No Brasil, a Anvisa aprovou o molnupiravir em maio de 2022, e a sua venda � feita em farm�cias com prescri��o m�dica
Um estudo publicado na �ltima segunda-feira (25/9), na revista cient�fica Nature, descreve linhagens do Sars-CoV-2 geradas a partir do uso do antiviral molnupiravir, da MSD (conhecida como Merck nos Estados Unidos e Canad�), contra COVID.
As novas variantes do coronav�rus surgem espontaneamente no mundo todo, por muta��es aleat�rias que ocorrem no processo de replica��o do v�rus. No entanto, de acordo com a pesquisa brit�nica, liderada pelo geneticista Theo Sanderson, do Instituto Francis Crick, em Londres, o uso da droga tem o risco de levar a algumas muta��es que podem, eventualmente, ser transmitidas de pessoa a pessoa.
A evid�ncia dessa transmiss�o seria um sinal gen�tico nas novas linhagens do v�rus associadas ao tratamento com o molnupiravir. Isso ocorre devido ao mecanismo de a��o da droga, que se liga ao RNA viral com um amino�cido (parte de uma prote�na) trocado, o que causa erros de c�pia do Sars-CoV-2 e impede sua replica��o.
Como muitos desses erros acabam por inviabilizar o v�rus, ele reduz o tempo de infec��o. Por�m, esse mecanismo pode gerar algumas formas vi�veis que podem continuar se propagando.
Em nota, a MSD Brasil disse que dados de ensaios cl�nicos e pr�-cl�nicos do molnupiravir apontaram uma redu��o na replica��o viral e na dissemina��o do v�rus, o que reduziria o risco de transmiss�o. Ainda segundo a empresa, Sanderson e colegas se basearam em sequ�ncias divergentes de Sars-CoV-2, capturando padr�es mutacionais espec�ficos.
"Os autores baseiam-se em associa��es circunstanciais entre a regi�o onde a sequ�ncia foi identificada e o per�odo de coleta em pa�ses onde o molnupiravir est� dispon�vel. Al�m disso, essas sequ�ncias estavam associadas a casos espor�dicos, e existem limita��es nas an�lises realizadas no estudo", completou a empresa, em nota.
O molnupiravir foi o primeiro antiviral aprovado para combate � COVID, ainda em 2021. Essa prov�vel rela��o entre a droga e novas variantes do v�rus havia sido levantada ainda naquele ano, quando a droga come�ou a ser utilizada em larga escala no mundo.
Para avaliar essa hip�tese, os pesquisadores analisaram centenas de milhares de sequ�ncias gen�ticas do Sars-CoV-2 dispon�veis em bancos de dados no mundo. Para cada linhagem observaram a probabilidade de ocorrer muta��es consideradas "naturais" —isto �, que surgiram naturalmente na evolu��o do v�rus— e muta��es que podem ter sido causadas pela droga.
O coronav�rus � um v�rus composto por aproximadamente 30 mil nucleot�deos, como s�o chamadas as letras que formam o material gen�tico. Uma fita de material gen�tico � formada por uma sequ�ncia de nucleot�deos A, T, C ou G. Em geral, as muta��es ocorrem por substitui��o (A por T; T por A; C por G; G por C), dele��o ou adi��o.
S� que algumas das trocas, por exemplo, G (guanina) para A (adenina), n�o ocorrem naturalmente. Ao dividir as amostras em linhagens na hist�ria evolutiva do coronav�rus, eles viram alguns ramos da �rvore com uma frequ�ncia muito elevada dessas altera��es associadas � droga, como a troca de um par de base G para A.
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O estudo cruzou, ainda, dados de sequ�ncias gen�ticas do Sars-CoV-2 com os pa�ses que mais usaram o molnupiravir desde seu lan�amento, como Jap�o (600 mil amostras analisadas), Austr�lia (mais de 380 mil sequ�ncias), EUA (cerca de 240 mil) e Reino Unido (30 mil). No Reino Unido, por exemplo, s� 0,043% dos pacientes com amostras gen�ticas do v�rus usaram molnupiravir, mas 31% das linhagens com a muta��o G para A vieram desses pacientes.
Outro dado importante � que os tra�os gen�ticos foram mais identificados em pacientes mais velhos, que representam aqueles que tiveram maior indica��o para uso da droga, devido ao alto risco de hospitaliza��o.
Apesar desses tra�os gen�ticos, por�m, os pesquisadores fazem uma ressalva: n�o foi encontrada nenhuma correla��o entre as variantes da �micron que surgiram no final de 2021 e no in�cio de 2022, como a BA.4 e BA.5, e o uso da droga.
A descoberta, por�m, pode ter um impacto na produ��o do medicamento, uma vez que os pa�ses podem deixar de prescrever a medica��o como terapia para a COVID.
Nos estudos cl�nicos globais realizados naquele ano, a MSD apontou uma redu��o inicial de 50% da hospitaliza��o em pacientes que usavam o molnupiravir, mas essa taxa caiu para 30% no ano seguinte. Com base nos ensaios, a OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de) recomendou o uso do molnupiravir para pacientes com alto risco de hospitaliza��o. Estudos produzidos pela pr�pria farmac�utica depois mostraram uma prote��o tamb�m contra a hospitaliza��o pela �micron.
A EMA (Ag�ncia Europeia de Medicamentos) n�o autorizou o licenciamento do molnupiravir para venda nos pa�ses da Uni�o Europeia, ainda em 2021. J� a FDA (ag�ncia que regulamenta e fiscaliza alimentos e rem�dios nos EUA) autorizou o uso emergencial.
No Brasil, a Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) aprovou o molnupiravir em maio de 2022, e a sua venda � feita em farm�cias com prescri��o m�dica. Apesar disso, n�o h� muitos dados sobre o uso da droga no pa�s. Al�m disso, com o baixo sequenciamento gen�tico feito no pa�s, seria dif�cil saber se h� linhagens originadas pelas muta��es induzidas pelo antiviral.
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