Inseto transmissor de doen�as como dengue e zika: t�tica de resist�ncia preserva o material gen�tico
Isabela Stanga - Especial para o Correio
Ovos do Aedes aegypti podem originar larvas mesmo ap�s longos per�odos em ambiente de seca extrema, ou desseca��o, de acordo com estudo publicado por pesquisadores indianos. O mosquito, transmissor de doen�as como dengue, zika e chikungunya, precisa de ambiente l�quido para se reproduzir. No entanto, cientistas do Instituto Ci�ncia das C�lulas Estaminais e Medicina Regenerativa e do Instituto Indiano de Tecnologia de Mandi descobriram que, no estado germinal, ele adquire resist�ncia � secura, depois de 15 horas em �gua parada.
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O Aedes aegypti vive cerca de 30 dias. Durante esse per�odo, a f�mea p�e ovos v�rias vezes. Em �gua parada, eles se transformam em larvas. Em seguida, os mosquitos passam pela fase de pupa, como se fosse um casulo, dentro do qual se tornam adultos. Em um ambiente ideal para o desenvolvimento da esp�cie, passam-se 10 dias entre o ovo e o est�gio final. No entanto, os pesquisadores apontam no estudo, rec�m-publicado na PLOS Biology , que os ovos s�o capazes de sobreviver mais de um ano na secura, gra�as a uma altera��o em seu metabolismo.
Pe�a-chave
Os cientistas provocaram a desseca��o dos ovos de Aedes aegypti por per�odos determinados, como tr�s, sete e 21 dias. Quando reidratados, 85% dos ovos desidratados por tr�s semanas originaram larvas id�nticas �quelas com desenvolvimento ininterrupto em �gua. A produ��o de prote�nas chamadas poliaminas foi considerada por eles a pe�a-chave para entender a resist�ncia ao tempo seco.
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As poliaminas s�o prote�nas que protegem o DNA presente nas c�lulas, esclarece Emanuel Maltempi, professor do Departamento de Bioqu�mica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Paran� (UFPR). "As poliaminas conseguem reter �gua e, como interagem com o material gen�tico, podem atuar no desenvolvimento e sobreviv�ncia celular. Isso acontece em condi��es normais da c�lula, mas a prote��o � mais evidente sob condi��es de estresse."
Em outras palavras, essas prote�nas espec�ficas protegem o DNA presente no ovo durante o per�odo de desseca��o, o que permite que as larvas se desenvolvam a partir do material gen�tico salvaguardado, quando as condi��es voltam a ser ideais. "As poliaminas encontram-se em todos os organismos vivos. Elas regulam v�rios processos celulares importantes, como a comunica��o entre as c�lulas, eventuais mudan�as no material gen�tico e nas prote�nas", acrescenta Baskar Bakthavachalu.
Para produzir as poliaminas, os cientistas perceberam que os ovos utilizam grande parte de seu estoque de gorduras, os lip�dios e �cidos graxos. Em analogia com um autom�vel, essas gorduras seriam a gasolina, queimada para que o carro possa andar. Do mesmo modo, na c�lula, essas subst�ncias s�o utilizadas para gerar energia para as atividades do metabolismo.
Expans�o
A resist�ncia dos ovos do Aedes aegypti � seca permite com que ele se expanda para outras regi�es, n�o somente as tropicais-�midas. Com o aumento do n�mero de mosquitos, cresce tamb�m a incid�ncia das doen�as transmitidas por ele. As Am�ricas registraram quase 3 milh�es de casos de dengue entre janeiro e junho desse ano, conforme dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). O Brasil foi l�der de pessoas infectadas, com aumento de 72% de casos com rela��o a 2022. Foram confirmadas mais de um milh�o de infec��es e 769 �bitos.
No Distrito Federal, foram notificados 38.627 casos suspeitos de dengue ao longo deste ano, entre os quais 28.572 eram prov�veis. Os dados s�o do Boletim Epidemiol�gico da Subsecretaria de Assist�ncia � Sa�de do DF, atualizados em 10 de outubro.
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A melhor preven��o para as doen�as causadas pelo Aedes � acabar com o mosquito. Como n�o � poss�vel ver os ovos a olho nu, � necess�rio eliminar poss�veis focos de reprodu��o, segundo J�lio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT). "Dentro de 10 dias, h� um ciclo completo do mosquito. Ou seja, milhares de larvas podem se desenvolver em um m�s. N�o d� para as pessoas verificarem a �gua parada uma vez por m�s. � preciso estabelecer um dia da semana e ter esse cuidado de sempre verificar a presen�a de larvas", ensina.
Palavra de especialista - Busca por focos
Ant�nio Bandeira , m�dico infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia"O Aedes aegypti � altamente domiciliado. A f�mea deposita ovos pr�ximo a casas, ela n�o vai depositar ovos longe se tiver a possibilidade de estar perto de uma resid�ncia. � importante, assim, que as pessoas fa�am uma verdadeira busca de focos em suas casas: nas calhas, nos ralos, qualquer lugar que possa ter �gua parada pode servir de prolifera��o do mosquito. Ao colocar cloro na �gua, voc� pode evitar que ele se reproduza. Pode colocar tamb�m hipoclorito, �gua sanit�ria. O que importa � prestar aten��o e reduzir os locais em que pode haver ovos e larvas em desenvolvimento".
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