churrasco de carne vermelha

De baixa qualidade nutritiva, a dieta paleo, baseada no consumo de carnes, nozes e vegetais e na qual leguminosas e gr�os s�o cortados, resulta na emiss�o de 2,6kg de di�xido de carbono por 1 mil calorias ingeridas

Kerstin Riemer/Pixabay
Ruins para a sa�de humana e pior ainda para o planeta. Esse � o veredito de um estudo publicado na Revista Norte-americana de Nutri��o Cl�nica que avaliou o impacto nutricional e ambiental das dietas ceto e paleo. Muito populares nos �ltimos anos por prometerem um r�pido emagrecimento e basicamente banirem o carboidrato do card�pio, elas s�o as maiores emissoras de carbono por calorias consumidas. Al�m disso, oferecem poucos nutrientes, diz o estudo da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos..

Os pesquisadores utilizaram dados de mais de 16 mil dietas de adultos norte-americanos, coletados pela Pesquisa Nacional de Sa�de e Nutri��o do Centro de Controle de Doen�as (CDC). Com base no �ndice Federal de Alimenta��o Saud�vel, os regimes alimentares individuais receberam pontua��es. Al�m disso, os cientistas usaram uma calculadora de pegada de carbono, que estima os impactos da cadeia produtiva dos alimentos na emiss�o de gases de efeito estufa.

Em primeiro lugar no ranking das poluidoras e pouco nutritivas, est� a dieta cetog�nica que, segundo o principal autor do estudo, Diego Rose, prioriza grandes quantidades de gordura e baixas de carboidrato. Para cada 1 mil calorias consumidas, s�o emitidos 3kg de di�xido de carbono, o g�s que mais contribui para o aquecimento global. Al�m disso, ela obteve a pontua��o mais baixa em termos de qualidade geral da nutri��o.

Tamb�m de baixa qualidade nutritiva � a dieta paleo, baseada no consumo de carnes, nozes e vegetais e na qual leguminosas e gr�os s�o cortados. Esse regime alimentar resulta na emiss�o de 2,6kg de di�xido de carbono por 1 mil calorias ingeridas. "Todos os produtos de origem animal s�o mais impactantes do que os vegetais porque voc� precisa cultivar a ra��o e incluir todos os impactos dessas culturas para alimentar os animais", explica Rose, professor e diretor do programa de nutri��o da Escola de Sa�de P�blica e Medicina Tropical da Universidade. "Mas al�m disso, com animais ruminantes, h� metano produzido por arrotos. Eles s�o capazes de digerir gram�neas, o que � �timo se voc� pensar sobre isso, mas, por outro lado, a fermenta��o bacteriana no intestino est� produzindo metano, que � 30 vezes mais impactante que o di�xido de carbono. Ent�o, isso realmente coloca a carne em um patamar diferente."

O nutricionista cita um estudo de 2021, apoiado pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), segundo o qual 34% das emiss�es de gases de efeito estufa v�m do setor alimentar, sendo que a maior parte dessa polui��o est� associada � produ��o dos alimentos. A carne bovina emite entre oito a 10 vezes mais que a de frango e mais de 20 vezes o cultivo de nozes e leguminosas.

De acordo com Rose, embora outros pesquisadores tenham examinado o impacto nutricional das dietas ceto e paleo, este � o primeiro estudo a medir as pegadas de carbono de cada um dos regimes alimentares mais populares no Ocidente. "Ningu�m realmente havia comparado todas essas dietas — j� que s�o escolhidas por indiv�duos em vez de prescritas por especialistas — entre si usando uma estrutura comum".

Op��es

A an�lise dos dados, que incluiu cerca de 6 mil alimentos diferentes, mostrou que a dieta pescetariana (baseada na ingest�o de alimentos � base de plantas, peixes e frutos do mar) tem a maior qualidade nutricional. Em seguida, nesse quesito, est�o as vegetarianas e veganas. Esta �ltima, que exclui produtos de origem animal, tem o menor impacto no clima: 0,7kg de di�xido de carbono por 1 mil calorias, menos de um quarto do verificado na cetog�nica. A alimenta��o vegetariana e a pescatarianas ficam em segundo e terceiro lugar, respectivamente.
Representada por 86% dos participantes do estudo, a dieta on�vora teve pontua��o mediana tanto na qualidade quanto na sustentabilidade. Segundo Rose, se um ter�o das pessoas que adotam esse regime alimentar comum se tornassem vegetarianos, em um �nico dia evitariam as emiss�es equivalentes �s geradas por 340 milh�es de ve�culos de passageiros.

A pegada de carbono pode ser menor mesmo quando n�o se abre m�o de prote�na animal, diz o nutricionista. A tamb�m popular dieta mediterr�nea, que limita, embora n�o exclua totalmente, a carne vermelha � mais sustent�vel e nutritiva que a on�vora. "Voc� n�o precisa se tornar vegetariano para gerar menos impacto. Se est� comendo muita carne bovina, pode simplesmente reduzir a quantidade, e isso j� causa um impacto positivo", diz.

Segundo Martin Heller, pesquisador do Centro de Sistemas Sustent�veis da Escola de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, al�m do carbono, as dietas ricas em prote�na animal, especialmente em carne vermelha, contribuem para a pegada de escassez de �gua. Esse conceito recente calcula o impacto h�drico da produ��o de alimentos.

Um estudo anterior de Heller constatou que regimes nos quais o consumo de carne � mais elevado t�m uma pegada 4,7 maior, quando comparados �queles concentrados em vegetais que precisam de pouca irriga��o, como ervilha, couve e repolho. Assim como Rose, o cientista de Michigan diz que n�o � preciso eliminar a carne do card�pio. "Calcular as pegadas de carbono e de escassez de �gua na nossa dieta n�o significa que precisamos eliminar completamente a carne, mas que precisamos consumi-la com modera��o."

Risco maior de doen�as

Um estudo publicado na revista Fronteiras da Nutri��o sugere que a dieta cetog�nica est� associada a riscos a longo prazo, como doen�as cardiovasculares, c�ncer, diabetes e Alzheimer. Para gestantes e pacientes renais, ela � ainda mais danosa. “Essa dieta � um desastre, que promove doen�as. Excesso de carne vermelha, processada e de gordura saturada com restri��o de vegetais, frutas, leguminosas e gr�os integrais � uma receita para problemas de sa�de”, afirmou, em nota, Lee Crosby, do Comit� de M�dicos para a Medicina Respons�vel, uma ONG mundial. A pesquisa fez uma revis�o de artigos sobre o tema, publicados desde 2016.