Subst�ncia produzida por mais de 100 tipos de cogumelos tem sido testada tamb�m para depress�o
Uma �nica dose de psilocibina, o princ�pio psicoativo dos chamados cogumelos m�gicos, mostrou-se promissora para a remiss�o da anorexia, transtorno alimentar para o qual h� car�ncia de tratamento medicamentoso eficaz. A conclus�o � de um pequeno estudo publicado, nesta segunda (24/07), na revista Nature Medicine. Embora preliminar e com um n�mero reduzido de pacientes — 10 mulheres de 18 a 40 anos —, a pesquisa foi bem recebida pela comunidade cient�fica porque, al�m da falta de op��es farmacol�gicas, o dist�rbio tem elevada taxa de mortalidade — o risco de �bito precoce � cinco vezes maior, comparado � popula��o em geral, segundo uma revis�o estat�stica do Instituto Psiqui�trico Parnassia, na Holanda.
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A psilocibina � produzida naturalmente por um grupo de mais de 100 tipos de cogumelos e, assim como o �cido lis�rgico (LSD), produz alucina��es — por isso, � usada de forma recreativa e em alguns rituais religiosos. A subst�ncia foi sintetizada em 1959 pelo qu�mico su��o Albert Hoffman, que a isolou do fungo P. mexicana para fins medicinais. A farmac�utica para a qual ele trabalhava comercializava livremente a droga para m�dicos, o que foi proibido pouco tempo depois por autoridades de sa�de em boa parte do mundo.
Por�m, na �ltima d�cada, a estagna��o das op��es terap�uticas para dist�rbios mentais levou pesquisadores a investir novamente no estudo do potencial de psicod�licos para doen�as como depress�o, ansiedade, abuso de �lcool e, agora, pela primeira vez, anorexia nervosa. Segundo os autores do estudo da Universidade da Calif�rnia, em San Diego, publicado na revista Nature Medicine, ainda n�o se sabe como a droga ajudou a melhorar a qualidade de vida das pacientes com o transtorno alimentar.
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Serotonina
Por�m, no artigo, eles afirmam que � poss�vel que a subst�ncia seja capaz de reverter altera��es na produ��o da serotonina. Pesquisas anteriores sugerem que a psilocibina atua ativando os receptores cerebrais que reagem a esse neurotransmissor, associado ao bem-estar, e que pode estar reduzido em pessoas com anorexia.
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Esse dist�rbio alimentar e mental � caracterizado pela obsess�o de manter o peso corporal o mais baixo poss�vel. Deixar de comer ou se exercitar exaustivamente s�o algumas das estrat�gias utilizadas por pessoas que sofrem do problema. A desnutri��o grave em decorr�ncia do quadro pode matar por complica��es cardiovasculares, renais e cerebrais, entre outras. Al�m disso, estima-se que at� 40% das mortes precoces dos pacientes sejam por suic�dio.
"� emocionante ver essa pesquisa sendo realizada. Atualmente, n�o h� interven��es farmacol�gicas aprovadas para a anorexia nervosa, e elas s�o muito necess�rias para salvar vidas", destaca Gemma Sharp, chefe de pesquisa de imagem corporal e dist�rbios alimentares e psic�loga cl�nica s�nior da Universidade de Monash, na Austr�lia. "Meus pacientes com transtorno alimentar manifestaram interesse na terapia com psilocibina por v�rios anos, e estou feliz que haja gradualmente mais oportunidades para eles participarem de pesquisas", diz a especialista, que n�o participou do estudo.
Sharp, por�m, lembra que o estudo californiano ainda � preliminar. "O n�mero de pessoas envolvidas na pesquisa foi muito pequeno para examinar minuciosamente os impactos nos transtornos alimentares e nos sintomas mais amplos de sa�de mental." Ainda assim, se diz otimista. "As mulheres geralmente relataram melhorias em sua qualidade de vida, que � t�o importante na recupera��o do transtorno alimentar. Essa pesquisa fornece uma plataforma importante para estudos em larga escala. Um objetivo crucial � entender exatamente como a psilocibina pode ajudar pessoas com anorexia nervosa (os mecanismos biol�gicos), pois isso nos permitir�, como m�dicos e pesquisadores, otimizar quaisquer estrat�gias de tratamento."
Mais estudos
No estudo, os pesquisadores utilizaram a psilocibina sint�tica COMP360, vers�o experimental da droga desenvolvida pela empresa de biotecnologia Compass Pathways, do Reino Unido. "As pessoas que vivem com anorexia nervosa precisam urgentemente de novas op��es", ressalta o diretor-m�dico da corpora��o, Guy Goodwin. "Esse estudo mostra evid�ncias preliminares promissoras de que o tratamento com psilocibina sint�tica pode ajudar as pessoas que vivem com essa condi��o dif�cil de tratar. Agora, estamos procurando investigar essas descobertas em nosso estudo maior de fase 2", revela.
Em um artigo de opini�o publicado na Nature Medicine, os pesquisadores Tomislav Maji e Stefan Ehrlich, das universidades de Berlim e Dresden, respectivamente, destacaram o potencial do alucin�geno para tratamento da anorexia, mas observaram que, apesar dos efeitos ben�ficos, tamb�m existem "riscos potenciais a serem considerados ao planejar futuros ensaios cl�nicos".
"As anormalidades m�dicas associadas � anorexia nervosa, como baixo peso corporal e anormalidades eletrol�ticas, podem aumentar a suscetibilidade a drogas potentes no sistema nervoso central", escreveram. Ainda assim, os psiquiatras conclu�ram que "dada a necessidade de tratamentos aceit�veis para esse dist�rbio, a terapia com psilocibina pode representar um caminho promissor".
Palavra de especialista: Urg�ncia por novas terapias
"A anorexia � uma doen�a potencialmente fatal. H� uma necessidade urgente de desenvolver novos tratamentos. H� muito interesse e exagero em torno do uso da psilocibina para potencialmente tratar uma variedade de diferentes condi��es psiqui�tricas. Esse novo estudo � uma pesquisa em est�gio inicial para verificar se a psilocibina combinada com uma psicoterapia � segura em pessoas com anorexia. O estudo n�o foi projetado para medir se o tratamento experimental foi eficaz, e n�o houve compara��o com grupo placebo. Embora essa seja uma not�cia empolgante, ainda n�o podemos dizer que a terapia assistida com psilocibina ser� �til para pacientes que sofrem de anorexia. O tratamento n�o deve ocorrer fora dos ensaios de pesquisa. Ningu�m com anorexia ou outros dist�rbios alimentares deve tentar se automedicar com psilocibina."
Michael Bloomfield, professor de neuroci�ncia psiqui�trica da Universidade College London
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