
O coquetel amaz�nico � uma infus�o com cinco ervas t�picas da regi�o Norte do Brasil e tem tido picos de crescimento nas trends de emagrecimento e nos buscadores como Google. Na internet, h� in�meros an�ncios de f�rmulas prontas e receitas, mas o composto basicamente � descrito como a mistura de alcachofra, banch�, c�scara-sagrada, centelha-asi�tica e sene.
Especialistas, entretanto, alertam que tr�s dos cinco compostos da mistura s�o laxativos e que a sensa��o de emagrecimento � menos real do que parece. "N�o � uma combina��o de plantas medicinais que contribuir�o com o emagrecimento. Elas podem causar uma falsa sensa��o de perda de peso, pelo aumento no n�mero de evacua��es e perda de l�quidos, mas n�o h� diminui��o de tecido gorduroso, ou seja, n�o � emagrecedora", afirma a nutricionista Sula de Camargo, habilitada em fitoterapia e aromaterapia.
A nutricionista Vanessa Losano, supervisora de sa�de na rede Vitat, que divulga a receita em seu site, diz que o coquetel amaz�nico surgiu em uma institui��o do Norte do pa�s como um tratamento para obesidade baseado em propriedades emagrecedoras de plantas nativas da flora da regi�o, sendo parte de um tratamento mais amplo.
"A procura por ele � alta, pois, al�m do nome remeter a coisas naturais, acredita-se de fato que ele auxilia no emagrecimento, e sabemos que hoje o sobrepeso e a obesidade crescem nas mais diversas faixas de renda", afirma Losano.
Pelo forte car�ter laxativo, a supervisora indica o coquetel amaz�nico apenas como um aux�lio para aqueles que t�m pris�o de ventre e sempre com acompanhamento profissional. "O emagrecimento varia muito de pessoa para pessoa, de como � a rotina no restante do dia. Nenhum ch�, coquetel ou alimento sozinho emagrece. O coquetel � apenas mais um auxiliar no processo", diz a nutricionista da rede.
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Outro alerta � para o equ�voco comum de achar que, por ser natural, pode-se fazer o uso � vontade e indiscriminado do coquetel amaz�nico. "Devido � combina��o de ervas e ao alto poder laxativo, o ideal � consumir uma x�cara ao dia (50 ml) e se hidratar bastante ao longo do dia. E quem tem problemas nos rins e f�gado, por exemplo, n�o deve consumir", destaca a supervisora.
Maria Edna de Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologiada (SBEM) lembra ainda que nem sempre as f�rmulas prontas cont�m de fato o que est� descrito na embalagem ou apenas isso. "Esse tipo de produto, diferentemente dos medicamentos, n�o tem controle de qualidade. N�o se sabe se outras subst�ncias foram colocadas. Se toma o produto e fica sem apetite, por exemplo, vai ter um inibidor, nenhuma dessas ervas leva a isso", diz a m�dica.
Melo afirma que o efeito deriva mesmo da inser��o de algum medicamento e que estas solu��es n�o levam � perda de peso, muito menos com seguran�a. Mesmo as ervas "in natura", se mal identificadas ou manipuladas em dosagens aleat�rias, podem causar mais dano que benef�cio. "Fitoter�picos de efeito laxativo provocam aumento do n�mero de evacua��es e at� diarreia, podem precipitar desidrata��o e problemas renais ou hep�ticos", conta a endocrinologista.
Desse modo, f�rmulas m�gicas nunca devem ser a refer�ncia para quem quer emagrecer. "A SBEM v� com muita preocupa��o [o uso destes ch�s da moda], visto os casos de insufici�ncia hep�tica que acompanhamos no come�o do ano, nos quais foram precisos transplantes. Uma profissional de sa�de morreu com o ch� de 50 ervas", lembra a m�dica.
Um levantamento conduzido em 2022 pela SBEM com 3.621 pessoas, sendo 89% delas mulheres, revelou que 93,6% dos entrevistados j� tinham tentado perder peso. Destas, 31% admitiram ter tentado por conta pr�pria, 55,7% recorreram a servi�os privados e apenas 12,9% usaram o SUS. Entre as t�cnicas utilizadas para emagrecer, a mais comum foi dieta mais exerc�cios (65%), seguida de apenas dieta (15%). Outros 10% usaram medicamentos e, ao todo, cerca de 9% recorreram a ch�s, shakes, fitoter�picos e internet.
"Obesidade � uma doen�a e atinge n�veis populacionais epid�micos. As pessoas tentam emagrecer por meio de dieta e atividade f�sica, que � o que todo mundo diz para fazer, mas n�o � t�o f�cil", afirma a m�dica. Para ela, a maioria buscou ajuda no setor privado porque, apesar da obesidade impactar muito no servi�o p�blico, n�o h� estrutura hoje para atender a demanda.
Outro fator que se reflete no mau h�bito de buscar na internet receitas milagrosas para emagrecer � a press�o da sociedade. "N�o � s� a gordofobia com a obesidade, tem uma estigmatiza��o at� de quem est� normal, mas ganhou algum peso. Existe tratamento �tico, com medica��o, orienta��o nutricional, mudan�a de estilo de vida espec�fica, mas o preconceito faz com que as pessoas busquem resolver sozinhas, escondidas", lamenta a especialista.
Os an�ncios ativados por voz e prefer�ncias de pesquisa ampliam a bolha e o risco, enviando sugest�o de emagrecedores de todo tipo. "A recomenda��o � conversar com seu m�dico mais pr�ximo, algu�m que te trate de forma respeitosa, e que, diante da dificuldade de perder peso, encaminhe para outro profissional com maior capacidade de atendimento", indica Melo.