Mulheres sentadas

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Thomas Coex/AFP

Aumentar em 30% a cobertura de �rvores nos centros urbanos pode evitar um ter�o das mortes atribu�das ao excesso de calor. Um estudo publicado na revista The Lancet, com base na modelagem de 93 cidades europeias, mostra que a estrat�gia reduz a temperatura em uma m�dia de 0,4ºC no auge do ver�o, quando os term�metros t�m ultrapassado facilmente os 40ºC, chegando a bater os 50°C em algumas regi�es.

Na Europa, a cobertura m�dia � estimada em 14,9%, percentual considerado bastante baixo pelos autores, liderados pelo Instituto de Sa�de Global de Barcelona (ISGlobal), na Espanha. "J� se sabe que altas temperaturas em ambientes urbanos est�o associadas a desfechos negativos para a sa�de, como insufici�ncia cardiorrespirat�ria, interna��o hospitalar e morte prematura", destaca a principal autora do artigo, Tamar Iungman, bi�loga e especialista em sa�de p�blica. "O estudo atual � o maior do tipo e o primeiro a olhar especificamente para a mortalidade prematura causada por temperaturas mais altas nas cidades e o n�mero de mortes que poderiam ser evitadas com o aumento da cobertura de �rvores."

Segundo o artigo, dos 6,7 mil �bitos prematuros associados �s altas temperaturas nos centros urbanos em 2015, 2.644 poderiam n�o ter ocorrido com a amplia��o da cobertura arb�rea. "Nosso objetivo � informar formuladores de pol�ticas p�blicas e tomadores de decis�o sobre os benef�cios de integrar estrategicamente a infraestrutura verde ao planejamento urbano a fim de promover ambientes mais sustent�veis, resilientes e saud�veis e contribuir para a adapta��o e a mitiga��o das mudan�as clim�ticas", diz Iungman.

A cientista explica que as cidades, em especial, registram temperaturas altas, mais do que as �reas rurais que as circundam. A diferen�a � causada pela altera��o nas paisagens por atividades humanas, como remover a vegeta��o para a constru��o de im�veis, cobrir o solo com asfalto e utilizar materiais que absorvem e ret�m a radia��o do Sol. Como as emiss�es de gases de efeito estufa continuam a aumentar, piorando o cen�rio das mudan�as clim�ticas, os pesquisadores acreditam que as chamadas "ilhas de calor" se tornar�o cada vez mais comuns nas cidades de todo o mundo. "As previs�es baseadas nas emiss�es atuais revelam que doen�as e mortes relacionadas ao calor se tornar�o um fardo maior para nossos servi�os de sa�de nas pr�ximas d�cadas", declara Iungman.

Os pesquisadores, liderados por Mark Nieuwenhuijsen, do ISGlobal, estimaram as taxas de mortalidade dos residentes com mais de 20 anos em 93 cidades europeias, chegando a um total de 57 milh�es de habitantes, entre junho e agosto de 2015. Em seguida, recolheram dados sobre as temperaturas rurais e urbanas di�rias para cada localidade, em um n�vel de alta resolu��o (cada �rea estudada tinha 250 metros quadrados). As mortes prematuras foram calculadas simulando cen�rios hipot�ticos, sem ilha de calor urbana. Depois, a equipe estudou a redu��o de temperatura caso a cobertura de �rvores aumentasse 30%, e o quanto isso impactaria nos �bitos associados.

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Os resultados mostram que, de junho a agosto de 2015, as cidades ficaram, em m�dia, 1,5°C mais quentes que a zona rural ao redor. No total, 6,7 mil mortes prematuras podem ser atribu�das a temperaturas urbanas mais quentes, o equivalente a 4,3% da mortalidade total durante os meses de ver�o e 1,8% ao longo de todo o ano. Um ter�o desses �bitos (2.644) poderia ter sido evitado aumentando a cobertura arb�rea em at� 30%, mostrou a modelagem.

Preserva��o

No geral, as cidades com as maiores taxas de mortalidade por excesso de calor estavam no sul e no leste da Europa, e seriam elas as que mais se beneficiaram com o aumento no n�mero de �rvores. "Nossos resultados mostram a necessidade de preservar e manter as �rvores que j� temos porque s�o um recurso valioso e leva muito tempo para cultivar novas. N�o se trata apenas de aumentar as �rvores na cidade, mas tamb�m de como elas s�o distribu�das", diz Nieuwenhuijsen. O plantio, diz o cientista, deve ser combinado com outras interven��es, como telhados verdes e investimento em materiais de constru��o que n�o absorvem calor.

O ano de refer�ncia do estudo foi 2015 porque os dados populacionais n�o estavam dispon�veis para os posteriores, mas, segundo Tamar Iungman, o estudo fornece "informa��es valiosas" para que todas as cidades mundiais possam se tornar mais resilientes aos impactos das mudan�as clim�ticas na sa�de. "Aqui, olhamos apenas para o efeito de resfriamento das �rvores, mas tornar as cidades mais verdes traz muitos outros benef�cios para a sa�de, incluindo maior expectativa de vida, menos problemas de sa�de mental e melhor funcionamento cognitivo", acrescenta.

Em nota, o coautor do estudo Antonio Gasparrini, professor de bioestat�stica e epidemiologia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, diz que o trabalho sobre a cobertura vegetal e outros fatores em n�veis locais � uma importante estrat�gia para evitar mortes. "A vulnerabilidade ao calor muda de cidade para cidade dependendo de v�rios fatores. Compreender os benef�cios de pol�ticas como o aumento da cobertura florestal pode ajudar a informar a��es para reduzir riscos e prevenir mortes evit�veis, especialmente com as mudan�as clim�ticas", escreveu.

Interven��es urgentes

"Esse mapeamento oferece oportunidades para que as cidades identifiquem onde interven��es s�o mais urgentemente necess�rias para proteger os mais vulner�veis, � medida que as temperaturas continuam a crescer globalmente. Essencialmente, todas as mortes por ondas de calor s�o evit�veis. As comunidades precisam entender a necessidade de um conjunto mais eficaz de interven��es, incluindo planos de a��o que detalham como modificar a infraestrutura para aumentar a resili�ncia e a sustentabilidade das comunidades no planejamento urbano de longo prazo. � fundamental que an�lises como essa sejam feitas em �reas urbanas em r�pido crescimento da �ndia, China e �frica Subsaariana, muito expostas a altas temperaturas e com grandes popula��es em risco."

Kristie L. Ebi, pesquisadora do Centro de Sa�de e Meio Ambiente Global da Universidade de Washington