Lawrence Layman, líder da pesquisa

Lawrence Layman, l�der da pesquisa sobre como a gen�tica influencia na fertilidade

(Michael Holahan, Universidade Augusta)


A infertilidade afeta milh�es de casais em todo o planeta. De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), aproximadamente 17,5% da popula��o em idade reprodutiva tem o problema, que pode ser causado por uma s�rie de fatores, como dist�rbios hormonais, condi��es gen�ticas e estilo de vida inadequado. Enquanto casais lutam contra a dificuldade para engravidar, cientistas buscam investigar a fundo as origens da condi��o e criar formas de melhorar abordagens que ajudem as pessoas que querem ter filhos.

Conforme a OMS, essa � uma doen�a do sistema reprodutor definida pela incapacidade de conseguir uma gravidez ap�s um ano ou mais de rela��es sexuais regulares desprotegidas. H�bitos como tabagismo, ingest�o excessiva de �lcool e obesidade podem afetar a fertilidade, assim como a exposi��o a poluentes e outras subst�ncias t�xicas. Divulgado no �ltimo dia 12 na revista PLoS One, um estudo mostra que essa complica��o parece estar aumentando ao longo dos anos.

A equipe liderada por Finn Egil Skjeldestad, da Universidade do �rtico da Noruega, analisou dados de 11.064 mulheres nascidas entre 1916 e 1975 e descobriu que 6% das que nasceram entre 1956 e 1975 tinham infertilidade prim�ria, quando nunca se teve uma gravidez. No caso das nascidas entre 1966 e 1975, 10% eram acometidas pela condi��o secund�ria, quando pelo menos uma gesta��o foi alcan�ada. Taxas de outros per�odos anteriores variaram de 6% a 7%, indicando, segundo os autores, um sutil aumento com o passar do tempo.

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 Al�m dessas eleva��es, mais mulheres jovens relataram o uso de tecnologias de reprodu��o assistida (TRAs) nos �ltimos 50 anos. O sucesso dessas abordagens tamb�m aumentou com o tempo, alcan�ando 58% para infertilidade prim�ria e 46% para a secund�ria em nascidas a partir de 1966. Em nota, Skjeldestad avalia que "os dados fornecem informa��es valiosas sobre as tend�ncias de infertilidade e os resultados das TRAs entre mulheres em idade reprodutiva durante grande parte do �ltimo s�culo".


 Na opini�o de Roberto de Azevedo Antunes, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodu��o Assistida (SBRA), as taxas de infertilidade, apesar de variarem um pouco, se mantiveram relativamente est�veis ao longo dos anos, sem mudan�as muito dr�sticas. "O que mudou foi a disponibilidade e a procura por tratamentos de medicina reprodutiva. Dessa forma, � poss�vel tratar e acompanhar mais casais que sofram com infertilidade", afirma.

Edilberto de Ara�jo Filho, ginecologista especialista em reprodu��o humana assistida e membro da Associa��o Brasileira de Reprodu��o Assistida (SBRA), tamb�m sublinha que esse ramo da ci�ncia tem evolu�do muito. "Hoje, a gente � capaz de muita coisa. Uma delas, com grande relev�ncia, � o congelamento de �vulos, que passou por um longo per�odo de melhoramento. Agora, chegamos � vitrifica��o dos �vulos, que trouxe para a mulher a possibilidade de fazer um planejamento, guardar os �vulos enquanto � mais jovem, e poder ter a chance de ter um filho mais tarde", detalha.

Variantes

 

Apesar dos avan�os da medicina, algumas pessoas podem nunca receber uma resposta exata sobre a dificuldade de ter filhos. Cientistas acreditam que a gen�tica tem um papel ainda mais importante na hora de sanar essa d�vida. Pesquisadores do Medical College of Georgia, nos Estados Unidos, relatam que cerca de 17% das mulheres com infertilidade inexplicada tamb�m t�m variantes gen�ticas conhecidas por causar outras doen�as — desde condi��es comuns, como problemas card�acos, at� patologias raras, como a esclerose lateral amiotr�fica (ELA).

