(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMBATE AO FUMO

Fumo de terceira m�o: como subst�ncias do cigarro 'se agarram' a objetos

Essa forma de contato com compostos qu�micos que impregnam tecidos, m�veis e paredes preocupam especialistas


30/08/2022 08:53 - atualizado 30/08/2022 09:18

Cigarro e cinzeiro em cima de um sofá
Malef�cios do fumo de terceira m�o ainda n�o s�o completamente conhecidos (foto: Getty Images)
Voc� j� ouviu falar de fumo de terceira m�o? O conceito � direto e simples: as subst�ncias liberadas durante a queima do cigarro impregnam m�veis, tecidos ou paredes. "E elas podem permanecer nesses objetos e superf�cies por dias, semanas, meses ou at� anos e representam riscos � sa�de", completa o oncologista cl�nico Marcelo Cruz, do Hospital S�rio-Liban�s, em S�o Paulo.

Embora esse problema seja descrito em trabalhos cient�ficos desde a d�cada de 1950, ele � pouco conhecido em compara��o com o fumo passivo — quando um indiv�duo que n�o � usu�rio do tabaco inala diretamente a fuma�a baforada por algu�m que esteja pr�ximo.

Um levantamento feito em 2009 nos Estados Unidos calculou que apenas 43% dos tabagistas acreditam que o fumo de terceira m�o seria danoso �s crian�as, enquanto que 84% deles dizem conhecer bem os perigos do fumo passivo.

Os especialistas alertam que o contato com esses compostos qu�micos pode fazer mal � sa�de — e j� existem alguns trabalhos preliminares, feitos em roedores, que apontam o risco de problemas comportamentais, como a hiperatividade, e at� de les�es em �rg�os como os pulm�es e o f�gado. Entenda a seguir o que j� se sabe sobre esse fen�meno e o que pode ser feito para evit�-lo.

Mol�culas impregnadas

Segundo o De acordo com o Minist�rio da Sa�de, o cigarro carrega mais de 4,7 mil subst�ncias t�xicas. Algumas delas, como a nicotina, a naftalina e os formalde�dos, s�o liberadas durante o processo de queima e ficam vagando pelo ambiente misturadas � fuma�a.

Aos poucos, elas "grudam" nas superf�cies e nos objetos, principalmente naqueles que s�o revestidos por tecidos, como tapetes, carpetes, toalhas, cortinas e na pr�pria roupa. Muitos desses compostos tamb�m j� foram detectados "agarrados" aos m�veis e � tinta das paredes.

Leia tamb�m: Quase 20% dos jovens usam cigarro eletr�nico no Brasil, segundo pesquisa.

 

O primeiro trabalho sobre o tema foi publicado em 1953 por m�dicos americanos. Eles demonstraram que a nicotina se condensa (passa do estado gasoso para o l�quido) e, quando aplicada nas costas de ratos, causaria tumores de pele.

 

Em 1991, uma investiga��o feita na Dinamarca encontrou part�culas dessa mesma subst�ncia (que causa uma depend�ncia qu�mica muito forte) na poeira de casas onde moravam fumantes.

J� em 2008, um grupo da Universidade Estadual de San Diego, nos EUA, avaliou subst�ncias encontradas nos carros de tabagistas e descobriu que at� o painel do ve�culo carrega poluentes encontrados nesse produto, mesmo que a pessoa n�o tenha o costume de acender o cigarro quando est� dirigindo.

Mais recentemente, em mar�o de 2020, uma equipe da Universidade Yale, tamb�m nos Estados Unidos, mediu a presen�a de alguns desses compostos qu�micos numa sala de cinema.

Os cientistas descobriram que em filmes com uma classifica��o et�ria mais restrita (o que indica a presen�a de um n�mero maior de adultos e possivelmente mais fumantes naquele espa�o fechado) h� uma concentra��o consider�vel de compostos danosos � sa�de, mesmo que seja proibido fumar neste local.

Os autores ent�o conclu�ram que os fumantes carregam consigo esses qu�micos por meio da pele e das roupas, mesmo que n�o estejam tragando um cigarro naquele exato momento. Eles estimaram que a quantidade de compostos "agarrados" ao corpo dessas pessoas chega a equivaler ao contato de um a dez cigarros pelo fumo passivo.

Por fim, Cruz cita um trabalho publicado em fevereiro deste ano, em que os cientistas analisaram a presen�a de nicotina nas m�os de crian�as.

De 311 volunt�rios com menos de 12 anos que n�o tinham contato direto com algum fumante, 296 (ou 95% do total) apresentavam essa subst�ncia na superf�cie da pele.

J� num grupo de 193 crian�as cujos familiares s�o usu�rios do tabaco, essa taxa chegou a 97,9%.


