publicados na revista Nutrients, sugerem que reduzir a quantidade de prote�nas � t�o eficaz quanto cortar calorias, o que aumenta o arsenal terap�utico para lidar com um problema com preval�ncia estimada em 38% na popula��o adulta brasileira. "O estudo mostrou que diminuir o consumo de prote�nas para 0,8g por quilo de peso corporal foi suficiente para atingir quase os mesmos resultados cl�nicos de uma dieta com restri��o cal�rica, mas sem a necessidade de reduzir as calorias ingeridas", destaca Rafael Ferraz Bannitz, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da Universidade de S�o Paulo (FMRP-USP) e primeiro autor do artigo (leia entrevista nesta p�gina).
De acordo com o pesquisador, os resultados sugerem a possibilidade de a diminui��o da ingest�o de prote�na ser um dos principais fatores que levam aos efeitos reconhecidamente ben�ficos da modera��o alimentar. "Com isso, a dieta de restri��o de prote�nas pode ser uma estrat�gia nutricional mais atrativa e relativamente mais simples de ser seguida por indiv�duos com s�ndrome metab�lica", afirmou.
Foram selecionados 21 participantes, e todos tinham diagn�stico de s�ndrome metab�lica. Eles foram divididos em dois grupos e, durante todo o per�odo, permaneceram internados no Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da Universidade de S�o Paulo (FMRP-USP), para que os profissionais monitorassem e garantissem que a dieta seria seguida corretamente.
Dieta individualizada
A necessidade cal�rica di�ria de cada participante foi calculada de forma individual, com base no gasto de energia em repouso, chamado metabolismo basal. A investiga��o envolveu uma equipe multidisciplinar e internacional com cientistas da Universidade de S�o Paulo (USP), da Universidade de Copenhage (Dinamarca), do Instituto Nacional do C�ncer (Inca) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) — um Centro de Pesquisa, Inova��o e Difus�o (Cepid) da (Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo (Fapesp), sediado na Universidade de Campinas (Unicamp).
Os pacientes do primeiro grupo receberam uma dieta individualizada com 25% menos calorias que o considerado ideal. A escolha dos alimentos foi feita de acordo com o padr�o recomendado para a popula��o em geral (50% carboidrato, 20% prote�na e 30% gordura). No segundo grupo, embora o valor de calorias indicado para cada indiv�duo fosse respeitado (nunca ultrapassado), a propor��o de prote�nas da dieta foi reduzida, ficando em cerca de 10% (60% carboidrato e 30% gordura). Ambos os grupos consumiram apenas 2g de sal por dia.
A pesquisa mostrou que tanto a dieta de restri��o cal�rica quanto a de restri��o proteica promoveram perda de peso devido � redu��o da gordura corporal e, desse modo, melhoraram os sintomas da s�ndrome metab�lica. Ainda segundo o estudo, a diminui��o da massa de gordura est� ligada � redu��o de glicemia, dos n�veis lip�dicos e da press�o arterial.
"Ap�s os dias de monitoramento, os dois grupos tiveram resultados semelhantes: redu��o dos n�veis glic�micos, perda de peso, controle da press�o arterial e queda dos n�veis de triglic�rides e colesterol", relatou Maria Cristina Foss de Freitas, professora da FMRP-USP e coordenadora do estudo, � Ag�ncia Fapesp. "Tanto a dieta de restri��o cal�rica quanto a que reduziu o consumo de prote�na melhoraram a sensibilidade � insulina ap�s o tratamento. Os pacientes tiveram ainda diminui��o da gordura corporal, especialmente na regi�o da circunfer�ncia abdominal e de quadril, por�m, sem redu��o da massa magra (m�sculos)", afirmou.
Controle
Os resultados confirmaram pesquisas anteriores realizadas em camundongos, explicou a pesquisadora. "S� que, desta vez, conseguimos fazer um estudo cl�nico randomizado e totalmente controlado durante 27 dias, com card�pio personalizado segundo as necessidades de cada paciente", disse Maria Cristina Freitas � ag�ncia Fapesp. O atual estudo mostrou que para bons resultados em humanos, � necess�ria apenas uma reestrutura��o dos macronutrientes — considerados os nutrientes "grandes", a prote�na, gordura ou carboidrato — de uma dieta para que os benef�cios sejam percebidos.
"Alguns anos atr�s, muitos acreditavam que a restri��o de carboidratos era eficiente para o controle da s�ndrome metab�lica. Nosso artigo mostrou que a modula��o de um macronutriente, nesse caso, a prote�na, � suficiente para reduzir o peso corporal, a glicose e os lip�dios no sangue e controlar a press�o arterial", comenta Ferraz Bannitz. Al�m disso, ressaltou o especialista, a massa magra � mantida mesmo com a perda da gordura e, dessa forma, o paciente n�o enfrenta o problema de reduzir tamb�m a massa muscular.
