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Um levantamento feito em 2009 nos Estados Unidos calculou que apenas 43% dos tabagistas acreditam que o fumo de terceira m�o seria danoso �s crian�as, enquanto que 84% deles dizem conhecer bem os perigos do fumo passivo.
Os especialistas alertam que o contato com esses compostos qu�micos pode fazer mal � sa�de — e j� existem alguns trabalhos preliminares, feitos em roedores, que apontam o risco de problemas comportamentais, como a hiperatividade, e at� de les�es em �rg�os como os pulm�es e o f�gado. Entenda a seguir o que j� se sabe sobre esse fen�meno e o que pode ser feito para evit�-lo.
Mol�culas impregnadas
Segundo o De acordo com o Minist�rio da Sa�de, o cigarro carrega mais de 4,7 mil subst�ncias t�xicas. Algumas delas, como a nicotina, a naftalina e os formalde�dos, s�o liberadas durante o processo de queima e ficam vagando pelo ambiente misturadas � fuma�a.
Aos poucos, elas "grudam" nas superf�cies e nos objetos, principalmente naqueles que s�o revestidos por tecidos, como tapetes, carpetes, toalhas, cortinas e na pr�pria roupa. Muitos desses compostos tamb�m j� foram detectados "agarrados" aos m�veis e � tinta das paredes.
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O primeiro trabalho sobre o tema foi publicado em 1953 por m�dicos americanos. Eles demonstraram que a nicotina se condensa (passa do estado gasoso para o l�quido) e, quando aplicada nas costas de ratos, causaria tumores de pele.
Em 1991, uma investiga��o feita na Dinamarca encontrou part�culas dessa mesma subst�ncia (que causa uma depend�ncia qu�mica muito forte) na poeira de casas onde moravam fumantes.
J� em 2008, um grupo da Universidade Estadual de San Diego, nos EUA, avaliou subst�ncias encontradas nos carros de tabagistas e descobriu que at� o painel do ve�culo carrega poluentes encontrados nesse produto, mesmo que a pessoa n�o tenha o costume de acender o cigarro quando est� dirigindo.
Mais recentemente, em mar�o de 2020, uma equipe da Universidade Yale, tamb�m nos Estados Unidos, mediu a presen�a de alguns desses compostos qu�micos numa sala de cinema.
Os cientistas descobriram que em filmes com uma classifica��o et�ria mais restrita (o que indica a presen�a de um n�mero maior de adultos e possivelmente mais fumantes naquele espa�o fechado) h� uma concentra��o consider�vel de compostos danosos � sa�de, mesmo que seja proibido fumar neste local.
Os autores ent�o conclu�ram que os fumantes carregam consigo esses qu�micos por meio da pele e das roupas, mesmo que n�o estejam tragando um cigarro naquele exato momento. Eles estimaram que a quantidade de compostos "agarrados" ao corpo dessas pessoas chega a equivaler ao contato de um a dez cigarros pelo fumo passivo.
Por fim, Cruz cita um trabalho publicado em fevereiro deste ano, em que os cientistas analisaram a presen�a de nicotina nas m�os de crian�as.
De 311 volunt�rios com menos de 12 anos que n�o tinham contato direto com algum fumante, 296 (ou 95% do total) apresentavam essa subst�ncia na superf�cie da pele.
J� num grupo de 193 crian�as cujos familiares s�o usu�rios do tabaco, essa taxa chegou a 97,9%.

Riscos pouco conhecidos
Embora os especialistas se preocupem com essa exposi��o a tantos compostos qu�micos, s�o poucas as pesquisas que estimam com exatid�o os impactos do fumo de terceira m�o na sa�de. Um estudo feito na Universidade da Calif�rnia em Riverside, nos EUA, avaliou em roedores os poss�veis estragos do contato de terceira m�o com as subst�ncias do cigarro.
Depois de um tempo, os animais expostos a objetos contaminados por esses compostos qu�micos foram diagnosticados com alguns problemas f�sicos e comportamentais.
