A leitura de exames de imagem por softwares pode ajudar a reduzir o grande volume de trabalho de�m�dicos e levar tecnologia a locais com escassez de radiologistas
Para exercer a medicina nos Estados Unidos, � preciso passar em um teste de tr�s fases, sendo a �ltima delas no fim da gradua��o. O chamado USMLE � temido especialmente entre alunos da primeira etapa, considerada a mais dif�cil. Em fevereiro, sem receber nenhum treinamento especial, o ChatGPT quase passou no exame, impressionando pesquisadores norte-americanos, que relataram na revista Plos Digital Health o desempenho do chatbot.
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A intelig�ncia artificial, em suas diversas modalidades, auxilia diagn�sticos — uma pesquisa da Sociedade Europeia de Radiologia revelou, no ano passado, que 30% dos radiologistas recorrem a ela para analisar raios-x e tomografias computadorizadas. Novos estudos mostram que os algoritmos est�o cada vez mais avan�ados na identifica��o de doen�as e condi��es, chegando a superar os "colegas" humanos.
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Mamografia
Um estudo sueco publicado na revista The Lancet Oncology mostrou que a IA � t�o boa para detectar c�ncer de mama — o mais prevalente no mundo — quanto dois radiologistas juntos. Para fazer o diagn�stico em tomografias, o algoritmo levou metade do tempo, sem aumentar o risco de falsos positivos. Foram analisados mais de 80 mil exames de imagem.
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Em um comunicado, a principal autora, Kristina Lang, da Universidade de Lund, disse que, em muitos pa�ses, h� escassez de radiologistas, justificando a necessidade de sistemas capazes de diagnosticar doen�as quando ainda h� uma janela de cura. Por�m, ressaltou que, embora promissores, os resultados da pesquisa n�o sugerem que, por enquanto, da IA esteja pronta para rastrear mamografias.
"Ainda precisamos entender as implica��es nos resultados dos pacientes, especialmente se a combina��o da experi�ncia dos radiologistas com a IA pode ajudar a detectar c�nceres em fases que, muitas vezes, passam despercebidos pela triagem tradicional", destacou Lang. "O maior potencial da IA, no momento, � permitir que os radiologistas fiquem menos sobrecarregados com a quantidade excessiva de leitura."
Professor de triagem de c�ncer na Universidade Queen Mary, em Londres, Stephen Duffy recebeu com otimismo o resultado do estudo sueco. "O artigo ilustra o potencial da IA para reduzir a carga de tempo do radiologista. Essa � uma quest�o de consider�vel import�ncia em muitos programas de rastreio mam�rio", diz. O especialista destaca que aprimoramentos s�o importantes para reduzir o risco de detec��o de les�es relativamente inofensivas, o que leva a um falso positivo, mas lembra que os pr�prios autores disseram que, no momento, est�o fazendo ajustes no programa para garantir uma acur�cia maior.
PARA SABER MAIS / "UM COLEGA MUITO INTELIGENTE"
"A IA — vagamente definida como a capacidade dos computadores aprenderem e raciocinarem — n�o � uma nova inven��o sinistra. E sua aplica��o na �rea da sa�de remonta a d�cadas. Os avan�os nos sistemas ajudaram os m�dicos a encontrar tumores com mais facilidade e erradicar doen�as dif�ceis de detectar em est�gios iniciais do que qualquer um jamais sonhou ser poss�vel sem ela. Os sistemas mais antigos eram bons, mas foram treinados em quantidades finitas de informa��es. Programas como ChatGPT, OpenAI e outros podem pesquisar qualquer coisa, processar, interpretar a informa��o, aprender com ela e criar respostas. Em segundos. Se os m�dicos e as organiza��es de sa�de usarem a IA em toda a sua capacidade, esse desenvolvimento poder� revolucionar a medicina em quase todos os campos. Por exemplo: a quantidade de literatura m�dica que usamos ajudar a pesquisar e diagnosticar doen�as dobra a cada 73 dias. Mesmo que eu dedicasse 24 horas por dia a isso, meu c�rebro n�o conseguiria reunir todas essas informa��es. Penso na IA como um colega muito inteligente ao qual tenho acesso 24 horas por dia, sete dias por semana."