Pessoa segura cigarro com a mão com uma criança ao fundo
Crian�as s�o mais vulner�veis ao fumo de terceira m�o (foto: Getty Images)

Riscos pouco conhecidos

Embora os especialistas se preocupem com essa exposi��o a tantos compostos qu�micos, s�o poucas as pesquisas que estimam com exatid�o os impactos do fumo de terceira m�o na sa�de. Um estudo feito na Universidade da Calif�rnia em Riverside, nos EUA, avaliou em roedores os poss�veis estragos do contato de terceira m�o com as subst�ncias do cigarro.

Depois de um tempo, os animais expostos a objetos contaminados por esses compostos qu�micos foram diagnosticados com alguns problemas f�sicos e comportamentais.

As cobaias sofreram com danos nos pulm�es e tinham mais propens�o a condi��es inflamat�rias, como a Doen�a Pulmonar Obstrutiva Cr�nica (DPOC) e a asma. Eles tamb�m apresentaram altera��es no f�gado que precedem quadros como cirrose, c�ncer e doen�as cardiovasculares.

Os cientistas tamb�m realizaram testes comportamentais e viram que os ratos expostos ao fumo de terceira m�o demonstravam com mais frequ�ncia sinais de hiperatividade.

Que fique claro: pesquisas desse tipo s�o consideradas preliminares e n�o � poss�vel afirmar com toda a certeza que esses mesmos problemas se repetem nas pessoas. Mesmo assim, elas servem de base para que outros estudos, com volunt�rios humanos, possam acontecer no futuro.

"Infelizmente, ainda s�o poucos os dados que temos sobre o fumo de terceira m�o ou do quanto risco ele representa para o desenvolvimento de um c�ncer", admite Cruz.

Leia tamb�m: Cigarro eletr�nico continua proibido no Brasil.

"Mesmo assim, esse problema deve ser encarado com preocupa��o, ainda mais quando consideramos as crian�as, que t�m contato com muitas superf�cies contaminadas", complementa o oncologista.

A pr�pria estatura do p�blico infantil j� facilita essa proximidade com tapetes e m�veis onde esses compostos do cigarro se depositam.

Al�m disso, os pequenos correm maior risco por levarem a m�o � boca com mais frequ�ncia e estarem num est�gio de forma��o dos �rg�os vitais e do pr�prio sistema imunol�gico.

O que fazer?

Os especialistas apontam que a recomenda��o mais �bvia para diminuir o risco do fumo direto, passivo ou de terceira m�o � simplesmente n�o fumar.

Existem tratamentos que ajudam a largar o v�cio — alguns deles est�o dispon�veis, inclusive, no Sistema �nico de Sa�de (SUS).

A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) calcula que o cigarro causa mais de 8 milh�es de mortes todos os anos.

O contato direto ou indireto com todas as milhares de subst�ncias contribui para o desenvolvimento de mais de 15 tipos de c�ncer diferentes, al�m de estar relacionado com infarto, acidente vascular cerebral (AVC), DPOC, tuberculose, infec��es respirat�rias, �lceras no est�mago e no intestino, impot�ncia sexual, infertilidade e catarata.

O Instituto Nacional de C�ncer (Inca) estima que 443 brasileiros morram todos os dias por causa do tabagismo. Por ano, 161 mil mortes relacionadas ao cigarro poderiam ser evitadas no pa�s.


Pessoa tira cigarro de maço
Um total de 443 brasileiros morrem todos os dias por causa do tabagismo (foto: Getty Images)

J� para aqueles que n�o desejam abandonar o cigarro agora, a dica � nunca fumar em ambientes fechados ou pr�ximos demais da casa, do escrit�rio ou de espa�os p�blicos.

A remo��o de muitos desses compostos qu�micos que est�o "agarrados" em objetos e superf�cies parece algo dif�cil de fazer. Uma publica��o dos Centros de Tratamento do C�ncer da Am�rica, nos EUA, aponta que "os m�todos de limpeza normais n�o s�o efetivos contra esses poluentes". "Na maioria das vezes, a �nica op��o � trocar carpetes e pintar de novo as paredes da casa", informa o texto.

Para Cruz, o conceito do fumo de terceira m�o "refor�a como � importante manter o ambiente limpo e livre do cigarro". "Como se sabe, algumas dessas subst�ncias podem ficar impregnadas por semanas, meses ou at� anos e eventualmente prejudicar a sa�de de pessoas que nem estavam ali junto com os fumantes."

"Estamos t�o habituados a falar dos riscos do tabagismo ou do fumo passivo que �s vezes esquecemos desses efeitos indiretos. Ou seja, n�o basta apenas fumar num outro c�modo da casa ou abrir uma janela para dissipar a fuma�a", continua o oncologista. "� preciso pensar nas crian�as e em como um h�bito pode fazer mal a toda uma popula��o que � mais vulner�vel", conclui.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62717719

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)