A liga��o entre Thiago Salvador Oliveira, de 41 anos, Fabr�cio Salum, de 44, Cristiano Guimar�es, de 38, e Gustavo Viana, de 39, remonta � d�cada de 1990. L� se v�o 26 anos de amizade. Eles se conheceram na igreja, onde, em um primeiro momento, puderam comparti- lhar a paix�o pela m�sica, formando a banda Alian�a de Sangue.
A partir da�, a amizade floresceu, e foi se fortalecendo ao longo dos anos. "Hoje, estamos juntos como se fosse o primeiro dia, com a mesma cumplicidade, compartilhando os mo- mentos mais importantes da vida de cada um", diz Thiago.
Atualmente, Thiago atua com treinamento automotivo, Fabr�cio tem um cargo no governo do estado, Cristiano trabalha em uma multinacional, e Gustavo � pastor e pedagogo. Os amigos se encontram periodicamente, ain- da que os compromissos profissionais e a dist�ncia f�sica limitem um pouco a frequ�ncia com que se re�nem. Nos anivers�rios, a presen�a � de lei.
Para Thiago, a rela��o entre eles � de irm�os. "� algo que transcende a amizade em si. Passamos por momentos dif�ceis, de dor, mas tamb�m de alegria. Independentemente das cir- cunst�ncias, temos sempre uma certeza: estamos l� uns pelos outros. Estamos juntos, ainda que a vida tome rumos dife- rentes.”
E a vida mesmo se transforma. Com o decorrer do tempo, o amadurecimento, e uma admira��o, que cresce dia a dia, por tudo de novo que acontece, por cada conquista. No grupo dos amigos, a torcida pelo bem de cada um � fiel. "Torcemos pelo sucesso, pela felicidade de cada um. A nossa felicidade acaba sendo a felicidade do outro. S� nos sentimos felizes sabendo que quem amamos tamb�m est� feliz", diz Thiago.
"J� diziam v�rios fil�sofos, somos seres sociais. Fomos criados e dependemos de nos relacionar com outras pessoas", cita Fabr�cio. Para ele, amigos verdadeiros s�o os que est�o prontamente juntos, com quem se pode contar, desabafar, e muitas vezes tamb�m em momentos de brincadeira, de pegar no p�, em suas palavras.
Fabr�cio diz que Thiago, Cristiano e Gustavo s�o mais pr�ximos que irm�os, s�o uma fam�- lia que foi constru�da. A liga��o n�o passa pelos la�os de sangue, mas pela escolha, pelo carinho e o amor que nutrem entre eles. "Desde minha adolesc�ncia, s�o pessoas essenciais na minha vi- da, para quem eu quero o bem. Me proporcionam boas risadas, for�a em outras situa��es. S�o amigos do cora��o, literalmente a energia para cada momento", continua Fabr�cio, citando o desejo que eles t�m em fazer uma viagem juntos para coroar a amizade, a cereja do bolo que est� faltando.
T�o necess�ria quanto a sa�de f�sica e mental
Em 2011, durante a 165ª Sess�o da Assembleia Geral das Na��es Unidas, dentro do tema da cultura de paz, reconheceu-se "a pertin�ncia e a import�ncia da amizade como sentimento nobre e valioso na vida dos seres humanos de todo o mundo". Na ocasi�o, foi estipulado o dia dedicado aos amigos em 30 de julho, em concord�ncia com a proposta original promovida pela Cruzada Mundial da Amizade. Desde ent�o, a ONU sugere aos pa�ses que adotem a data como oficial para comemorar o Dia Internacional da Amizade.
Seja qual for a data escolhida, o que n�o se pode negar � o quanto os amigos ocupam um lugar central nas intera��es humanas. S�o v�nculos que podem surgir na inf�ncia, na adolesc�ncia ou na fase adulta, e muitos acabam fazendo parte da fam�lia.
“Uma pesquisa de Harvard determinou a amizade como uma necessidade t�o importante para a sa�de f�sica e mental como uma boa alimenta��o e exerc�cios f�sicos. Por isso, amigos s�o essenciais para a sa�de do cora��o”, diz a psic�loga Juliane Verdi Haddad.
A profissional elenca alguns pontos sobre como a amizade pode influenciar na sa�de ps�quica. Primeiro, ela diz, quem tem amigo, tem tudo. "Amigos nos fazem sentir que nunca estamos sozinhos. Com eles, al�m de viver momentos alegres, tamb�m nos sentimos acolhidos e fortes nos momentos dif�ceis. E, quando sabemos que temos com quem contar, consequentemente nos sentimos mais protegidos e confiantes para ir adiante e enfrentar determinadas situa��es", observa Juliane.
