Bruna Tavares, Giovanna Lara, Let�cia Gaspar e Michele Assis*
Cada vez mais, fala-se em autoamor. Do que se trata, afinal? Como pratic�-lo, para que o alcancemos? E por que � t�o importante tocar no assunto? Cuidar de si mesmo n�o � t�o simples assim, pois as pessoas t�m inseguran�as, medos, e costumam se comparar, excessivamente, umas �s outras. Da� a grande quest�o: como desenvolver amor-pr�prio em meio a tantas dificuldades?
amor proprio
A psic�loga Grazielle Catherine diz que 90% de seus pacientes procuram atendimento por n�o se sentirem bem consigo mesmos. O perfil de quem chega ao consult�rio caracteriza-se por desmotiva��o, baixa autoestima, ansiedade e inseguran�a. “Ter amor-pr�prio � um ato de coragem!”, comenta a profissional, ao destacar que o atingi-lo requer esfor�os di�rios e mudan�as comportamentais. Reconhecer que algo est� errado e buscar ajuda especializada s�o os primeiros passos para que tudo comece a mudar.
Desenvolver o autoamor �, em parte, cuidar da sa�de mental, emocional e f�sica, conjunto essencial para a autoestima, a autoconfian�a e o autoconhecimento. Quem se ama aceita os pr�prios defeitos e as qualidades, e est� sempre � disposi��o para melhorar fraquezas e buscar a pr�pria evolu��o. Al�m de bem-estar social, esse processo traz benef�cios �s rela��es interpessoais e profissionais.
Viver a busca pelo autoamor pode ser �rduo e, por isso, � preciso de pessoas que nos inspirem, como exemplos de autocuidado, que podem nos motivar positivamente. Modelo e estudante de design de moda, Maria Laura conta que, antes de “modelar” , tinha autoestima muito baixa, e sempre se comparava a pessoas que via na internet. Com o tempo, percebeu que muitos vivem e aparecem, nas m�dias, repletos de filtros, engana��o, fingimento e procedimentos est�ticos. “Foi a� que parei e comecei a me ver de uma forma melhor, focando nos coment�rios positivos que recebia, e, principalmente, em mim mesma”, afirma.
Na adolesc�ncia, muitos jovens enfrentam problemas interpessoais, n�o � verdade? Foi aos 15 anos, por�m, que J�lia Almeida, estudante de letras, come�ou a desenvolver autoconfian�a e a ter mais amor-pr�prio. O principal motivo da virada de chave foi a press�o est�tica de querer se encaixar em determinados padr�es. Ela tem h�bitos que lhe ajudam o autocuidado, fruto da rotina que inclui atividades como skincare, fazer as unhas, hidratar o cabelo, ler livros e apreciar obras de arte.
De acordo com a psic�loga Roberta M. Avonte Swerts, � muito importante que a pessoa consiga se desconstruir. H�, por exemplo, que se desvencilhar de comportamentos de compara��o. Ou seja: � fundamental tratar melhor de si, cuidar-se mais e, consequentemente, ter boa rela��o melhor com os outros ao redor. “A autoestima � a percep��o de si mesmo. Em muitos momentos, essas quest�es internas precisam ser trabalhadas”, sublinha.
No entanto, como viver tais desafios? De que modo aprender a gostar de sua pr�pria companhia, de sua autoimagem, do que voc� �? Maria Laura tem cultivado h�bitos que a ajudam nisso. Ela costuma se exercitar e alongar, ser mais otimista e grata por tudo, al�m de se arrumar e se vestir bem na hora de sair. Ah, e est� sempre atenta ao protetor solar! S�o h�bitos simples, e que demonstram autoamor. Trata-se, afinal, de momentos dela com ela mesma. E, claro, de h�bitos que funcionam, exclusivamente, para Maria Laura, pois cada pessoa vive seus processos de maneira diferente.
As psic�logas Grazielle Catherine e Roberta M. Avonte Swerts defendem que pr�ticas como fazer passeios, comer coisas diferentes, encontrar amigos, ler livros, assistir a filmes etc. s�o demonstra��es de autocuidado, pois est�o repletos de bem-estar e prazer. Apesar de o processo ser particular, por variar de pessoa a pessoa, a verdade � que certos h�bitos se mostram importantes a todos, como exercitar-se, ter alimenta��o saud�vel e uma vida social ativa. Portanto, se voc� busca autoamor, comece a construir e criar tais rotinas.
No mais, ter amor-pr�prio influencia tanto na vida acad�mica e profissional quanto na seara pessoal. Nos estudos, por exemplo, a autoconfian�a ajudou J�lia Almeida a se tornar mais produtiva: “Quando n�o confiava em mim mesma, a caminhada para chegar aos resultados finais era mais dif�cil, demorada e desgastante. Atualmente, consigo mais produtividade por ter certeza daquilo que fa�o, mesmo quando n�o tenho 100% de certeza de que fiz o meu melhor”, explica.
