M�os atadas por corrente a bebidas alco�licas
A reportagem p�de participar com a condi��o de preservar o anonimato dos participantes -todos os nomes deste texto s�o fict�cios- e acompanhar o encontro do in�cio ao fim.
S�o 20h10 quando todos se sentam depois de tomar um caf� feito por Antenor, um dos coordenadores do dia. O posto � revezado com Alessandro, mas poderia ser ocupado por qualquer participante com mais de 90 reuni�es no grupo.
"Estamos aqui para compartilhar experi�ncias, for�a e esperan�as. N�o somos vinculados a nenhuma religi�o ou partido pol�tico. O que nos une � o desejo de parar de beber e permanecer s�brio", avisa Antenor.
Em seguida, todos s�o convidados a ficar de p� para uma ora��o, repetida tamb�m ao fim do encontro, e � lida a reflex�o di�ria, um recorte a partir dos 36 princ�pios do AA.
Come�am ent�o os testemunhos. Ningu�m � obrigado a falar e dois participantes preferem apenas ouvir. Os demais v�o, um a um, para a cadeira posicionada na frente da sala e contam suas hist�rias:
- Alcoolismo: como abordar quem tem depend�ncia
IVAN
"Estou vindo para n�o voltar a beber. Hoje tive um dia de paz, com a fam�lia, que agora � a minha m�e. Antes, eu acordava cedo e a primeira coisa que fazia era atravessar a rua e ir para o bar. Bebia de manh�, de tarde e de noite. Resumi minha vida a um copo de bar.
Com o �lcool, voc� sai de casa sempre para perder: perder a dignidade, a moral, o dinheiro. Minha esposa n�o suportou e nos separamos. Fui morar com a minha m�e e a� a fam�lia viu a gravidade.
Minha m�e come�ou a pedir a Deus para eu mudar de vida e faz dez meses que n�o tenho contato com o �lcool.
Estou feliz com a vida sem ressaca, sem acordar e ter que reparar os danos da noite anterior."
CL�UDIO
"Cheguei � irmandade em 1994.
Tudo � pelo primeiro passo: tem que admitir que � um alco�latra.
Cheguei aqui com o comportamento de culpa e sabia que era culpa minha. Cheguei aqui desacreditado, prepotente. Quem vinha me ajudar na rua eu xingava. Toler�ncia foi algo que aprendi aqui. Sou muito grato ao AA. Hoje, ando com dignidade.
N�o era para eu estar sentado aqui. Era para estar no cemit�rio. S� n�o perdi a vida porque Deus foi benevolente comigo. Tomava tr�s garrafas e fumava 20 baseados por dia.
Quero mostrar para os novatos que funciona. Sempre falo para eles: 'Fica porque funciona'."
EVANDRO
"Estou feliz porque cheguei � irmandade achando que tinha perdido tudo.Bebia de manh�, de tarde e de noite, de domingo a domingo. Isso teve consequ�ncias na minha vida familiar, no trabalho. Eu n�o parava em trabalho nenhum. Hoje, sou consciente da minha doen�a.
Cheguei [ao AA] em agosto de 2008. Chegar, ficar, aprender a ver, a ouvir. Foram 32 anos de bebedeira, dos 17 aos 49.
Cheguei aqui com vergonha, e a� vem a import�ncia do anonimato. Aqui me senti inclu�do. Eu era exclu�do de tudo. At� em eventos familiares eu afastava as pessoas.
Em 2008, minha esposa me p�s para fora de casa. O AA mudou meu modo de pensar. Ainda tenho um certo tipo de nervosismo, mas estou tentando melhorar. A doen�a est� estacionada.
Aceitei minha impot�ncia diante da bebida. Me considero um felizardo por n�o estar bebendo."
ALESSANDRO
"Sou um alco�latra em recupera��o. Passei a beber na adolesc�ncia. Comecei a trabalhar muito cedo e achava que era independ�ncia.
Fui fuzileiro naval. Fiquei cinco anos na Marinha e n�o tive capacidade de estudar para subir de patente porque dava prefer�ncia ao �lcool.
Meus filhos foram crescendo e eu n�o vi. Digo que terminei minha adolesc�ncia aos 56 anos, quando cheguei ao AA, h� dez anos. Aqui fiquei sabendo que era doen�a.
Como comecei na adolesc�ncia, minha forma��o ficou abalada, meu car�ter. Eu tinha os famosos apagamentos e era horr�vel. Um dia, minha irm� veio a uma reuni�o e ela lembrava, mas eu n�o.
A culpa faz a gente beber mais. Aqui, vamos nos esvaziando desse entulho. Quando cheguei, eu s� chorava. Demorei dois meses para come�ar a falar.
O AA foi minha Mega-Sena. Reaprendi a sentir o prazer de tomar um copo d’�gua, de comer um p�o com manteiga de manh�.
Ficou muito sonho pelo caminho, como ser advogado, mas recuperei parte da minha vida."
ANTENOR
"Vim pela dor. Eu n�o tinha um pingo de vontade de parar. Eu gostava de beber, as perdi a cria��o dos meus filhos -e isso eu n�o recupero mais.
Cheguei ao AA com 47 anos. Hoje, estou com 72 e mais novo do que era quando cheguei. Era uma ter�a-feira. Vim na ter�a, na quinta, no s�bado e na outra ter�a j� n�o tinha vontade de beber.
Minha primeira bebedeira foi com 16 anos, mas o alcoolismo veio mesmo com 24, 26. Ent�o, quando vejo pessoas novas, falo: 'Fique, porque voc� n�o precisa passar por tudo que passei'.
O alcoolismo � uma doen�a. Se voc� n�o perdeu, vai perder o emprego, o casamento, a fam�lia.
Eu acho que reconquistei meus filhos, a fam�lia. Ser� que reconquistei mesmo? Sempre fico com essa d�vida. Eu machuquei muito a minha fam�lia...
Hoje, na pra�a em frente de casa, vejo moleque de 14 anos com cop�o de bebida na m�o. Penso em conversar, mas ele vai responder: 'Voc� bebeu para caramba e agora vem falar para eu n�o beber?'. Por isso, precisamos da divulga��o por terceiros: postos de sa�de, escolas e voc�s da imprensa."
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