Diabetes: se a doen�a � descoberta tardiamente, j� pode ter provocado les�es graves ao organismo
Steve Buissinne/Pixabay
O crescimento do n�mero de portadores de diabetes do tipo 2 � uma preocupa��o em todo o mundo e no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 17 milh�es brasileiros s�o portadores da doen�a e 40 milh�es s�o pr�-diab�ticos (quando a glicose est� entre 100 mg/dl e 125 mg/dl), levando � morte cerca de 220 mil pessoas por ano no pa�s. O Brasil tem a quinta maior popula��o de diab�ticos do mundo.
De acordo o m�dico Leonardo Vasconcellos, patologista cl�nico e diretor de ensino da Sociedade Brasileira de Patologia Cl�nica e Medicina Laboratorial ( SBPC/ML), o mais agravante � que boa parte dos diab�ticos – estima-se em 40% deles, n�o sabe que tem a doen�a, porque sua evolu��o � silenciosa e muitas vezes os pacientes ir�o descobrir apenas quando j� apresentarem sintomas em fases avan�adas.
“� preocupante, porque um exame t�o simples, como a medi��o de glicose, que pode ser feita at� mesmo com uma gota de sangue coletada da ponta dos dedos, n�o � feita por todos. Se as pessoas soubessem como a diabetes pode trazer complica��es graves, certamente fariam essa medi��o anualmente. Temos tr�s situa��es graves: as pessoas n�o medem, pr�-diab�ticos n�o fazem exames anuais e at� mesmo diab�ticos chegam a negligenciar a medi��o da glicose e dos outros exames indicados para estes pacientes”, avisa o m�dico.
Leonardo Vasconcellos explica que a diabetes mellitus � a incapacidade do paciente de produzir ou de utilizar sua insulina adequadamente, um horm�nio produzido pelo p�ncreas, que leva a glicose do sangue para dentro das c�lulas. Com isso, sem ser utilizado pelas c�lulas para gerar energia, a glicose fica em excesso no sangue. Ap�s a refei��o, com eleva��o do n�vel de glicose no sangue, o p�ncreas j� � estimulado a liberar insulina na corrente sangu�nea. O diabetes rompe o equil�brio normal entre insulina e glicose.
“N�o se deve confundir diabetes mellitus com diabetes ins�pido, que � um estado cl�nico mais raro associado a sintomas semelhantes aos do diabetes mellitus, mas que n�o causa eleva��o dos n�veis de glicose e tem origens diferentes. Embora a mesma palavra “diabetes” (que significa aumento da produ��o de urina) seja usada nos dois casos”, esclarece.
Insulina insuficiente ou ineficaz
Se houver insulina insuficiente ou ineficaz, ou se as c�lulas forem resistentes a seus efeitos - a resist�ncia � insulina � uma condi��o de quem sofre com s�ndrome metab�lica, por exemplo -, os n�veis sangu�neos de glicose permanecem elevados e as c�lulas n�o recebem nutri��o adequada. Isso pode causar problemas agudos e cr�nicos, dependendo do grau da defici�ncia de insulina. A maioria dos tecidos do corpo precisa de glicose para produ��o de energia e, com poucas exce��es, como o sistema nervoso, todos esses tecidos dependem completamente do transporte mediado pela insulina.
“A hiperglicemia aguda, que � o excesso repentino de a��car no sangue, pode ser uma emerg�ncia cl�nica. O corpo tenta eliminar o que est� sobrando, produzindo mais urina. Esse processo pode causar desidrata��o e pode perturbar o equil�brio eletrol�tico do corpo, com perda de s�dio e pot�ssio na urina. Como n�o h� glicose dispon�vel para as c�lulas com defici�ncia de insulina, o corpo tenta usar uma fonte alternativa de energia, metabolizando �cidos graxos. Esse processo menos eficiente causa ac�mulo de cetonas e altera o equil�brio �cido-base do corpo, produzindo um estado chamado cetoacidose. Se n�o for tratada, a hiperglicemia aguda pode causar desidrata��o grave, perda de consci�ncia e at� morte”, alerta o m�dico.
N�vies de glicose
N�veis de glicose que se elevam aos poucos e permanecem elevados podem n�o ser notados logo pelo paciente. O corpo tenta controlar a quantidade de glicose no sangue aumentando a produ��o de insulina e excretando glicose na urina. Os sintomas em geral se iniciam quando o corpo n�o � mais capaz de compensar os n�veis mais altos de glicemia.