J� na vida pessoal, a estudante come�ou a enxergar a vida de maneira mais leve, a ponto de sair com mais frequ�ncia e fazer novas amizades. Antigamente, ela ficava com medo dos julgamentos alheios e, por vezes, n�o se divertia da melhor maneira poss�vel. Para Maria Laura, a autoconfian�a influencia 100% em sua carreira como modelo, j� que trabalha com a imagem. “Confiar em mim e naquilo que eu estou fazendo � a base para que meu trabalho seja bem feito”, diz Maria.
As redes sociais tamb�m apresentam alto impacto no comportamento das pessoas, pois, quando acessam as plataformas digitais, ficam sujeitas aos sentimentos de compara��o e insatisfa��o consigo mesmas. Estudo feito pela Academia Americana de Cirurgi�es Pl�sticos mostra que 55% das pessoas que realizaram interven��es cir�rgicas est�ticas em 2017 o fizeram com o prop�sito de melhorar a apar�ncia para aparecer em selfies.
J�lia Almeida passa seis horas di�rias ao celular, e afirma que, �s vezes, cai na armadilha de se comparar com outras pessoas, que apresentam padr�es impostos pela sociedade. “Felicidade n�o � se sentir bem a todo momento, mas, sim, entender que vai enfrentar situa��es dif�ceis. Voc� n�o odeia aquilo que faz, nem a voc� mesma ou �s pessoas ao seu redor. Voc� gosta de si, de sua vida. E n�o h� problema em querer mudar para aperfei�oar algo, e n�o por press�o externa”, completa, ao se autodefinir, a partir de Clarice Lispector, com propriedade: “Eu sou uma eterna apaixonada por palavras, m�sica e pessoas inteiras. N�o me importa seu sobrenome, onde voc� nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias s�o chatas e me d�o sono”.
Autoimagem
Para se enquadrar em padr�es, as pessoas buscam diversos profissionais e, muitas vezes, absorvem vis�es equivocadas. � o que conta a nutricionista Ana Carolina Ferreira: “J� atendi muitos pacientes, principalmente do p�blico feminino, com distor��o de imagem. Algumas at� optaram por m�todos mais arriscados, como medicamentos e cirurgias, para resolver quest�es est�ticas”, conta.
Ela ressalta, por�m, que o autoconhecimento � fundamental ao caminho do autocuidado. Cuidar de si, de dentro para fora, afinal, � parte importante de tal processo, que se reflete no exterior e nas emo��es da pessoa. “Al�m dos resultados est�ticos proporcionados pela reeduca��o alimentar, com a consequente evolu��o da autoestima do paciente, � percept�vel a melhoria da qualidade do humor, do sono, do cabelo ou da pele”, explica.
Neste sentido, o profissional de nutri��o permite que o paciente tenha liberdade alimentar para tomar decis�es pr�prias, segundo par�metros do que seja correto e saud�vel. “Direcionamos ao melhor caminho, por meio da alimenta��o, de maneira a garantir que o paciente tenha autonomia para fazer as melhores escolhas dentre as op��es que se apresentar�o para que ele chegue ao resultado esperado", completa Ana Carolina.
Um fator que n�o pode ser negligenciado � a busca por orienta��o profissional. O senso comum pode atrapalhar o processo, visto que estimula ideias distorcidas em rela��o �s orienta��es dos especialistas. A nutricionista conta que o perfil das pessoas que a procuram � de mulheres jovens, entre 18 e 35 anos, em busca de emagrecimento. Muitas vezes, elas chegam ao consult�rio receosas e com ideias equivocadas sobre o tratamento.
“Os pacientes aparecem com v�rias queixas de autoestima, e, at� mesmo, com medo de iniciar um processo que muitos julgam dif�cil e cheio de restri��es. Depois, saem com sensa��o de al�vio, por saber que n�o � aquele monstro de que o senso comum fala”, revela Ana Carolina.
Essa foi exatamente a experi�ncia vivida por Mar�lia Siqueira, que, hoje, est� em processo de reeduca��o alimentar. “Achava que a mudan�a era dif�cil, mas n�o �. Isso � coisa da cabe�a da gente", diz, ao destacar que, agora, aos 51 anos, entende o quanto as instru��es de um especialista se mostra fundamental. “Quando voc� vai ao m�dico, e est� orientada, � diferente. Hoje, vejo assim. Antes, eu sempre fazia dieta e atividade f�sica. N�o engordava, mas meu peso n�o diminu�a. Com acompanhamento de nutricionista, tudo � diferente. Eu me sinto muito mais confiante e tento transmitir isso �s pessoas, que me v�em e acham que meu corpo mudou. Elas me enxergam at� emocionalmente diferente”, afirma.
Estudante de marketing, Juliana Bela diz ter aprendido h�bitos de autocuidado aos 29 anos. “A partir dessa fase nova da minha vida, tenho boa rela��o comigo mesma. Depois de algum tempo me julgando muito, sempre insatisfeita, sem acreditar em mim, comecei a me cuidar mais, a gostar de mim e do jeito que sou”, lembra, ao contar que, para tal mudan�a, foram fundamentais a pr�tica de exerc�cios f�sicos, a alimenta��o saud�vel e a frequente ingest�o de �gua.