Sprague Will Hazard , neurocirurgi�o do Centro M�dico Milton S. Hershey, na Universidade Penn State, Estados Unidos
De vacinas � edi��o gen�tica
As possibilidades da IA na sa�de v�o al�m da medicina diagn�stica e da neurorreabilita��o. Softwares s�o usados para descobrir novos medicamentos e vacinas, rob�s treinados para assistir pacientes em hospitais e campos de guerra, sistemas inteligentes s�o a base das ferramentas de edi��o gen�tica. "N�o tenha medo, seus m�dicos utilizam a IA com sucesso para ajudar em seus cuidados h� anos, sen�o d�cadas. De forma alguma vamos sair de f�rias e deixar o chatbot de plant�o. Tem que haver uma abordagem muito sistem�tica para usar a tecnologia de maneira inteligente", destaca Sprague Will Hazard, neurocirurgi�o da Universidade Penn State.
C�rebro bi�nico
Explorada h� d�cadas pela fic��o cient�fica, a exist�ncia de um "homem bi�nico" j� � realidade em institutos de pesquisa, com avan�os significativos na �rea de reabilita��o de les�es. Pacientes parapl�gicos est�o conseguindo se locomover — ainda com a necessidade do uso de equipamentos pesados — em experimentos nos quais a intelig�ncia artificial funciona como uma ponte entre a inten��o da pessoa, como mover um bra�o, e a execu��o do movimento.
Embora as tecnologias variem, o princ�pio � semelhante: um chip � implantado no c�rebro, enquanto sensores s�o instalados no local da les�o. O circuito registra a atividade cerebral, um software traduz a inten��o do paciente e envia os comandos para os sensores, que estimulam os membros a se mexerem.
Na experi�ncia cient�fica mais recente, em maio, pesquisadores su��os relataram na revista Nature o caso de um homem de 40 anos que ficou parapl�gico ao sofrer um acidente de tr�nsito e, agora, consegue ficar de p�, subir escadas e andar. Os cientistas do Instituto de Tecnologia de Lausanne e do Hospital Universit�rio de Lausanne implantaram 64 eletrodos no cr�nio do paciente. A intelig�ncia artificial calcula o movimento desejado e traduz a inten��o em comandos transmitidos sem fio para um circuito de 16 eletrodos na medula espinhal.
Aprimoramento
O sistema precisa ser aprimorado: para andar, o paciente usa um capacete e empurra um carrinho onde fica a interface. Al�m disso, por enquanto, a dist�ncia m�xima alcan�ada por ele antes de se cansar s�o 200 metros. Por�m, o artigo foi muito bem recebido por cientistas e m�dicos da �rea de reabilita��o, pois os ganhos do alem�o Gert-Jan Oskam, parapl�gico h� 12 anos, foram, nas palavras dele, imensur�veis. Em uma entrevista coletiva, Oskam ressaltou a import�ncia de recuperar a funcionalidade no dia a dia. "Semana passada, precisava pintar uma coisa na minha casa e ningu�m podia me ajudar. Ent�o, eu peguei o andador e fiz sozinho. De p�", relatou, com orgulho.
Quem entrou no ramo da interface c�rebro-m�quina foi o magnata Elon Musk, que chegou a afirmar ter medo do potencial da intelig�ncia artificial. Neste ano, uma de suas empresas, a Neuralink, recebeu o aval da ag�ncia Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, para testar em humanos chips voltados � reabilita��o de pacientes com paralisias. "A ideia de uma interface c�rebro-computador � empolgante e muitas empresas ao redor do mundo est�o trabalhando nisso h� anos e novos desenvolvimentos na �rea s�o sempre interessantes", opina Patrick Haggard, professor de Neuroci�ncia Cognitiva na Universidade College London, na Inglaterra.
Para evitar problemas �ticos, Haggard ressalta a necessidade de experimentos do tipo serem rigorosamente revisados por cientistas independentes, antes de serem publicados. "Os algoritmos usados para decodificar os sinais neurais do paciente devem ser explicados e as limita��es do sistema devem ser claras. Finalmente, a voz dos pacientes deve ser inclu�da no projeto, assim como a avalia��o dos sistemas, sempre que poss�vel."
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