As cobaias sofreram com danos nos pulm�es e tinham mais propens�o a condi��es inflamat�rias, como a Doen�a Pulmonar Obstrutiva Cr�nica (DPOC) e a asma. Eles tamb�m apresentaram altera��es no f�gado que precedem quadros como cirrose, c�ncer e doen�as cardiovasculares.
Os cientistas tamb�m realizaram testes comportamentais e viram que os ratos expostos ao fumo de terceira m�o demonstravam com mais frequ�ncia sinais de hiperatividade.
Que fique claro: pesquisas desse tipo s�o consideradas preliminares e n�o � poss�vel afirmar com toda a certeza que esses mesmos problemas se repetem nas pessoas. Mesmo assim, elas servem de base para que outros estudos, com volunt�rios humanos, possam acontecer no futuro.
"Infelizmente, ainda s�o poucos os dados que temos sobre o fumo de terceira m�o ou do quanto risco ele representa para o desenvolvimento de um c�ncer", admite Cruz.
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"Mesmo assim, esse problema deve ser encarado com preocupa��o, ainda mais quando consideramos as crian�as, que t�m contato com muitas superf�cies contaminadas", complementa o oncologista.
A pr�pria estatura do p�blico infantil j� facilita essa proximidade com tapetes e m�veis onde esses compostos do cigarro se depositam.
Al�m disso, os pequenos correm maior risco por levarem a m�o � boca com mais frequ�ncia e estarem num est�gio de forma��o dos �rg�os vitais e do pr�prio sistema imunol�gico.
O que fazer?
Os especialistas apontam que a recomenda��o mais �bvia para diminuir o risco do fumo direto, passivo ou de terceira m�o � simplesmente n�o fumar.
Existem tratamentos que ajudam a largar o v�cio — alguns deles est�o dispon�veis, inclusive, no Sistema �nico de Sa�de (SUS).
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) calcula que o cigarro causa mais de 8 milh�es de mortes todos os anos.
O contato direto ou indireto com todas as milhares de subst�ncias contribui para o desenvolvimento de mais de 15 tipos de c�ncer diferentes, al�m de estar relacionado com infarto, acidente vascular cerebral (AVC), DPOC, tuberculose, infec��es respirat�rias, �lceras no est�mago e no intestino, impot�ncia sexual, infertilidade e catarata.
O Instituto Nacional de C�ncer (Inca) estima que 443 brasileiros morram todos os dias por causa do tabagismo. Por ano, 161 mil mortes relacionadas ao cigarro poderiam ser evitadas no pa�s.

J� para aqueles que n�o desejam abandonar o cigarro agora, a dica � nunca fumar em ambientes fechados ou pr�ximos demais da casa, do escrit�rio ou de espa�os p�blicos.
A remo��o de muitos desses compostos qu�micos que est�o "agarrados" em objetos e superf�cies parece algo dif�cil de fazer. Uma publica��o dos Centros de Tratamento do C�ncer da Am�rica, nos EUA, aponta que "os m�todos de limpeza normais n�o s�o efetivos contra esses poluentes". "Na maioria das vezes, a �nica op��o � trocar carpetes e pintar de novo as paredes da casa", informa o texto.
Para Cruz, o conceito do fumo de terceira m�o "refor�a como � importante manter o ambiente limpo e livre do cigarro". "Como se sabe, algumas dessas subst�ncias podem ficar impregnadas por semanas, meses ou at� anos e eventualmente prejudicar a sa�de de pessoas que nem estavam ali junto com os fumantes."
"Estamos t�o habituados a falar dos riscos do tabagismo ou do fumo passivo que �s vezes esquecemos desses efeitos indiretos. Ou seja, n�o basta apenas fumar num outro c�modo da casa ou abrir uma janela para dissipar a fuma�a", continua o oncologista. "� preciso pensar nas crian�as e em como um h�bito pode fazer mal a toda uma popula��o que � mais vulner�vel", conclui.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62717719
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