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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Como se proteger de tristeza, raiva e medo ap�s elei��o

Escolha dos pr�ximos representantes pol�ticos representa uma fonte importante de estresse, ansiedade e at� depress�o para algumas pessoas


03/10/2022 05:05 - atualizado 03/10/2022 10:08

Pessoa de cenho franzido
Estabelecer consensos e avaliar comportamentos s�o maneiras de evitar conflitos relacionados � pol�tica (foto: Getty Images)

Debates acalorados, �nimos acirrados, opini�es opostas… A elei��o presidencial pode ser fonte importante de estresse — que, por sua vez, � um dos fatores de risco por tr�s de transtornos mais s�rios, como ansiedade e depress�o.


De acordo com psiquiatras, a probabilidade de desenvolver um quadro desses � ainda maior quando a disputa fica polarizada demais e advers�rios pol�ticos passam a ser vistos como inimigos, que precisam ser derrotados a qualquer custo.

Al�m de fazer mal � democracia, esse tipo de pensamento representa uma amea�a � pr�pria sa�de mental das pessoas que nutrem sentimentos t�o intensos, explicam os m�dicos.




A boa not�cia � que existem estrat�gias que ajudam a evitar uma piora da situa��o e a prevenir danos ao bem-estar, como fazer autoavalia��o do comportamento, desligar das redes sociais e buscar uma avalia��o com profissionais da sa�de.

Origem das preocupa��es

A Associa��o Americana de Psicologia (APA) fez em 2020 um levantamento para entender o impacto das elei��es presidenciais no dia a dia das pessoas.

O estudo revelou que 68% dos participantes encaravam a disputa pol�tica entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump como uma fonte significativa de estresse.

"O ano de 2020 foi diferente de tudo que j� vivemos. N�o apenas lidamos com uma pandemia que matou centenas de milhares de americanos, como observamos um aumento da divis�o e da hostilidade", analisou � �poca o psic�logo Arthur Evans Junior, presidente da APA.

J� uma investiga��o liderada pela Universidade da Calif�rnia em San Francisco, nos EUA, descobriu que estar do lado derrotado do pleito impacta a sa�de mental.

Ao analisar as informa��es de meio milh�o de americanos, os acad�micos notaram que os moradores de Estados cuja maioria votou na democrata Hillary Clinton, que perdeu a disputa, relataram mais transtornos um m�s ap�s as elei��es de 2016.

Leia tamb�m: Controle da raiva: veja como manter a clama no per�odo eleitoral

De acordo com os c�lculos, isso se traduziu em 54,6 milh�es de dias a mais de estresse e depress�o para os 109,2 milh�es de adultos que vivem nos Estados que preferiram Clinton.

"Os profissionais de sa�de devem considerar que as elei��es podem ter um efeito, ao menos transit�rio, na piora da sa�de mental", constatou a m�dica Renee Hsia, uma das respons�veis pelo trabalho.

O assunto ganhou uma repercuss�o t�o grande em terras americanas que alguns profissionais de sa�de desenvolveram at� um termo para descrev�-la: transtorno de estresse eleitoral.

Embora n�o seja uma enfermidade oficialmente aceita nos manuais de psiquiatria, alguns acad�micos a descrevem como "uma ansiedade generalizada que foca na elei��o, mas n�o � causada apenas por ela".

Um dos criadores do conceito � o terapeuta Steven Stosny. Ele aponta que os principais sintomas s�o dificuldades para dormir, dor de cabe�a, problemas estomacais e aumento da irritabilidade ou da ansiedade.

O ingrediente por tr�s de tudo

No final das contas, o que esse rol de experimentos americanos revela � o papel de destaque do estresse no comportamento e nas emo��es.

O m�dico Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Cl�nicas de S�o Paulo, explica que o estresse � um conjunto de rea��es do nosso organismo quando estamos diante de situa��es novas, que requerem algum tipo de adapta��o e enfrentamento.

"Essas mudan�as geram uma s�rie de rea��es no nosso corpo para deixar a aten��o afiada, o racioc�nio veloz, os m�sculos tensos e o cora��o acelerado", diz.

