mulher grávida faz um coração com as mãos sobre a barriga

O diagn�stico da doen�a demora cerca de sete anos. No estudo, as mulheres descobriram quando tinham, em m�dia, 35 anos

StockSnap/Pixabay

Al�m de causar dores incapacitantes, a endometriose pode estar ligada a uma redu��o significativa da fertilidade antes mesmo de ser diagnosticada. � o que mostra uma pesquisa publicada, nesta ter�a-feira (04/07), na revista Human Reproduction. Ao acompanhar mulheres ao longo de d�cadas, cientistas liderados pelo Hospital Universit�rio de Helsinque, na Finl�ndia, identificaram que o n�mero de primeiros nascidos vivos foi a metade entre aquelas que n�o sabiam que tinham a doen�a quando comparadas �s sem endometriose. Al�m disso, as volunt�rias do primeiro grupo tiveram, de forma geral, menos filhos que as do segundo.

Oskari Heikinheimo, l�der do estudo, afirma que as descobertas sugerem que os m�dicos que acompanham mulheres que t�m menstrua��o dolorosa, dor p�lvica cr�nica e planejam engravidar precisam levar em considera��o um poss�vel diagn�stico de endometriose. "Devem discutir com elas os poss�veis efeitos na fertilidade (...), e o comprometimento da fertilidade deve ser minimizado oferecendo tratamento relevante para a endometriose sem demora", sugere, em nota.

Os cientistas avaliaram 18.324 mulheres, de 15 e 49 anos, e com o diagn�stico da endometriose entre 1998 e 2012. A equipe comparou esse grupo com 35.793 pacientes de idade semelhante e sem a doen�a. As volunt�rias foram acompanhadas at� um dos seguintes acontecimentos: ter um beb� nascido vivo, passar por esteriliza��o, retirada dos ov�rios ou do �tero, ou receber o diagn�stico cir�rgico de endometriose. O tempo m�dio de acompanhamento antes do diagn�stico cir�rgico foi de 15,2 anos, e a idade m�dia no momento da descoberta da doen�a, 35 anos.

Aproximadamente 40% das pacientes com endometriose e 66% das sem a condi��o deram � luz um beb� nascido vivo durante o per�odo de acompanhamento. Ao analisar os dados, os pesquisadores perceberam uma taxa cada vez menor de primeiros nascidos vivos em mulheres com a doen�a. Al�m disso, a idade delas na gesta��o pareceu interferir no processo. Entre as nascidas na d�cada de 1940, a diferen�a nas taxas de nascidos vivos entre os dois grupos foi de 28%, e essa discrep�ncia aumentou para 87% no per�odo de 1970 a 1979.

Para os cientistas, os resultados, provavelmente, est�o associados � idade avan�ada das mulheres quando tiveram o primeiro beb�, ao diagn�stico cir�rgico precoce da patologia e ao ac�mulo de sintomas da doen�a. O n�mero total de filhos tamb�m variou, chegando a uma m�dia de 1,93 entre quem tinha a doen�a e 2,16 no outro grupo. "O poss�vel efeito da endometriose no n�mero desejado de filhos destaca a import�ncia do diagn�stico precoce e do tratamento da doen�a", enfatiza Heikinheimo.

Pelve inflamada

Segundo Mariana Mendes, ginecologista do Hospital Santa Helena, em Bras�lia, o primeiro diagn�stico da doen�a demora cerca de sete anos. "E o acesso a cirurgia para diagn�stico, quando necess�rio, ainda n�o � muito difundido", completa. A maior interfer�ncia na gesta��o, aponta Mendes, n�o � no nascimento, mas na taxa de nascidos vivos. "A pelve inflamada se torna um ambiente muito hostil para o embri�o t�o sens�vel inicialmente. A 'casa' dele se encontra toda inabit�vel, dificultando a ader�ncia na parede do endom�trio, al�m de poder induzir a malforma��es incompat�veis com a vida", explica a especialista em endometriose.

Marina Almeida, ginecologista, obstetra e coordenadora do servi�o de laparoscopia ginecol�gica de urg�ncia do Grupo Santa, lembra que os efeitos na gesta��o variam conforme a gravidade da doen�a. "Se a endometriose tiver componentes uterinos, como a adenomiose — que ocorre quando o tecido endometrial que normalmente reveste o interior do ï¿½tero cresce na parede muscular dele —, as taxas de descolamento de saco gestacional, sangramento e aborto podem acabar aumentando", afirma.

A m�dica sublinha a necessidade de fazer consultas de rotina. "A endometriose est� diretamente ligada � qualidade de vida da mulher e ao planejamento familiar. O adiamento das condutas adequadas pode ser prejudicial. Sentir dor na rela��o sexual n�o � normal, ter c�licas incapacitantes dentro e fora do per�odo menstrual tamb�m n�o", diz.

Mais estudos

Os autores do estudo ponderam que, apesar de a pesquisa englobar um n�mero grande de participantes, h� algumas lacunas a serem preenchidas em futuros trabalhos. O ensaio focou apenas na endometriose confirmada cirurgicamente, por exemplo, o que pode ter deixado de fora mulheres com sintomas mais leves submetidas a tratamentos. Tamb�m n�o foi poss�vel descartar o poss�vel efeito dos tratamentos de fertilidade ou para a adenomiose.

O pr�ximo passo do estudo ser� estudar as taxas de fertilidade ap�s o diagn�stico e o tratamento da endometriose. "Esperamos que a fertilidade das mulheres com endometriose alcance a das mulheres sem a doen�a ap�s o tratamento cir�rgico", aposta Heikinheimo.

Palavra de especialista: dificuldade no diagn�stico

Gabriella Ferreira, ginecologista e obstetra, especialista em reprodu��o humana no Huntington Bras�lia e no Cuidar Mulher, do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia
 
"A preval�ncia exata da endometriose � desconhecida, mas as estimativas variam de 2% a 10% na popula��o feminina em geral e chegam a 50% das mulheres inf�rteis. Apesar disso, ainda existe uma grande lacuna entre o in�cio dos sintomas e um diagn�stico confi�vel. Por isso, a enorme import�ncia de continuar estudando essa doen�a. Embora nem todas as mulheres com endometriose sejam sintom�ticas, os principais sintomas est�o associados com c�lica, dor durante as rela��es sexuais, na micc�o e at� mesmo na na evacuac�o. Pacientes podem se confrontar com a infertilidade, sendo um dos principais problemas. Dessa forma, quando h� sintomas semelhantes � endometriose ou quando o diagn�stico � fechado, deve-se avaliar a reserva ovariana e passar por uma consulta com ginecologista especialista em reprodu��o humana."