Estudo: consultar o ChatGPT para prescri��o de dietas n�o � um bom neg�cio

Desde que o ChatGPT surgiu, as discuss�es acerca do uso da intelig�ncia artificial na �rea da sa�de se acentuaram. Inclusive, diversos v�deos na internet sugerem consultar a tecnologia para montar dietas. Mas isso � uma op��o segura? Segundo estudo publicado em maio na Nutrition, n�o. "Os resultados indicaram que, embora a maioria das dietas projetadas pelo ChatGPT fossem precisas, o processo poderia construir dietas que prejudicariam um indiv�duo com restri��es alimentares. Os erros consistiam principalmente em calorias imprecisas em dietas, refei��es, alimentos espec�ficos ou tamanhos de por��es. Uma das recomenda��es inclu�a leite de am�ndoas para paciente com alergia a nozes e castanhas, o que poderia criar um grande problema", destaca a m�dica nutr�loga diretora e professora da Associa��o Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Marcella Garcez.

O estudo usou casos hipot�ticos de indiv�duos com alergias alimentares para investigar a precis�o e a seguran�a de 'rob�-dietas' ou dietas constru�das usando os modelos de aprendizado profundo implementados no ChatGPT. As estat�sticas indicam que o ChatGPT tem mais de 100 milh�es de usu�rios por m�s. "Em casos de alergias alimentares, dietas especificamente elaboradas s�o essenciais, pois a inclus�o de um �nico tipo de alimento proibido pode causar choque anafil�tico, e a preval�ncia de alergias alimentares tem aumentado nas �ltimas d�cadas entre adultos e crian�as", diz a m�dica nutr�loga.

Os pesquisadores usaram, para construir dietas usando prompts do ChatGPT, 14 al�rgenos alimentares, compreendendo: cereais com gl�ten, aveia, trigo, cevada e centeio; crust�ceos como caranguejos, camar�es e lagostas; peixe; ovos; moluscos; amendoim; leite e derivados; nozes de �rvores; s�samo; mostarda; tremo�o; sals�o; e compostos contendo enxofre.

O indiv�duo hipot�tico com alergia alimentar era uma mulher de 30 anos, uma vez que as alergias alimentares s�o mais prevalentes em mulheres do que em homens, e as mulheres geralmente est�o mais interessadas em novas dietas. Quatro n�veis de restri��o foram usados como instru��es para o ChatGPT construir uma dieta, e estes inclu�ram: dieta para uma alergia alimentar com restri��es de quantidade; dieta para duas alergias alimentares com restri��es de quantidade; dieta para uma alergia alimentar com um padr�o de energia normocal�rica (igualdade no consumo e gasto de calorias); e dieta para uma alergia alimentar com baixo valor energ�tico.

Segundo a m�dica nutr�loga, os pesquisadores relataram que a seguran�a era a caracter�stica mais fraca de uma dieta de elimina��o constru�da com ChatGPT. "No caso da recomenda��o do leite de am�ndoa em uma dieta sem nozes, isso poderia ter levado a consequ�ncias graves, pois a alergia a nozes � uma das formas mais graves de alergia alimentar", ressalta a m�dica.

Al�m disso, para as dietas com restri��es cal�ricas especificadas, os pesquisadores tiveram como objetivo verificar se a dieta elaborada pelo ChatGPT poderia formular uma dieta com recomenda��es espec�ficas de nutrientes. "As dietas rob�ticas continham apenas uma sugest�o geral de que um profissional de sa�de deveria ser consultado para supervis�o, mas n�o consistiam em advert�ncias sobre restri��es cal�ricas. Adicionalmente, foi inclu�do um suplemento diet�tico at�pico em uma dieta n�o estritamente restritiva. Nenhum suplemento pode ser ingerido sem a recomenda��o de um profissional", argumenta a m�dica nutr�loga.

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No entanto, as dietas elaboradas pelo ChatGPT seguiram algumas diretrizes diet�ticas, como aumentar o consumo de frutas e vegetais em cada refei��o e preferir aves e peixes em vez de carne vermelha. As dietas rob�ticas tamb�m inclu�am notas de advert�ncia, como ler atentamente os r�tulos dos alimentos e a presen�a de gergelim ou outros ingredientes de nozes em alimentos comuns, garantindo escolhas alimentares seguras.

O ChatGPT tamb�m n�o conseguiu construir uma dieta para duas solicita��es de um menu sem soja e, em outros casos, os valores energ�ticos de refei��es espec�ficas ou de todo o menu foram calculados incorretamente. "O c�lculo incorreto das calorias pode impactar diretamente no objetivo do paciente. Se ele quiser emagrecer e consumir mais calorias do que gasta, invariavelmente ele ir� aumentar o peso", explica a m�dica.

Al�m disso, para as restri��es relacionadas a necessidades energ�ticas espec�ficas, os valores cal�ricos de v�rias refei��es n�o foram ajustados nas dietas rob�ticas. "Os card�pios tamb�m foram ineficientes em sugerir tamanhos de por��es, com quantidades impratic�veis ou altamente espec�ficas, sem inclus�o de receitas ou informa��es adicionais sobre temperos ou condimentos e sugest�es de alimentos gerais, como peixes ou frutas vermelhas, sem recomenda��es espec�ficas", diz Marcella.

Embora as ferramentas de intelig�ncia artificial que usam modelos de linguagem grandes sejam facilmente acess�veis e forne�am um recurso acess�vel ao p�blico, aceitar os resultados dessas ferramentas sem avalia��es adequadas pode representar riscos � sa�de. "O melhor a fazer � buscar ajuda de um m�dico nutr�logo", aponta Marcella.