
Corredor de hospital durante a pandemia
Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press
Uma das primeiras mortes por covid-19 no Brasil foi confirmada pela Secretaria de Sa�de do Rio de Janeiro em 12 de mar�o de 2020. A v�tima, uma mulher de 63 anos, trabalhava como empregada dom�stica e pegou o v�rus depois que a patroa retornou de uma viagem � Europa e testou positivo para a doen�a.
No mesmo dia, a Secretaria de Sa�de de S�o Paulo tamb�m confirmou uma morte pela doen�a. A v�tima, outra mulher, de 57 anos, que trabalhava como diarista e deixou um filho com defici�ncia. Os primeiros �bitos causados pelo v�rus no pa�s s�o emblem�ticos e refletem a vulnerabilidade das mulheres frente � doen�a – sobretudo as mais pobres e negras.
Pesquisa da Sempreviva Organiza��o Feminista, realizada nos primeiros meses da pandemia, mostra como a crise na sa�de e o isolamento social acentuaram as desigualdades nas tarefas dom�sticas. Segundo a entidade, a sobrecarga de trabalho e de cuidado foram quest�es que as mulheres sentiram logo que as medidas de isolamento social come�aram.
“As din�micas de vida e trabalho das mulheres se contrap�em ao discurso de que a economia n�o pode parar, mobilizado para se opor �s recomenda��es de isolamento social. Os trabalhos necess�rios para a sustentabilidade da vida n�o pararam – n�o podem parar. Pelo contr�rio, foram intensificados na pandemia”, destacou a entidade. Os n�meros apontam que metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de algu�m durante a pandemia.
Ainda de acordo com o levantamento, 40% das mulheres ouvidas afirmaram que a pandemia e a situa��o de isolamento social colocaram o sustento da casa em risco. A maior parte das que t�m essa percep��o s�o mulheres negras (55%) que, no momento em que responderam � pesquisa, tinham como dificuldades principais o pagamento de contas b�sicas ou do aluguel. O acesso a alimentos tamb�m foi uma preocupa��o.
Viol�ncia
Sobre a percep��o de viol�ncia, 91% das mulheres acreditam que a viol�ncia dom�stica aumentou em meio ao isolamento social. Quando perguntadas sobre experi�ncias pessoais, no entanto, menos de 10% afirmaram ter sofrido alguma forma de viol�ncia nesse per�odo.
O percentual aumenta entre mulheres nas faixas de renda mais baixa. Entre mulheres com renda familiar de at� um sal�rio m�nimo, 12% afirmam ter sofrido viol�ncia; e entre mulheres que vivem em �reas rurais e est�o na mesma faixa de renda, 11,7% relataram viol�ncia.
“O cuidado est� no centro da sustentabilidade da vida. N�o h� a possibilidade de discutir o mundo p�s-pandemia sem levar em considera��o o quanto isso se tornou evidente nesse momento de crise global, que nos fala sobre uma ‘crise do cuidado’. N�o se trata de um problema a ser resolvido, nem de uma demanda a ser absorvida pelo mercado. Trata-se de uma dimens�o da vida que n�o pode ser regida pelas din�micas sociais pautadas no ac�mulo de renda e de privil�gios.”
Homenagem
Nas redes sociais, a filha da diarista que morreu por covid-19 h� tr�s anos conta que passou a cuidar do irm�o com defici�ncia, al�m de tr�s crian�as que j� estavam sob sua responsabilidade. Em homenagem � m�e, postou:
“Ah, se eu soubesse que era a �ltima vez que eu iria te ver. Ah, se eu soubesse que aquele ‘at� logo’ n�o iria acontecer. Eu tinha te abra�ado t�o apertado. N�o deixaria voc� partir. Ficaria do meu lado. Ficaria aqui. Ah, se eu pudesse acordar hoje e fosse s� um pesadelo. Ah, se eu pudesse mudar o destino. Faria um apelo: pra Deus n�o deixar voc� partir”.
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