taça de vinho sobre cachos de uvas

Segundo os autores do estudo, pesquisas antigas que atestavam benef�cios do �lcool n�o faziam ajustes de idade, sexo e estilo de vida, como pr�tica de exerc�cios, tabagismo e dieta, o que pode distorcer os resultados

Sergio Infantes G�/Pixabay
Por muito tempo, prevaleceu a cren�a de que tomar uma ou duas doses de vinho diariamente faz bem ao cora��o. Mas, agora, um artigo com dados de 5 milh�es de pessoas afirma que o h�bito n�o protege contra enfermidades cardiovasculares nem ajuda a viver mais. Publicada na Revista da Associa��o M�dica Norte-Americana (Jama), a pesquisa examinou 107 estudos epidemiol�gicos de grande porte que avaliaram a associa��o entre o consumo frequente de �lcool e a mortalidade em geral. Para a decep��o de quem acredita no potencial ben�fico da bebida, a principal conclus�o foi outra: "Menos �lcool � melhor", destaca Tim Naimi, autor do estudo e professor da Universidade de Vit�ria, no Canad�.

A an�lise n�o se concentrou apenas no vinho, mas em qualquer tipo de bebida consumida diariamente em n�veis moderados — menos de 25g. Para compara��o, uma dose de destilado tem 25g e uma ta�a de vinho de 90ml tem 10g, mesma quantidade de uma lata de cerveja. Segundo os autores, pesquisas antigas que atestavam benef�cios do �lcool n�o faziam ajustes de idade, sexo e estilo de vida, como pr�tica de exerc�cios, tabagismo e dieta, o que pode distorcer os resultados. Agora, todos esses fatores foram calculados, garantindo, de acordo com os especialistas, um quadro mais acurado.
"A revis�o dos 107 artigos envolvendo mais de 4,8 milh�es de participantes n�o encontrou redu��o significativa na mortalidade por todas as causas para bebedores que ingeriam menos de 25g de etanol por dia", destaca Naimi. "Agora, houve um crescimento significativo de aumento da mortalidade entre mulheres que ingeriam mais de 25g por dia e homens que bebiam 45g ou mais diariamente", alerta. As descobertas v�o ao encontro de um estudo de base gen�tica, publicado no ano passado, que tamb�m apontava que qualquer consumo de �lcool frequente faz mal � sa�de.

Paradoxo franc�s

Segundo Dennis Bruemmer, do Departamento de Cardiologia da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, a cren�a de que a ingest�o moderada di�ria de vinho tinto faz bem ao cora��o baseia-se no chamado paradoxo franc�s. No pa�s europeu, essa bebida � muito popular, com um adulto m�dio consumindo cerca de 47l por ano (mais de 62 garrafas). Al�m disso, os franceses apresentam, no geral, baixas taxas de doen�as cardiovasculares.
 
Por�m, o cardiologista afirma que essa caracter�stica n�o � explicada pela bebida e, sim, porque, em compara��o a pa�ses com mortalidade mais alta, h� menos taxas de obesidade e diabetes tipo 2, menos sedentarismo e h�bitos alimentares mais saud�veis, com prefer�ncia por dietas semelhantes � mediterr�nea, por��es menores e baixo consumo de fast-food. "Acredito que o paradoxo franc�s n�o � realmente explicado pelo consumo de �lcool e vinho tinto tanto quanto por esses outros fatores", afirma.

Resveratrol

De fato, a casca das uvas usadas para a fabrica��o de vinho tinto tem um composto natural antioxidante chamado resveratrol que teria potencial de proteger contra doen�as cardiovasculares. "O resveratrol ajuda a ativar uma enzima chamada telomerase, que protege a integridade do genoma", explica Bruemmer. "E por causa disso, tem sido associado � preven��o de doen�as cardiovasculares e, na verdade, ao prolongamento da longevidade." Por�m, boa parte das evid�ncias foram obtidas em estudos laboratoriais, e n�o em humanos. Al�m disso, a quantidade necess�ria da subst�ncia para promover algum benef�cio teria de ser imensa. "Seria imposs�vel conseguir isso com vinho tinto." 

Ros�rio Ortol�, pesquisadora de Medicina Preventiva e Sa�de P�blica da Universidade Aut�noma de Madri, na Espanha, onde o consumo de vinho tamb�m � alto, diz que o artigo publicado na Jama demonstra que o consumo de �lcool n�o deve ser recomendado para melhorar a sa�de, mesmo em pequenas quantidades. "Deve ficar claro que, se voc� beber, quanto menos melhor", aconselha. 

Consumo excessivo de �lcool 

"J� n�o h� d�vidas de que o consumo excessivo de �lcool � claramente prejudicial � sa�de, mas persiste a controv�rsia sobre os efeitos do consumo moderado, embora surjam cada vez mais estudos com metodologias mais rigorosas que n�o mostram benef�cios em beber pequenas quantidades", refor�a Ortol�. "Os resultados desse novo estudo v�o nessa linha, pois n�o encontram um menor risco de morte para o consumo baixo ou moderado, mas um risco maior para o alto consumo." Al�m disso, nas mulheres, a vulnerabilidade come�a a aumentar com menores quantidades de �lcool, algo que j� � conhecido e se reflete em limites de risco mais baixos do que para os homens, salienta.

Essas conclus�es t�m levado sociedades m�dicas a destacar, cada vez mais, o potencial mal�fico do �lcool. No ano passado, a Federa��o Mundial do Cora��o publicou um relat�rio, o Impacto do consumo de �lcool na sa�de cardiovascular: mitos e medidas, que conclui: "Ao contr�rio da opini�o popular, o �lcool n�o � bom para o cora��o". "Essas alega��es s�o, na melhor das hip�teses, mal informadas e, na pior, uma tentativa da ind�stria do �lcool de enganar o p�blico sobre o perigo de seu produto", disse Monika Arora, coautora do trabalho.