
Os resultados foram publicados na �ltima quarta-feira (9) na revista Immunology, reconhecida como um dos principais peri�dicos internacionais nesse campo.
Em desequil�brio, o sistema imunol�gico pode sofrer uma inflama��o muito delet�ria, explicam os pesquisadores. Alguns mecanismos evitam que ela saia do controle. Um deles � a c�lula Treg (T reguladora), que o sistema imunol�gico tem para manter a inflama��o em n�veis saud�veis.
Em quem morre por COVID-19, a Treg entra em disfun��o. Ela para de operar adequadamente e, em vez de manter a inflama��o, causa uma hiperinflama��o, que est� associada ao �bito.
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"Toda infec��o precisa de uma resposta inflamat�ria do sistema imunol�gico. O organismo cria uma inflama��o e mata o v�rus. Se o organismo n�o consegue montar uma resposta imunol�gica, a infec��o sai do controle e o paciente pode morrer", explica Helton Santiago, m�dico e professor associado do departamento de Bioqu�mica e Imunologia do ICB/UFMG.
"Por outro lado, a resposta inflamat�ria tem um limite que, se ultrapassado, pode trazer s�rias consequ�ncias para a sa�de do paciente e lev�-lo � morte. � o que acreditamos que aconte�a com a COVID-19 grave", aponta.
Para o estudo, os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de sangue e secre��es dos pulm�es de um grupo com 40 internados no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital das Cl�nicas da UFMG, nos picos da pandemia em 2020 e 2021.
Os pacientes - todos com comorbidades, em estado grave e submetidos � ventila��o mec�nica - tinham entre 41 e 75 anos. Do total, 21 n�o resistiram � doen�a.
O motivo pelo qual uns morreram e outros n�o � desconhecido. Os par�metros cl�nicos e imunol�gicos e o n�vel de comorbidade dos pacientes eram parecidos. As diferen�as ficaram concentradas nas idades.
Apesar disso, o que chama a aten��o � que no primeiro dia de interna��o no CTI, os pacientes tinham o mesmo n�vel de produ��o de interleucina 10 (IL-10) -citocina produzida pelas c�lulas reguladoras-, respons�vel por equilibrar a atividade de outras c�lulas envolvidas no processo; no s�timo dia, a IL-10 desapareceu nos que morreram.
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"Quem sobreviveu conseguiu sustentar essa produ��o e at� aumentar um pouco o n�vel de presen�a no pulm�o", ressalta Santiago.
Por outro lado, as c�lulas reguladoras dos pacientes que foram a �bito come�aram a produzir outra interleucina, a IL-17, que � pr�-inflamat�ria.
Apesar de desconhecerem o mecanismo que leva � disfun��o das c�lulas reguladoras, os pesquisadores t�m algumas hip�teses que possuem rela��o com o funcionamento do sistema imunol�gico. Uma delas � a aus�ncia da interleucina, a IL-2, que regula as atividades das c�lulas brancas do sangue, respons�veis pela imunidade. Outra � o excesso de IL-6, que induz a Treg a uma leitura equivocada do microambiente e a se tornar pr�-inflamat�ria.
Dados poder servir para novos exames progn�sticos
Os cientistas acreditam que essa din�mica n�o � exclusividade da COVID-19. "Estamos estudando outras doen�as infecciosas que cursam com processo inflamat�rio e temos observado que essa c�lula est� disfuncional. Esse mecanismo pode nos ajudar a entender outras doen�as que cursam com perfil inflamat�rio, quando a inflama��o sai do controle", afirma.
Os dados podem servir para criar novos exames progn�sticos e entender, no momento em que o paciente for internado no CTI, se h� sinais de que as c�lulas entrar�o em disfun��o.
Outro avan�o � a abertura para o desenvolvimento de novas terapias. "Hoje, h� medica��es sendo desenvolvidas para estimular essas c�lulas. Sabendo que a disfun��o delas contribui de forma importante para a evolu��o fatal da Covid-19, podemos come�ar a trabalhar terapias para retornar a fun��o delas e evitar uma evolu��o fatal", finaliza.
O m�dico destaca que esse � o primeiro trabalho que mostra que os pacientes que v�o a �bito t�m disfun��o clara e profunda dessas c�lulas.
Al�m de Helton da Costa Santiago, s�o autores do estudo Marcela Helena Gon�alves-Pereira, Luciana Santiago, Cecilia Gomez Ravetti, Paula Frizera Vassallo, Marcus Vin�cius Melo de Andrade, Mariana Sousa Vieira, Fernanda de F�tima Souza de Oliveira, Nat�lia Virtude Carobin, Guangzhao Li, Adriano de Paula S�bin�culo e Vandack Nobre. A equipe � multidisciplinar, formada por pesquisadores das �reas de medicina, fisioterapia, biomedicina, farm�cia, biologia e estat�stica.
O financiamento foi da Secretaria de Educa��o Superior do Minist�rio da Educa��o e do Instituto Nacional de Ci�ncia e Tecnologia em Vacinas.