
O cantinho do pensamento ou da disciplina nada mais � do que uma forma de castigo sem maltrato f�sico, explica a enfermeira especialista em cuidado materno-infantil Marjorie Lobato. O m�todo foi difundido no Brasil principalmente pela Supernanny, Cris Poli, no reality show que ficou famoso no SBT. Com o passar do tempo, cada vez mais, pondera Marjorie, muita coisa foi colocada em xeque.
"Sabemos que existe uma imaturidade que impede a crian�a de agir racionalmente e se organizar emocionalmente. Esperar que uma crian�a de 2, 3, ou 4 anos reflita sobre seus atos � a mesma coisa de pedir que ela dirija um carro: imposs�vel", argumenta. "Voc� consegue se lembrar de como se sentia quando colocado de castigo? Ouso dizer que passava de tudo pela sua cabe�a, menos o que seus pais queriam que voc� pensasse", continua.
A enfermeira Marjorie � m�e de Luiza, de 3 anos. Ela fala sobre a import�ncia de ser exemplo para os filhos, e coloc�-los isolados em um canto, em sua opini�o, n�o os ensinar� como agir. Muitas vezes, a tend�ncia entre os pais � falar somente o que n�o fazer, em vez de mostrar o qu� e como fazer.
"Escuto muito as pessoas dizendo que foram criadas sendo colocadas no cantinho do pensamento e que foi �timo, que aprenderam a obedecer aos pais, mas essa obedi�ncia � adquirida por um pre�o bem caro. O que queremos ensinar a eles com isso?", questiona a enfermeira. � muito comum, a especialista refor�a, que, ap�s o cantinho da disciplina, a crian�a sinta raiva e pense em formas de como retaliar, o que a leva inclusive a mentir, j� que n�o quer repetir o castigo.
Marjorie esclarece ainda que a birra n�o representa uma vontade da crian�a de enfrentar, provocar ou irritar os pais – na verdade, est� sinalizando que est� em curto-circuito. E os motivos podem ser v�rios, como, por exemplo, a frustra��o por ter recebido um n�o ou simplesmente por n�o ter conseguido encaixar uma pe�a no brinquedo. "Importante � voc� saber que � ao sentir essas emo��es que as libera��es de horm�nios s�o desencadeadas e assim eles se desorganizam. Vai demorar ainda um tempo para que a crian�a consiga nomear o que est� sentindo e reagir de acordo", acrescenta.
No momento da birra, � ativada uma parte do c�rebro de sobreviv�ncia, quando a crian�a fica extremamente reativa e com respostas motoras exacerbadas – por isso se joga no ch�o, chuta, bate e se movimenta. "Tentar explicar com um serm�o o motivo do 'n�o' � t�o eficaz quanto falar para um b�bado que ele est� dando vexame", compara. Nesses momentos, Marjorie ressalta que � importante estar perto, validar o sentimento, dizendo ao filho que entende o que ele est� sentindo.
"Se conseguir, nomeie voc� mesmo a emo��o, seja raiva, tristeza ou qualquer outra. O importante � estar por perto para ajudar a trazer o equil�brio para aquele corpinho em descarga de adrenalina e cortisol. � f�cil? N�o, n�o mesmo, ainda mais quando os tapas recaem sobre n�s. Mas esse � o momento de pensar que o c�rebro maduro � o seu. Se n�s, que somos adultos, nos sentimos desafiados por algu�m com 3 anos, como podemos exigir equil�brio e maturidade de uma crian�a?", questiona.
ESCOLHA A especialista cita o cantinho da calma, o que, a seu ver, pode ser uma boa alternativa. Esse cantinho, ela explica, deve ser escolhido com pais e filhos juntos, e n�o imposto. Funciona bem quando a crian�a j� tem uma compreens�o sobre combinados. Esse espa�o serve para todos da casa.
"� bem legal seu filho ver voc� indo at� l� para se acalmar – mais uma vez, somos exemplos. Esse cantinho pode ter massinhas para serem apertadas, l�pis e papel para desenhar e colorir, livros ou simplesmente almofadas, para ela bater", descreve Marjorie. Ter o canto da calma n�o significa, por�m, que todos os problemas acabaram e que, agora, a crian�a ser� um po�o de tranquilidade.

Dor emocional � similar � f�sica
Quando pais e filhos est�o conectados, � mais simples entender as necessidades dos pequenos, o que tamb�m ajuda a evitar o estresse de uma birra. "Quando a crian�a se sente vista e amada, � liberada a ocitocina, horm�nio do afeto, que favorece o crescimento e desenvolvimento neural", ensina.
Outra coisa que todos os pais devem entender, diz Marjorie, � que a dor emocional � sentida pelos beb�s e crian�as da mesma maneira que a dor f�sica – eles n�o conseguem discernir as duas coisas, e por isso parece que d�i tudo – da� a birra, o chilique, o grito e o alvoro�o. "� nessa hora de birra que nossos fi- lhos mais precisam de n�s. � a� que est�o desorganizados, com descargas de cortisol, precisando de equil�brio", orienta Marjorie.
Marjorie entende, por outro lado, que n�o � f�cil ficar tranquilo no momento da birra. "Tem dias em que nossa paci�ncia est� bem curta. Somos humanas, temos v�rias ou- tras tarefas e estamos esgotadas. Mas precisamos respirar fundo, pensar que o adulto somos n�s e tentar retomar o controle da situa��o. Afinal, h� um beb� no ch�o precisando de n�s", diz.
Na rela��o com a pequena Luiza, Marjorie admite que, assim como qualquer outra m�e, experimenta seus perrengues. Para ela, conhecer sobre as limita��es neurol�gicas da filha a faz ter mais paci�ncia e empatia.
"Mas uma noite maldormida, o cansa�o extremo devido �s m�ltiplas jornadas, me fazem perder a cabe�a tamb�m. H� dias em que me sinto orgulhosa por conseguir contornar as situa��es, mas em outros me sinto o coc� do cavalo do bandido", brinca. E s�o nesses dias, ela avalia, quando percebe de forma mais evidente o tanto que criar a filha de uma maneira respeitosa faz diferen�a.
"A Luiza tem o tempo dela para digerir os acontecimentos e, quando se sente pronta, sempre me procura para conversar sobre o que aconteceu. Quando ela n�o consegue nomear o que sentiu, me pergunta: 'Por que eu falei aquilo com voc�? Por que eu fiz tal coisa?'. E sempre me faz refletir sobre minhas falas tamb�m: 'Por que voc� falou aquilo, voc� estava com raiva?'.”