
Segundo tipo mais comum de c�ncer de pele n�o melanoma, o carcinoma de c�lulas escamosas cut�neo (CSCC) �, no geral, f�cil de ser tratado, n�o exigindo cuidados avan�ados. Contudo, h� casos em que o tumor cresce e se espalha de forma agressiva, afetando, especialmente, olhos, nariz, ouvidos e boca. Para esses pacientes, a terapia padr�o � a remo��o cir�rgica seguida por radia��o. S�o abordagens que podem desfigurar o rosto e resultar em perda de fun��es importantes na �rea da cabe�a e do pesco�o.
Agora, um estudo apresentado no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia M�dica (Esmo), em Paris, mostrou que a imunoterapia pode evitar esse tratamento. A pesquisa, tamb�m publicada na revista New England Journal of Medicine, mostrou que em mais da metade dos pacientes que receberam a subst�ncia anti-PD1 cemiplimab, os tumores desapareceram quase ou completamente antes da cirurgia.
Os CSCCs se desenvolvem a partir de danos gen�ticos causados pela exposi��o � radia��o UV. S�o tumores com alta carga de muta��es e est�o associados � supress�o imunol�gica dos pacientes. Esses fatores o tornaram um forte candidato � inibi��o de PD1 - mecanismo de a��o da imunoterapia testada -, que estimula o sistema imunol�gico para atacar as c�lulas doentes.
Como essa enfermidade n�o faz parte das estat�sticas nacionais de tumores malignos - o Instituto Nacional do C�ncer (Inca), por exemplo, s� tem registros de c�ncer de pele melanoma -, os dados de incid�ncia e mortalidade s�o desconhecidos. Um estudo norte-americano apontou estimativas de casos anuais entre 700 mil e 1 milh�o nos Estados Unidos, com mortalidade variando de 3,9 mil a 8,7 mil.
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Conduzido pelo Centro de C�ncer MD Anderson da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, o estudo de fase II foi realizado tamb�m na Austr�lia e na Alemanha. De bra�o �nico - n�o contou com grupo de placebo -, a pesquisa envolveu 79 pessoas com CSCC nos est�gios II a IV, oper�veis. Os pacientes receberam quatro doses da subst�ncia, um inibidor imunol�gico do tumor. Em seguida, foram operados e, dependendo do caso, passaram por radioterapia.
Menos invasivo
Em 50,6% dos casos, nenhuma c�lula tumoral foi encontrada durante a cirurgia, indicando o desaparecimento do CSCC somente com o imunossupressor. Em outros 12,7%, os cirurgi�es encontraram menos de 10% de tumor, possibilitando um procedimento menos invasivo e com menor risco de desfigurar o paciente. Um centro independente de patologia confirmou as respostas, com testes de laborat�rio e radiol�gicos.
A terapia anti-PD1 cemiplimab foi bem tolerada e o estudo atingiu seu objetivo prim�rio com uma taxa de resposta patol�gica completa (pCR) de 50,6%, o que significa que nenhuma c�lula tumoral foi encontrada na cirurgia. Outros 12,7% dos pacientes tiveram uma resposta patol�gica maior (MPR), com menos de 10% de tumor vi�vel encontrado na cirurgia. As respostas foram confirmadas por revis�o patol�gica central independente.
O estudo de fase II foi realizado para avaliar a seguran�a da subst�ncia, aprovada em 2018 pela Food and Drug Administration (FDA) para CSCC metast�tico sem indica��o de cirurgia ou radia��o. Em 2019, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) deu aval ao medicamento, no Brasil. Na pesquisa atual, os eventos adversos mais comuns foram fadiga, erup��o cut�nea, diarreia e n�usea. Quatro participantes morreram, sendo que um deles sofreu piora de insufici�ncia card�aca pr�via, um efeito relacionado ao tratamento.
"Esses resultados representam a maior taxa de resposta � terapia anti-PD1 neoadjuvante em qualquer c�ncer s�lido at� agora, e provavelmente s�o o in�cio de uma mudan�a na pr�tica de como tratamos o carcinoma de c�lulas escamosas cut�neo avan�ado e ressec�vel", disse, na apresenta��o, o autor principal, Neil Gross, professor de Cirurgia de Cabe�a e Pesco�o . "Estou animado para ver como essa nova abordagem de tratamento afeta os progn�sticos da doen�a, incluindo a qualidade de vida, � medida que continuamos o acompanhamento de longo prazo."
Respostas
Gross explicou que a equipe continuar� a acompanhar os participantes do estudo, para observar dados de sobrevida e outros desfechos, na conclus�o do estudo. "No futuro,esperamos abordar quest�es ainda n�o respondidas sobre o n�mero ideal de doses antes da cirurgia, quais pacientes podem evitar radia��o e/ou cirurgia com seguran�a e como prever quais pacientes t�m maior probabilidade de responder � imunoterapia."
Para o pesquisador, a imunoterapia ter� um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. "Se voc� pode evitar a radia��o ou fazer uma cirurgia menor, e voc� pode manter seu olho, ouvido ou nariz, isso � uma grande vit�ria para as pessoas. Esse � o grande destaque desta abordagem: a chance de tornar a vida muito melhor para nossos pacientes no futuro."
Christian Blanck, pesquisador do Instituto do C�ncer da Holanda que n�o participou do estudo, diz que os dados iniciais s�o "muito promissores". Por�m, ressalta que � preciso esperar os resultados consolidados para que a imunoterapia, de fato, modifique a op��o de tratamento para um grupo de pacientes. "Precisamos saber se a taxa de resposta patol�gica, ou seja, a aus�ncia de c�lulas tumorais, ser� um marcador para a sobrevida livre de recorr�ncias do c�ncer", afirma.
Terapia promissora para a bexiga
Pesquisadores da Faculdade Monte Sinai, nos Estados Unidos, fizeram duas descobertas importantes sobre o mecanismo pelo qual as c�lulas cancer�genas da bexiga parecem imunes a ataques do sistema imunol�gico. A pesquisa, publicada na revista Cancer Cell, pode levar a uma nova op��o terap�utica para pacientes com esses tipos de tumores.
O c�ncer de bexiga avan�ado � agressivo e, geralmente, o progn�stico � ruim. V�rios imunossurpressores foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), mas as respostas satisfat�rias s� beneficiam cerca de 20% dos pacientes.
Quando um paciente tem c�ncer, um tipo de estrutura imune conhecida como c�lula assassina natural entra em a��o para tentar matar as tumorais. No entanto, essas, muitas vezes, s�o capazes de frustrar os ataques.
Os pesquisadores do Monte Sinai relataram que encontraram um subconjunto de c�lulas T CD8 que se adaptam �s estrat�gias de evas�o tumoral, oferecendo uma estrat�gia para reduzir a capacidade das c�lulas tumorais de combat�-las. Para criar "assassinas naturais" adicionais, os cientistas induziram uma mol�cula na superf�cie das T CD8, permitindo que elas se comportassem como as originais.
O estudo mostrou que a estrat�gia est� associada � melhora da sobrevida e � capacidade de resposta a uma imunoterapia de combate ao c�ncer conhecida como bloqueio de checkpoint PD-L1. Uma segunda descoberta indicou como o tumor resiste ao tratamento, sugerindo que focar nessa abordagem poder� melhorar a efic�cia terap�utica.