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Os autores do estudo, publicado, em mar�o, na revista New England Journal of Medicine, formulam a hip�tese de que problemas gen�ticos criam uma predisposi��o � infertilidade e tamb�m a outras doen�as. Por exemplo, mulheres com problema de fertilidade t�m sido observadas com um risco aumentado de complica��es cardiovasculares. "A conex�o com as doen�as j� era conhecida, mas o que n�o sab�amos era se havia uma rela��o gen�tica. Esse foi o objetivo do nosso trabalho", diz, em nota, Lawrence Layman, endocrinologista reprodutivo da Universidade de Augusta e l�der do estudo.

Para o ensaio, a equipe sequenciou os exomas, regi�es espec�ficas do genoma humano que cont�m os genes que codificam prote�nas, de 197 mulheres com idade entre 18 e 40 anos e infertilidade inexplicada. O grupo descobriu que 6,6% das volunt�rias tinham variantes em 59 genes que, provavelmente, causam condi��es como doen�as card�acas e c�ncer de mama — essas variantes est�o presentes em cerca de 2,5% da popula��o em geral.

O m�dico Azevedo Antunes salienta que esse tipo de infertilidade acomete de 10% a 20% dos pacientes. Segundo o especialista, existem diversas variantes g�nicas que s�o associadas, tanto nos homens quanto nas mulheres, a essa condi��o. "Quando dizemos que um casal tem infertilidade sem causa aparente, significa que afastamos problemas nas causas mais comuns. Contudo, a cada dia que passa, estamos descobrindo novas associa��es de diversas variantes gen�ticas com altera��es que levam a maiores dificuldades de gravidez e outras doen�as em potencial", explica.

O estudo mostrou, ainda, que 10% das mulheres tinham variantes gen�ticas conhecidas por causar doen�as para as quais existem poucas, ou nenhuma, alternativa de tratamento, como Parkinson. Al�m disso, os cientistas identificaram em 21 mulheres, 20 variantes em genes associados a condi��es mais severas — por exemplo, um risco aumentado de desenvolver ELA e doen�a renal polic�stica. Para Layman, os resultados indicam que "a infertilidade pode ser, de fato, um biomarcador para futuras doen�as m�dicas". 

Obesidade pode afetar test�culos

Al�m da gen�tica, a obesidade � um fator crucial para a fertilidade, especialmente entre os homens. Um ensaio, publicado em maio, na revista European Journal of Endocrinology, aponta que meninos com sobrepeso s�o mais propensos a serem homens inf�rteis. Durante a investiga��o, os cientistas descobriram que jovens do sexo maculino com peso normal tinham um volume testicular 1,5 vez maior que aqueles com sobrepeso ou obesidade na puberdade.

"Embora a preval�ncia da obesidade infantil esteja aumentando em todo o mundo, o impacto da obesidade e dos dist�rbios metab�licos associados no crescimento testicular n�o � bem conhecido. Nesse estudo, descobrimos que estar acima do peso ou obeso tem associa��o com um menor volume testicular", relata, em nota, Rossella Cannarella, pesquisadora da Universidade de Catania, na It�lia, e coautora do artigo.


 Durante as atividades, os cientistas coletaram dados sobre volume testicular, idade, �ndice de massa corporal e resist�ncia � insulina de 268 crian�as e adolescentes. Descobriram que meninos com peso normal tinham um volume testicular 1,5 vez maior que aqueles com sobrepeso. As crian�as e adolescentes do estudo com n�veis normais de insulina apresentavam um volume testicular at� duas vezes maior, em compara��o com aqueles com hiperinsulinemia, uma condi��o comumente ligada ao diabetes tipo 2.

Preven��o

Como o menor volume testicular indica uma produ��o de esperma mais pobre na vida adulta, os estudiosos acreditam que a perda de peso pode ajudar os pacientes a evitar a infertilidade. "Portanto, especulamos que um controle mais cuidadoso do peso corporal na inf�ncia pode representar uma estrat�gia de preven��o para manter a fun��o testicular mais tarde na vida", destaca Cannarella.

Eduardo Pimentel, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia seccional Distrito Federal, explica que homens obesos tamb�m t�m maior predisposi��o a sofrerem com doen�as metab�licas e hormonais, o que prejudica a fertilidade. "De forma direta e indireta, essas quest�es podem interferir na produ��o e na qualidade dos espermatozoides. Existem estudos que relacionam essa situa��o a danos causados nos gametas por conta de uma rea��o qu�mica que chamamos de estresse oxidativo."