escova de dente

escova de dente

Bruno Germany/Pixabay


S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nada de cerdas em zigue-zague, intercaladas com borrachas ou distribu�das em arranjos desiguais. Uma escova de dentes adequada � simples: requer ao menos 18 tufos, cada um com 80 cerdas arredondadas e polidas. Ainda assim, de 345 exemplares adquiridos em 26 cidades paulistas, apenas 60 (17,4%) apresentaram essas caracter�sticas, revela uma pesquisa realizada na Faculdade de Sa�de P�blica da USP.

O estudo, conduzido por S�nia Regina Cardim de Cerqueira Pestana e orientado por Paulo Capel Narvai, aponta que apenas uma das sete escovas manuais para beb�s era adequada. Entre os modelos infantis, 14 das 105 unidades avaliadas seguia os par�metros e, entre aquelas destinadas a adultos, 45 eram adequadas, contra 188 inadequadas.

 

 

 

A an�lise foi realizada em dois n�veis: a olho nu e com microsc�pio. Na primeira parte, foram examinados o formato do cabo e da cabe�a de cada exemplar, e mais de 70% da amostra foi considerada nos padr�es ideais.

 

J� na segunda parte, as cerdas foram observadas em microsc�pio —e foi a� que apareceram os problemas. A maioria dos produtos apresentava um n�mero de cerdas inferior ao necess�rio e dimens�es diferentes das preconizadas: comprimento entre 9 mm e 10 mm e di�metro de 0,18 mm para adultos e 0,13 mm para crian�as.

 

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Al�m disso, poucas cerdas tinham as pontas polidas e arredondadas. Em sua maioria, as extremidades eram retas e dilaceradas.

 

"Mil�metros de diferen�a no formato do cabo ou na cabe�a n�o interferem na adequa��o. Eles podem afetar a ergonomia, mas n�o tornam o instrumento inadequado para uso. O que � determinante para tornar o produto adequado s�o as cerdas, seu tipo de ponta e a quantidade", ressalta a pesquisadora, que atua no Cecol (Centro Colaborador do Minist�rio da Sa�de em Vigil�ncia da Sa�de Bucal) e � professora de odontologia da Universidade de S�o Caetano do Sul.

 

Pestana conta que a investiga��o teve in�cio em 2017, quando ela ingressou no doutorado sob orienta��o de Narvai. Ele tinha um desejo antigo de estudar as escovas de dente, instrumento que apesar do uso generalizado � tema de poucas pesquisas, e ela gostou da proposta.

 

A primeira fase consistiu em um levantamento bibliogr�fico, que confirmou a exist�ncia de um n�mero limitado de estudos. Depois, veio a an�lise das normas referentes a instrumentos de sa�de bucal. "Ao estudar as normas, percebemos como s�o fr�geis e isso aumentou nossa vontade de pesquisar as escovas", diz.

 

Em seguida, foram sorteadas 24 cidades paulistas, seis de cada porte. Al�m dessas, Pestana acrescentou o menor munic�pio paulista, Bor�, com popula��o estimada em 839 pessoas, e a capital, com 12 milh�es de habitantes, totalizando 26 localidades.

 

Ela viajou a cada um dos munic�pios e visitou farm�cias, supermercados e lojas de conveni�ncia para adquirir os diferentes modelos. Exclu�das as escovas repetidas, chegou � amostra com 345 unidades.

Pestana definiu as categorias de an�lise a partir do padr�o m�nimo apontado por Charles Bass, americano pioneiro no estudo das escovas de dente, e deu in�cio ao levantamento que indicou as inadequa��es.

"Temos hoje no mercado escovas de 500 at� 7.000 cerdas. Ent�o posso ter uma escova com 700 cerdas que vai durar muito pouco ou uma de 6.000 com di�metro da cerda muito inferior ao padr�o", afirma. "E isso n�o tem rela��o com pre�o ou marca."

 

Ela tamb�m levou em considera��o as normas vigentes � �poca e, na vers�o revisada do estudo, incluiu a nova resolu��o, de mar�o de 2022.

 

"A norma n�o apresenta as caracter�sticas necess�rias de forma mais contundente e afirma que 80% das cerdas aplicadas na escova devem apresentar acabamento m�nimo aceit�vel. N�o d� para aceitar que 20% n�o sejam arredondadas, � uma margem muito grande", critica.

 

Segundo a professora, as diferen�as nas cerdas n�o alteram a remo��o da placa bacteriana: todas as escovas t�m essa capacidade. Contudo, cerdas inadequadas podem provocar microfissuras na gengiva, ocasionando dor ap�s a escova��o, e levar ao desgaste no esmalte do dente, o que ap�s um per�odo prolongado pode ocasionar hipersensibilidade. "Consideramos a norma fr�gil e isso � grave porque o consumidor n�o sabe o que est� comprando."

 

De acordo com a Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria), as escovas s�o produtos isentos de registro e sua comercializa��o no pa�s � condicionada � comunica��o pr�via por meio de notifica��o e ao atendimento dos requisitos t�cnicos descritos na resolu��o.

O �rg�o afirma que a agenda regulat�ria 2021-2023 n�o prev� altera��es na resolu��o atual, mas a �rea t�cnica respons�vel avaliar� a possibilidade de incluir uma revis�o da norma na agenda 2024-2026.

A ag�ncia diz ainda que os resultados do estudo conduzido na USP ser�o avaliados e destaca que quaisquer problemas com produtos cosm�ticos, incluindo as escovas dentais, pode ser notificado. "Tais informa��es s�o importantes para o trabalho de monitoramento", ressalta.

As notifica��es podem ser feitas na p�gina da Anvisa.