mão segura frasco de sangue escrito covid sobreposto a ilustração do vírus da doença

Primeiros resultados mostram que a mol�cula � capaz de inibir a replica��o do Sars-CoV-2 em c�lulas do f�gado e do pulm�o

fernando zhiminaicela/Pixabay
 Pesquisadores brasileiros aguardam parecer da Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) para iniciar os testes cl�nicos de um novo antiviral contra a COVID-19. Os primeiros resultados do estudo com a subst�ncia, batizada de MB-905, foram divulgados na �ltima semana na revista cient�fica Science Communications e mostram que a mol�cula � capaz de inibir a replica��o do Sars-CoV-2 em c�lulas do f�gado e do pulm�o, al�m de auxiliar a frear o processo inflamat�rio desencadeado pelo v�rus.

"Esse estudo comp�e um dossi� pr�-cl�nico submetido � Anvisa junto com outro conjunto de dados para que essa subst�ncia possa se tornar um antiviral inovador desenvolvido desde a sua concep��o no Brasil, visando � maior independ�ncia nesse tipo de tecnologia, que � de alto custo para o SUS", afirma o virologista Thiago Moreno Souza, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnol�gico em Sa�de da Fiocruz e um dos autores do artigo.

O Paxlovid, antiviral para tratamento da COVID-19 fabricado pela Pfizer, � comercializado em farm�cias do pa�s por at� R$ 4.856,73.

Al�m da Fiocruz, a pesquisa, iniciada em meados de 2020, re�ne cientistas da empresa Microbiol�gica, do CIEnP (Centro de Inova��o e Ensaios Pr�-Cl�nicos), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e do Inca (Instituto Nacional de C�ncer).

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"Estamos discutindo a autoriza��o para in�cio de fase cl�nica um com a Anvisa h� aproximadamente um ano e estamos confiantes que a ag�ncia autorizar� o estudo", diz Jo�o Calixto, diretor do CIEnP e tamb�m autor do artigo.

Para chegar ao novo antiviral oral, a equipe testou cerca de 250 mol�culas e verificou que a cinetina, atualmente estudada no tratamento de pessoas com disautonomia familiar -doen�a que afeta o funcionamento do sistema nervoso aut�nomo- consegue atrapalhar o processo de reprodu��o do Sars-CoV-2.

Isso ocorre porque a estrutura da MB-905 � muito parecida com uma parte do RNA do v�rus. Essa semelhan�a confunde a enzima que atua na cria��o de novas c�pias do material gen�tico e ela acaba incorporando a cinetina. A inclus�o da mol�cula intrusa gera uma confus�o na sequ�ncia do RNA e induz a v�rios erros nas tentativas do Sars-CoV-2 de se multiplicar, resultando na inibi��o da reprodu��o do v�rus.

O efeito

O efeito foi observado em c�lulas humanas hep�ticas e pulmonares in vitro, em camundongos e em hamsters e foi maior nos testes em que a MB-905 foi associada a subst�ncias capazes de barrar a exonuclease, enzima que tenta corrigir os erros na s�ntese do RNA. � o caso, por exemplo, do dolutegravir, utilizado no tratamento de pessoas com HIV.

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De acordo com o artigo, al�m de agir como antiviral, a mol�cula conseguiu reduzir os n�veis de marcadores associados � inflama��o provocada pelo coronav�rus e os danos nos pulm�es nos modelos animais.

Outro ponto positivo, mencionam os autores, � que a seguran�a da cinetina j� vem sendo testada nas pesquisas sobre disautonomia familiar.

Calixto afirma que o grupo n�o imaginava que uma mol�cula em an�lise para tratar tal doen�a pudesse ser ben�fica no combate � Covid-19. "Somente descobrimos esses estudos quando j� t�nhamos avan�ado muito nos estudos pr�-cl�nicos da MB-905."

Por todos esses fatores, os pesquisadores veem a oportunidade de desenvolver rapidamente o novo antiviral e depositaram duas patentes nesse sentido.

"A maior dificuldade que estamos enfrentando � aus�ncia no Brasil de centros de pesquisa capacitados para realizar estudos de fase um em volunt�rios, de acordo com os requisitos da Anvisa e das ag�ncias reguladoras internacionais", afirma Calixto.