E amigo de verdade n�o se encontra por a�. A psic�loga pondera que, da mesma forma que as amizades podem trazer coisas positivas, tamb�m podem influenciar negativamente, mas isso depende do lado psicol�gico de cada um. Quando um jovem n�o se sente aceito ou compreendido em casa, exemplifica a profissional, pode ter a tend�ncia de copiar o comportamento de pessoas fora da fam�lia, principalmente se sua autoestima n�o estiver boa.
"A adolesc�ncia � um per�odo de descobertas, de sair do ambiente conhecido e experimentar formas diferentes de viver. E, normalmente, os adultos – pais, av�s, tios – querem conduzir a vida como sempre fizeram, o que leva os jovens a encontrar em outros jovens a vontade do novo e, assim, al�m da identifica��o, sentem-se aceitos, pertencendo a um grupo", ressalta Juliane.
DEBAIXO DE SETE CHAVES Como diria Milton Nascimento, amigo � coisa para se guardar debaixo de sete chaves. Algumas pessoas, continua a psic�loga, costumam ter mais facilidade para fazer amizade do que outras e, em ambos os casos, deve-se levar em considera��o o temperamento e as cren�as que cada um desenvolve ao longo da vida.
"S�o aspectos determinantes nas rela��es pessoais, pois vemos o mundo de acordo com as nossas pr�prias lentes. As pessoas com mais dificuldade em fazer amigos podem ter uma grande resist�ncia em confiar no outro, o que, por consequ�ncia, faz com que n�o se abram para as amizades. Ou ainda h� aquelas que n�o se sentem boas o suficiente e por isso acabam se fechando no pr�prio mundo e negando a necessidade de ter amigos."
Uma pessoa mais t�mida, acrescenta Juliane, pode tanto ter vivido em um meio que a fez superar o medo de relacionar-se, como em um meio que a fez sentir-se ainda mais insegura, por isso as cren�as s�o determinantes para os relacionamentos na vida adulta, ensina a psic�loga. "As amizades duradouras geralmente s�o constru�das com base na confian�a e no amor. As mem�rias afetivas facilitam a confian�a, mas a pessoa precisa ter essa capacidade de confiar. Para quem tem dificuldades com essas quest�es, a terapia pode ser aliada para trabalhar os aspectos sociais", recomenda.
Juliane lembra que, assim como em um relacionamento amoroso, a amizade tamb�m � uma forma de rela��o que envolve sentimentos e, por isso, quando h� algum tipo de trai��o ou rompimento, isso pode acarretar danos psicol�gicos. "Na adolesc�ncia, as brigas entre amigos e afastamentos tendem a causar muita dor e ser mais frequentes, pois a intensidade dessas rela��es � muito forte e, por consequ�ncia, a instabilidade tamb�m”, comenta.
“Adultos tamb�m podem sofrer com rompimentos de amizade e as alternativas s�o ajudar a pessoa a perceber o que essa situa��o causou em sua vida, e dar ferramentas para que perceba que algumas situa��es podem ser mudadas caso ela queira. Ou, ent�o, mudar a forma de viver essa nova realidade para cessar o sofrimento."
Juliane alerta ainda para o fato de que pessoas que t�m mais dificuldade em falar n�o, que t�m medo de n�o ser aceitas ou admiradas tendem a ter amigos abusivos, mand�es e controladores. "� preciso ter rela��es saud�veis e de igual para igual, aprender que podemos falar 'n�o' e que os amigos verdadeiros s�o aqueles que nos fazem bem."
E quem nunca precisou de um ombro amigo, ou fez dele o seu psic�logo particular, que atire a primeira pedra. A psic�loga afirma que a import�ncia da escuta amiga � indiscut�vel, pois desabafar e sentir-se ouvido por algu�m que se ama traz al�vio e muitas vezes indica o melhor caminho naquele momento.
Mas, refor�a a profissional, o papel do psic�logo � diferente. Trata-se de uma escuta capacitada para tratar das quest�es psicol�gicas. "O psic�logo tem uma proposta de trabalho baseada no autoconhecimento e no progresso do paciente, levando em conta anos de estudo para entender o ser humano. Portanto, as duas rela��es, tanto com o seu amigo quanto com o psic�logo, quando necess�rio, s�o muito importantes para uma vida saud�vel", diz Juliane.(JG)