A princ�pio, esse conjunto de altera��es � bem-vindo. Foi esse mecanismo que permitiu � nossa esp�cie identificar os perigos e responder de forma r�pida — geralmente fugindo ou lutando.

"A quest�o � quando esse estresse se transforma em algo cr�nico", diferencia o psiquiatra.

"Uma demanda constante por mudan�as e adapta��es leva a desgastes no organismo e aumenta o risco do desenvolvimento de quadros como a ansiedade e a depress�o", acrescenta.


Casal estressado
O estresse � uma rea��o natural e esperada em situa��es de mudan�a. O problema � quando ele dura por muito tempo (foto: Getty Images)

A situa��o no Brasil

N�o � segredo para ningu�m que as elei��es no pa�s est�o polarizadas e geram disputas muito intensas. Mas ser� que � poss�vel medir o estresse da popula��o neste momento?

Embora n�o existam muitas pesquisas publicadas sobre o tema no Brasil, Barros observa que a corrida presidencial de 2022 parece diferente do que aconteceu h� quatro anos.

"Me parece que a maioria das pessoas aprendeu a li��o em 2018 e criou mecanismos para n�o entrar em conflitos ou brigas. Entre amigos e familiares com vis�es opostas, parece existir uma esp�cie de pacto de sil�ncio sobre o tema", avalia.

"Mas � claro que n�o podemos ignorar os epis�dios de viol�ncia entre advers�rios pol�ticos registrados nessas �ltimas semanas", complementa.

J� o psiquiatra Lucas Spanemberg, do Instituto do C�rebro da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio Grande do Sul, entende que a participa��o pol�tica pode ter dois lados.

"� algo paradoxal, mas engajar-se numa campanha � bom ao trazer uma sensa��o de pertencimento, de participa��o c�vica, de protagonismo, de influ�ncia positiva no futuro do pa�s", lista.

"O problema � quando isso passa do ponto e gera uma tenta��o autorit�ria, em que a discuss�o se centra apenas no ataque ao advers�rio por meio da raiva, do �dio e da rejei��o", compara.

"Do ponto de vista da sa�de mental, isso � negativo e pode trazer ansiedades", aponta.

O papel das redes sociais

Os m�dicos ouvidos pela BBC News Brasil acreditam que o acirramento dos �nimos se deve em parte �s m�dias sociais.

Barros aponta que temos uma tend�ncia natural de favorecer as pessoas que reconhecemos como semelhantes — e somos mais cr�ticos e duros com quem � de fora do nosso grupo social.

"N�s combatemos essa tend�ncia com mecanismos civilizat�rios, como a justi�a social e a transpar�ncia".

"A ideia de defender um ponto de vista e criar diverg�ncias faz parte da natureza humana. Mas os algoritmos das redes sociais favorecem o que a gente chama de vi�s de confirma��o", ensina Spanemberg, que tamb�m trabalha no Hospital de Cl�nicas de Porto Alegre.

Em termos pr�ticos, essas plataformas s�o configuradas de modo a mostrar apenas conte�dos que se encaixam naquilo que a gente acredita.

Em longo prazo, isso cria uma falsa sensa��o de que todo mundo pensa igual — opini�es divergentes s�o t�o raras nessas redes que acabam ignoradas, ou atacadas com toda a for�a.

"Ficamos, ao mesmo tempo, com a sensa��o de que somos validados o tempo todo, e com uma dificuldade de transitar com o diferente e o contradit�rio", resume o psiquiatra.


Tela de celular
Redes sociais refor�am a ideia de que nossas ideias est�o sempre corretas (foto: Getty Images)

O que acontece com quem ganha e quem perde

O psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de S�o Paulo, destaca que a atitude ap�s uma vit�ria ou uma derrota tamb�m influencia n�o apenas no futuro pol�tico do pa�s, mas no acirramento de �nimos nas rela��es pessoais.

"Na hist�ria brasileira, o lado vitorioso costuma usar o sarcasmo e a humilha��o como ferramentas diante do derrotado."

E isso, por sua vez, gera uma rea��o de vingan�a, raiva e rancor entre quem perdeu.