Para a psic�loga Anna Paula Ribeiro de Souza, o amor-pr�prio proporciona uma vida feliz, livre, sem amarras. Eis o caminho para desenvolvimento emocional, psicol�gico e espiritual, afora a melhoria da qualidade de vida! Como dicas de pr�ticas eficazes no processo de autocuidado, a profissional cita a necessidade de reconhecer e desenvolver pontos fortes, fazer aquilo que ama, estabelecer limites e aprender a dizer n�o. Al�m, � claro, de cuidar do corpo e da mente.
Amor-pr�prio na pr�tica
Confira uma listinha de atitudes para melhorar sua rotina di�ria:
Tenha um tempo s� para voc�
Acostumamo-nos a ter muitos compromissos di�rios, e, na maioria das vezes, n�o reservamos espa�o para cuidar de n�s mesmos. Separe um tempo, durante a semana, para fazer algo de que goste, e apreciar sua pr�pria companhia. O mais importante: sem qualquer cobran�a de resultados. Apenas curta a atividade e seu tempinho particular.
Cuide da sua sa�de
Isso pode come�ar com pequenas atitudes: beba mais �gua, insira frutas nos lanches. Nas refei��es, deixe seu prato ainda mais colorido. Pequenos cuidados com a alimenta��o podem trazer diferen�as na disposi��o e na autoconfian�a.
Pratique alguma atividade f�sica
Fator imprescind�vel, neste caso: voc� deve gostar da atividade! Pode ser caminhar com seu pet, participar de um grupo de dan�a, encontrar os amigos para praticar algum esporte, fazer yoga etc. N�o se prenda a cobran�as da intensa rotina de atividades ou do melhor desempenho na academia. Fa�a por voc�! A atividade f�sica libera horm�nios que aumentam a autoestima, al�m, � claro, dos benef�cios para a sa�de.
Cuide de sua imagem
Aprenda a amar a pessoa que voc� v� no espelho. Cuidar dessa pessoa � um ato de amor. Saia do autom�tico. Vista-se da maneira que gosta. Insira, na sua rotina, momentos de cuidado com a pele: lavar o rosto por cinco minutos ou passar hidratante far�o grande diferen�a. Cuide de seu cabelo e das unhas. E se permita gastar com produtos e servi�os que cuidem de sua apar�ncia ( com bom senso, claro, pois os extremos s�o doentios).
Respeite-se
Procure se conhecer, e n�o se cobre excessivamente. N�o se compare com outras pessoas. Perdoe seus pr�prios erros. Entenda o que funciona para voc� e se aceite. Cada um tem um ritmo, uma personalidade, uma forma de ver o mundo. N�o se force para encaixar na “caixinha” de outra pessoa. Encontre seu lugar no mundo e viva no seu ritmo.
Amor-pr�prio segundo as pessoas com defici�ncia
O cultivo do autoamor, conforme destacado, � um processo que vai al�m da apar�ncia. Afinal, � intensa a rela��o com aspectos emocionais, mentais e espirituais. Para desenvolver o autocuidado de uma pessoa com defici�ncia, � preciso ter mais amor envolvido, para que se possa aceitar a si de acordo com o modo de ver as coisas.
Respeitar desejos pr�prios, criar novas metas e planos para o futuro s�o maneiras de priorizar a constru��o dos caminhos. Let�cia Gaspar, estudante de jornalismo, cuida do autoamor ao oferecer o seu melhor no relacionamento com as pessoas, a partir da boa conviv�ncia, e ao transmitir �timas energias, principalmente, a si mesma.
Eduardo Gontijo, mais conhecido como Dudu do Cavaco, � portador de S�ndrome de Down e irm�o do fundador do Instituto Mano Down. Para ele, uma das maneiras de desenvolver amor-pr�prio � fazer algo de que gosta. Dudu � apaixonado por cavaquinho, e pratica diariamente o instrumento. Eis sua motiva��o di�ria, uma maneira de transmitir leveza � vida. Ele tamb�m gosta de conviver com os amigos, de praticar esportes e cuidar da sa�de. � adepto, inclusive, da hidrogin�stica.
Para Dudu, ter amor-pr�prio �, tamb�m, sentir-se feliz, principalmente ao tocar o cavaquinho ou quando est� acompanhado da esposa, Vit�ria. Segundo o m�sico, � preciso, antes de tudo, aceitar-se. “Eu me aceito do jeito que sou. E n�o gosto de coisas negativas. Consigo superar tudo com muito amor e carinho”, diz. Quanto ao Instituto, Dudu ama estar no local, que chama de sua “segunda casa”, devido ao vasto amor envolvido: “Estar no Mano Down � uma alegria, pois permite que eu me relacione com outras pessoas como eu” .
* Mat�ria produzida por alunos do Centro Universit�rio UNA, sob supervis�o do professor Maur�cio Guilherme.
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