"Devido � limita��o dos estudos cl�nicos, os mecanismos moleculares ainda n�o est�o totalmente compreendidos", reconheceu o pesquisador. Sendo assim, ainda n�o h� explica��es sobre o motivo da restri��o proteica ser ben�fica, mas a suposi��o dos cientistas � de que o consumo m�nimo de prote�nas promova altera��o no metabolismo dos pacientes, ou seja, uma melhora na capacidade do organismo em propiciar a queima de gordura como forma de produ��o de energia para as c�lulas.
"Temos apenas hip�teses ainda, e uma delas seria a ativa��o de vias moleculares que interpretam a redu��o de amino�cidos essenciais como sendo um sinal de redu��o da ingest�o alimentar, levando, assim, � produ��o de horm�nios normalmente aumentados durante o jejum", explicou � Ag�ncia Fapesp Marcelo Mori, coordenador do Projeto Tem�tico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cujo objetivo � mimetizar, por meio de diferentes estrat�gias, os efeitos da restri��o cal�rica. "Estudos em modelo animal j� demonstraram que essas vias est�o envolvidas tanto nos efeitos da dieta de restri��o cal�rica quanto na de restri��o proteica, fazendo com que haja perda de gordura nos dois casos."
Mori, por�m, ressaltou que a pesquisa foi realizada com uma popula��o espec�fica: pacientes com s�ndrome metab�lica que apresentavam diabetes, obesidade, hipertens�o e colesterol alto. "No entanto, fica dif�cil n�o pensar em extrapolar esse resultado. Sabemos que uma dieta vegana tem se mostrado positiva para casos de s�ndrome metab�lica e tamb�m j� foi verificado que o excesso de ingest�o proteica, como � o padr�o ocidental, pode ser um problema. Por isso, � preciso avaliar caso a caso. N�o se pode esquecer que a car�ncia de prote�na pode levar a problemas graves", finalizou o pesquisador.
Naum Charles, conselheiro do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) que n�o participou do estudo, compartilha da mesma opini�o. "� preciso ser acompanhado por um nutricionista para avaliar, ao longo do tempo, poss�veis defici�ncias nutricionais. Os requisitos levados devem ser, em primeiro lugar, o respeito das escolhas alimentares e da filosofia de vida de cada indiv�duo", assinalou.
Tr�s perguntas para...
Rafael Ferraz Bannitz, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da Universidade de S�o Paulo (FMRP-USP)
USP/Divulga��o
Rafael Ferraz Bannitz, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto da Universidade de S�o Paulo (FMRP-USP)
Existe algum risco de um d�ficit de prote�nas a longo prazo?
Essa dieta foi desenvolvida para ser aplicada em indiv�duos que apresentam obesidade, diabetes e hipertens�o arterial. Os nossos dados mostram que a dieta de restri��o de prote�nas � eficiente para esse grupo de pessoas. N�o h� risco de d�ficit. A dieta de restri��o proteica foi calculada utilizando o m�nimo necess�rio de prote�nas recomendado para uma refei��o ideal.
Qual � a dieta convencional aplicada a pacientes com s�ndrome metab�lica hoje?
N�o existe uma dieta convencional para indiv�duos com SM (s�ndrome metab�lica). Alguns anos atr�s, muitos acreditavam que a restri��o de carboidratos era eficiente para o controle da SM. O nosso artigo mostrou que a modula��o de um macronutriente, nesse caso a prote�na, � suficiente para reduzir o peso corporal, reduzir a glicose e lip�dios no sangue e controlar a press�o arterial.
Como voc�s chegaram a esse valor ideal de prote�nas para o estudo? Para que esses resultados sejam solidificados e utilizados, de fato, em campo, � preciso realizar mais alguma investiga��o?
S� reduzimos a porcentagem de prote�na na dieta ao m�nimo recomendado para uma dieta ideal. O nosso artigo mostrou de forma sistem�tica e controlada a melhora cl�nica em indiv�duos que foram submetidos a dieta de restri��o de prote�nas. A metodologia utilizada em nosso estudo demonstrou a efic�cia da restri��o de prote�nas no controle da s�ndrome metab�lica. No entanto, devido � limita��o dos estudos cl�nicos, os mecanismos moleculares ainda n�o est�o totalmente compreendidos. Por isso, precisamos de novos estudos para responder essa pergunta.
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