“A hiperglicemia cr�nica pode causar les�es a longo prazo de vasos sangu�neos, nervos e �rg�os em todo o corpo, provocando outros problemas, como insufici�ncia renal, perda de vis�o, acidente vascular cerebral e doen�a cardiovascular. Diabetes tamb�m causa, com frequ�ncia, problemas circulat�rios nas pernas. As les�es provocadas pela hiperglicemia s�o cumulativas e podem come�ar antes do paciente perceber que tem diabetes. O diagn�stico e o tratamento precoces podem minimizar as complica��es”, alerta Leonardo.
Tipos de diabetes
H� tr�s tipos principais de diabetes: tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional. A doen�a pancre�tica pode tamb�m causar diabetes se as c�lulas beta produtoras de insulina forem destru�das.
1 - Diabetes do tipo 1: Antes chamado diabetes dependente de insulina ou diabetes juvenil, representa cerca de 10% dos casos de diabetes nos EUA. A maioria dos casos � diagnosticada antes dos 30 anos de idade. Os sintomas em geral se desenvolvem com rapidez e o diagn�stico com frequ�ncia � feito em um ambiente de emerg�ncia. O paciente pode estar muito mal, comatoso, com n�veis muito altos de glicose e de cetonas (cetoacidose). Diab�ticos do tipo 1 produzem muito pouca ou nenhuma insulina. Suas poucas c�lulas beta produtoras de insulina restantes na �poca do diagn�stico em geral estar�o destru�das em 5 a 10 anos, deixando-os na depend�ncia completa de inje��es de insulina para sobreviver.
A causa precisa do diabetes do tipo 1 � desconhecida, mas uma hist�ria familiar de diabetes, les�es virais do p�ncreas e processos autoimunes, em que o sistema imunol�gico do pr�prio corpo destr�i as c�lulas beta, podem ter um papel importante. Diab�ticos do tipo 1 podem ter complica��es cl�nicas mais graves e mais precoces que diab�ticos do tipo 2. Por exemplo, cerca de 40% dos diab�ticos do tipo 1 desenvolvem problemas renais graves causando insufici�ncia renal antes de 50 anos de idade.
2 - Diabetes do tipo 2: Antes chamado diabetes n�o dependente de insulina ou diabetes do adulto, produzem insulina, mas, ou a produ��o � insuficiente para as necessidades ou o corpo se tornou resistente a seus efeitos. Na �poca do diagn�stico, pacientes com diabetes do tipo 2 costumam ter n�veis altos de glicose e de insulina, mas podem n�o apresentar sintomas.
Cerca de 90% dos casos de diabetes nos EUA s�o do tipo 2. Esse tipo em geral ocorre mais tarde na vida, em pessoas obesas, sedent�rias e com mais de 45 anos de idade.
Os fatores de risco incluem:
Obesidade
Falta de exerc�cio
Hist�ria familiar de diabetes
Pr�-diabetes
Etnia:afro-americanos, hispano-americanos, �ndios americanos, americanos de origem asi�tica, origin�rios das ilhas do Pac�fico
Diabetes gestacional ou beb� com mais de 4 kg
Hipertens�o arterial
Triglicer�deos altos, colesterol alto, colesterol HDL baixo
Como os americanos e brasileiros est�o ficando mais obesos e n�o fazem exerc�cios suficientes, a popula��o com diagn�stico de diabetes do tipo 2 est� aumentando e a idade de diagn�stico est� diminuindo.
3 - Diabetes gestacional: Forma de hiperglicemia observada em mulheres gr�vidas, em geral no final da gravidez. A causa � desconhecida, mas considera-se que alguns horm�nios placent�rios aumentem a resist�ncia � insulina da m�e, elevando seus n�veis sangu�neos de glicose. � feita a triagem para diabetes gestacional na maioria das mulheres com 24 a 28 semanas de gravidez.
Se o diabetes gestacional n�o for tratado, o beb� pode ser maior que o normal, pode nascer com glicemia baixa ou pode ser prematuro. A hiperglicemia associada ao diabetes gestacional em geral desaparece ap�s o nascimento, mas as mulheres que t�m diabetes gestacional e seus beb�s apresentam um risco aumentado de desenvolvimento posterior de diabetes do tipo 2. Mulheres com diabetes gestacional em uma gravidez com frequ�ncia apresentam recidivas nas gravidezes subsequentes.