"Me parece que ainda precisamos aprender a ganhar ou perder durante a disputa pol�tica", conta.

"Outra falha que temos � a no��o de que os l�deres s�o infal�veis, n�o podem errar ou voltar atr�s. Isso cria figuras de autoridade que s�o inflex�veis, o que se reflete no comportamento da sociedade", completa.

Como evitar esses males

Mas ser� que existe um caminho para lidar com um problema desse tamanho e fugir dos sentimentos de raiva, tristeza ou medo durante e ap�s as elei��es?

H� pelo menos sete recomenda��es b�sicas que ajudam a refletir sobre as emo��es e o comportamento — e como eles impactam a sa�de mental.

Tudo come�a com um processo de autoavalia��o. Como voc� reage quando uma pessoa diz algo que vai contra o que acredita? Isso te causa um estresse muito grande? Uma conversa sobre pol�tica gera um mal-estar ou uma sensa��o ruim em voc� ou nos demais participantes?

"H� algo de errado quando as suas posi��es pol�ticas limitam as conversas dentro da pr�pria fam�lia, ou os grupos de WhatsApp deixaram de ser um lugar de confraterniza��o para virar um terreno de disputa pol�tica", exemplifica Spanemberg.

Vale tamb�m checar se esse comportamento impede voc� de fazer qualquer atividade profissional e de lazer ou prejudica os relacionamentos.

Em segundo lugar, os m�dicos orientam ficar atento se voc� acha que est� sempre correto em tudo.

"Ningu�m est� certo em 100% das vezes", lembra Barros.

"Pense se voc� j� discordou alguma vez do grupo com o qual interage mais. Se isso nunca aconteceu, voc� pode estar sendo manipulado", complementa.

O terceiro ponto � exercitar o consenso. Ao conversar com pessoas que t�m vis�es antag�nicas, tente encontrar pontos em comum que todos podem concordar.

Isso ajuda a criar la�os e mostrar que, mesmo quem tem vis�es diferentes sobre v�rios assuntos, pode estar de acordo em alguns pontos, apontam os pesquisadores.


Duas mulheres conversando
Estabelecer o di�logo e respeitar posi��es antag�nicas s�o estrat�gias para fugir de conflitos desnecess�rios (foto: Getty Images)

A dica n�mero quatro � tentar n�o antecipar resultados ou quais ser�o as pol�ticas do governo a partir de 2023.

Uma pesquisa feita pela Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos EUA, revelou que pessoas que antecipam cen�rios sociais e econ�micos e acham que v�o se estressar com a pol�tica do pr�ximo governante geralmente est�o certas.

De fato, elas costumam sofrer mais com o estresse, mesmo antes que as coisas realmente aconte�am.

Os psiquiatras tamb�m sugerem que as pessoas fa�am pausas nas redes sociais e nas not�cias. Isso ajuda a tirar o foco da disputa eleitoral e abre espa�o para outras atividades mais relaxantes, como fazer um exerc�cio f�sico ou passear num parque.

A sexta orienta��o � que as pessoas procurem ajuda profissional se sentirem que n�o est�o melhorando. Passar por uma an�lise com o psic�logo ou com o psiquiatra ajuda a encontrar as fontes do estresse, da ansiedade ou da depress�o — e permite escolher os melhores caminhos para tratar e resolver o transtorno.

Por fim, Barros acredita que as pessoas se esqueceram de um aspecto importante das elei��es. "O processo democr�tico envolve a continuidade ou a troca de governos, a depender da vontade da maioria dos cidad�os", diz.

A exist�ncia desses processos � algo saud�vel e fundamental n�o apenas para o funcionamento da democracia, mas tamb�m para o equil�brio da nossa pr�pria sa�de mental, destaca.

Ele aponta que precisamos encarar a oposi��o ao governo da vez como parte do processo democr�tico — e n�o como um inimigo que deve ser eliminado.

Segundo o psiquiatra, lidar com pessoas que a gente n�o gosta faz parte do conv�vio em sociedade. E entender isso pode at� ajudar a aliviar o estresse e a carga emocional que v�m junto com os debates e as propostas para melhorar o futuro do pa�s.

- Esse texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63080203.

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