protozoário Leishmania infantum

O protozo�rio Leishmania infantum, causador da leishmaniose visceral, pode afetar ba�o, medula �ssea, f�gado e g�nglios linf�ticos

Francis W. Chandler/CDC/Wikimedia Commons


Nos �ltimos anos, m�dicos e cientistas de regi�es do Brasil, onde a leishmaniose visceral (LV) � end�mica, t�m se deparado com cada vez mais casos de coinfec��o por diferentes protozo�rios: Leishmania infantum e Crithidia. O diagn�stico preciso, no entanto, � dificultado pela aus�ncia de testes simples e espec�ficos.

Com o objetivo de acelerar e facilitar essa distin��o e, consequentemente, a defini��o do tratamento, pesquisadores da Universidade Federal de S�o Carlos (UFSCar) desenvolveram um teste do tipo PCR (que analisa o material gen�tico contido na amostra) que leva menos de duas horas para ser conclu�do. Os resultados do estudo foram publicados no peri�dico Tropical Medicine and Infectious Disease.

O novo m�todo representa um avan�o no diagn�stico da LV – forma mais severa de leishmaniose que afeta �rg�os como ba�o, medula �ssea, f�gado e g�nglios linf�ticos. Negligenciada, a doen�a � considerada um problema de sa�de p�blica, com mais de 3,5 mil casos todos os anos no pa�s, de acordo com o Minist�rio da Sa�de. Esse n�mero representa 93% de todos os casos da Am�rica Latina. Somente em 2020, foram 165 mortes em territ�rio nacional.



O estudo – financiado pela FAPESP por meio de nove projetos – mostrou que o m�todo foi altamente preciso na identifica��o e quantifica��o de L. infantum e Crithidia em amostras obtidas in vitro e in vivo ou coletadas de hospedeiros (humanos, c�es, gatos e vetores), por exemplo, por meio de bi�psias de pele ou aspirados de medula �ssea.

“Apesar de j� existirem outros m�todos moleculares de identifica��o de esp�cies, eles costumam envolver o sequenciamento do DNA da amostra, processo mais trabalhoso, lento e custoso”, explica Sandra Regina Costa Maruyama, professora do Programa de P�s-Gradua��o em Gen�tica Evolutiva e Biologia Molecular (PPGGEv) da UFSCar e coordenadora do estudo. “Nosso teste avalia o material gen�tico dos parasitas diretamente dos vetores e nos tecidos de pessoas e animais [gatos e cachorros].”

Ao contr�rio dos testes r�pidos utilizados no sistema de sa�de, que n�o detectam diretamente o parasita e sim os anticorpos produzidos contra ele, o novo ensaio quantitativo de PCR baseado em corante (qPCR) foi projetado e padronizado com sequ�ncias-alvo espec�ficas para as esp�cies Leishmania infantum e Crithidia em amostras experimentais e cl�nicas. Os novos alvos se mostraram espec�ficos, entretanto � necess�rio realizar inicialmente um ensaio para detectar o primeiro parasita e, na sequ�ncia, um segundo para identificar Crithidia.

“Selecionamos esses novos alvos por meio de an�lises dos genomas das duas esp�cies. Agora que mostramos que apresentam especificidade em diferentes tipos de amostras, � necess�rio otimizar o ensaio para que em uma �nica rea��o de qPCR saibamos se a esp�cie infectante em quest�o � Leishmania infantum, Crithidia ou ambas”, diz Maruyama.

Atualmente, o grupo de pesquisa tem testado as amostras para dete��o de L. infantum e, num segundo teste, faz a detec��o de Crithidia. Segundo a pesquisadora, qualquer laborat�rio de diagn�stico capacitado com equipamento de qPCR – que se tornou mais acess�vel durante a pandemia de COVID-19 – poderia realizar esse teste. A t�cnica pode ser �til para estudos epidemiol�gicos, monitoramento de carga parasit�ria e acompanhamento terap�utico.

Leia tamb�m: Pesquisadores descobrem um novo gatilho para o Parkinson

Casos de coinfec��o

Durante o trabalho, foram realizados testes com 62 parasitas isolados dos tecidos de pacientes com leishmaniose visceral. Desses, 51 testaram positivo para Crithidia. Al�m disso, a coinfec��o de Leishmania infantum e Crithidia em medula �ssea foi identificada em dois novos casos de LV no Brasil. Em maio deste ano, o grupo publicou um relato de caso grave de LV no qual as duas esp�cies de parasitas foram detectadas.

De acordo com Maruyama, al�m da efic�cia do teste, os resultados indicam que a infec��o por Crithidia � mais frequente do que se imaginava e a coinfec��o pelos dois protozo�rios parece acontecer principalmente nos casos mais graves.

“Ainda n�o sabemos quais as implica��es cl�nicas da presen�a de Crithidia nos casos de LV, mas suspeitamos que a coinfec��o possa exacerbar a doen�a ou at� mesmo atrapalhar a resposta ao tratamento recomendado para Leishmania infantum”, diz a pesquisadora. “Identificar a esp�cie de parasita corretamente permite que sejam tomadas provid�ncias rapidamente para evitar a piora e a progress�o do quadro cl�nico, reduzindo a mortalidade. Al�m disso, abre espa�o para que, no futuro, se descubram medicamentos e tratamentos mais espec�ficos.”