O diabetes gestacional em geral � pesquisado usando uma �nica dosagem de glicose ap�s a ingest�o de uma sobrecarga de glicose em dosagem e tempo padronizado. Se o resultado for anormal, deve ser confirmado com uma curva glic�mica.
4 - Pr�-diabetes: � um termo novo para altera��o da glicose de jejum ou da toler�ncia � glicose. Caracteriza-se por n�veis de glicose acima do normal, mas n�o o suficiente para o diagn�stico de diabetes.
Em geral, as pessoas com pr�-diabetes n�o t�m sintomas, mas, se nada for feito para reduzir seus n�veis de glicose, h� grande risco de desenvolverem diabetes em cerca de 10 anos.
Especialistas recomendam que todas as pessoas com fatores de risco para diabetes do tipo 2 sejam testadas para pr�-diabetes.
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas de diabetes est�o relacionados � Hiperglicemia, hipoglicemia ou a complica��es associadas ao diabetes. As complica��es podem estar relacionadas � produ��o de lip�dios, a les�es vasculares, microvasculares ou de �rg�os e � dificuldade de cicatriza��o observada no diabetes. Exemplos de les�es de �rg�os s�o as renais (nefropatia diab�tica), nervosas (neuropatia diab�tica) e oculares (retinopatia diab�tica). O diabetes do tipo 1 com frequ�ncia � diagnosticado com sintomas agudos e graves que exigem hospitaliza��o. Em geral, n�o h� sintomas no pr�-diabetes, no diabetes gestacional e no diabetes do tipo 2 inicial.
Sintomas de diabetes dos tipos 1 e 2 com hiperglicemia
Sede aumentada
Volume urin�rio aumentado
Aumento do apetite (no tipo 1, pode ser observada perda de peso)
Fadiga
N�usea
V�mitos
Dor abdominal (especialmente em crian�as)
Vis�o emba�ada
Infec��es de cicatriza��o lenta
Insensibilidade, formigamento e dor nos p�s
Disfun��o er�til
Aus�ncia de menstrua��o
Respira��o r�pida (sinal agudo)
Diminui��o da consci�ncia, coma (sinal agudo)
Testes para diabetes
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Diabetes e a Sociedade Brasileira de Patologia Cl�nica/Medicina Laboratorial, a glicemia em jejum, o teste de toler�ncia � glicose ou a dosagem de hemoglobina glicada podem ser usados para diagnosticar diabetes e pr�-diabetes.
Cada exame tem indica��es, vantagens, desvantagens e limita��es. Por exemplo, a glicemia em jejum exige um jejum de 8 horas. O teste de toler�ncia � glicose requer uma glicemia em jejum, seguida da ingest�o de uma dose padronizada de glicose e uma nova glicemia ap�s 2 horas.
Para a hemoglobina glicada, n�o � necess�rio o jejum de 8 horas ou a coleta de diversas amostras em horas diferentes, mas o exame n�o � recomendado para todos. N�o deve ser usado para o diagn�stico de diabetes gestacional nem em pessoas que tiveram sangramento importante ou transfus�es de sangue recentes, pessoas com doen�as cr�nicas renais ou hep�ticas, ou pessoas com dist�rbios sangu�neos como anemia por car�ncia de ferro, anemia por defici�ncia de vitamina B12 ou hemoglobinas variantes. Por outro lado, somente m�todos de dosagem de hemoglobina glicada padronizados devem ser utilizados para fins diagn�sticos e de triagem.
Diab�ticos devem monitorar seus pr�prios n�veis de glicose, com frequ�ncia, diversas vezes por dia, para alterar sua medica��o de acordo com as instru��es do m�dico. Isso � feito colocando uma pequena gota de sangue (obtida por pun��o da pele com uma lanceta) em uma tira reagente, que � inserida em um glicos�metro, aparelho que fornece uma leitura digital da glicemia.
Hemoglobina glicada
A hemoglobina glicada, (tamb�m chamada hemoglobina A1c ou glico-hemoglobina) � um exame usado para triagem e acompanhamento, pedido diversas vezes por ano para monitorar pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2.
� uma medida da quantidade m�dia de glicose presente no sangue nos �ltimos 2 a 3 meses, e ajuda o m�dico a determinar a efic�cia do tratamento.
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