
Uma foto de uma nadadora transg�nero sozinha, isolada no primeiro lugar do p�dio de uma competi��o, enquanto as tr�s nadadoras que tiraram segundo, terceiro e quarto lugares posam juntas sorrindo, longe da vencedora.
A imagem foi registrada por uma fot�grafa na semana passada em Atlanta, quando a americana Lia Thomas fez hist�ria: ela se tornou a primeira nadadora transg�nero a ganhar o t�tulo universit�rio mais importante dos Estados Unidos, com uma vit�ria no nado livre feminino de 500 jardas.
A foto desencadeou uma s�rie de pol�micas que viralizaram nas redes sociais, com debates televisivos nos EUA e posts de influenciadores levantando diversas perguntas: as nadadoras americanas estariam excluindo a atleta transg�nero? O gesto poderia ser interpretado como uma forma de protesto? Atletas transg�neros devem competir nas categorias femininas?
O que aconteceu?
Thomas nadou durante tr�s temporadas pela equipe masculina da Pensilv�nia antes de iniciar uma terapia de reposi��o hormonal na primavera de 2019.
- 'Sou trans e meu companheiro � um homem h�tero'
- A proposta radical de cientista e atleta trans para incluir transg�neros no esporte ‘de forma justa’
A federa��o americana, USA Swimming, alterou em fevereiro as suas regras, passando a permitir que atletas transg�neros nadem em eventos de elite, estabelecendo crit�rios que visam reduzir qualquer vantagem tida como injusta, como a exig�ncia de testes de testosterona por 36 meses antes das competi��es.
Thomas conquistou o t�tulo nadando em quatro minutos e 33,24 segundos. Emma Weyant, da Virg�nia, que havia conquistado a prata nos 400m medley individual nas Olimp�adas de T�quio, terminou 1,75s atr�s em segundo, e Erica Sullivan ficou em terceiro.
Emocionada, Thomas deu entrevista na sa�da da piscina: "[Estar aqui] � tudo para mim."
'Alega��es falsas'
A foto foi republicada na conta de Instagram de Caitlyn Jenner, celebridade transg�nero que j� foi medalhista ol�mpico no decatlo masculino. Jenner vem defendendo Thomas em diversas entrevistas para televis�es americanas.
https://www.instagram.com/p/CbY4-Y-LXhh/
"Ver essa imagem e comentar tudo na semana passada foi t�o desanimador e me lembra totalmente o qu�o importante � apoiar o esporte feminino, que � uma das raz�es pelas quais me formei", postou Jenner, que possui 12 milh�es de seguidores no Instagram.
Uma das primeiras sugest�es a surgirem nas redes sociais � a de que as tr�s nadadoras estariam deliberadamente protestando contra Lia Thomas.
- Por que o caso de Caster Semenya pode ser um marco para o esporte
- A pol�mica de Mack Beggs, transexual que se v� como homem, mas � invicto em torneios femininos de luta
No entanto, Erica Sullivan — que aparece na foto usando um chap�u de cowboy — negou a acusa��o e publicou outra vers�o da foto. Ela disse que apoia Lia Thomas e que a foto vem sendo espalhada como not�cia falsa pelas redes.
"Ser submetida a alega��es falsas na m�dia da direita devido a esta foto com minhas amigas pr�ximas de T�quio n�o � algo que acontece todos os dias", escreveu Erica no post, em refer�ncia �s outras nadadoras que competiram com ela nos Jogos de T�quio de 2021.
"Como a foto ainda est� circulando, pensei que seria mais f�cil postar a foto que pretendia junto com outra foto minha apertando a m�o de Lia depois de seu INCR�VEL 500 nado livre. "
Erica Sullivan, que � abertamente gay, recentemente escreveu um artigo para a revista Newsweek com o t�tulo: "Por que tenho orgulho de apoiar atletas trans como Lia Thomas".
"Recebi uma plataforma para defender minha comunidade, e n�o posso ficar em sil�ncio enquanto vejo os direitos fundamentais de uma colega nadadora serem colocados em debate", escreveu Sullivan, no artigo. "A nadadora da Universidade da Pensilv�nia, Lia Thomas, foi injustamente visada apenas por isso — por ser quem ela �, uma mulher transg�nero."
"Como qualquer outra pessoa neste esporte, Lia treinou com disciplina para chegar onde est� e seguiu todas as regras e diretrizes colocadas diante dela. Como qualquer outra pessoa neste esporte, Lia n�o vence todas as vezes. E quando o fizer, ela merece, como qualquer outra pessoa neste esporte, ser celebrada por seu sucesso conquistado com muito esfor�o, n�o rotulada de trapaceira simplesmente por causa de sua identidade."
Rea��es
A vit�ria da atleta transg�nero desencadeou uma s�rie de rea��es.
Antes da competi��o, manifestantes contra e a favor da participa��o de Lia Thomas na competi��o realizaram protestos do lado de fora do complexo de piscinas em Atlanta.

O governador da Fl�rida, Ron DeSantis, assinou um decreto reconhecendo a vice-campe� Emma Weyant como a verdadeira vencedora da prova.
"Eles [os organizadores do torneio] est�o colocando ideologia � frente da oportunidade para as mulheres atletas e acho que algumas pessoas t�m medo de falar", disse o pol�tico republicano.
A nadadora h�ngara Reka Gyorgy protestou contra a decis�o dos organizadores de deixar Lia Thomas competir. Gyorgy perdeu um lugar na final por um ponto.
"D�i bastante. Esta � a minha �ltima reuni�o da faculdade e me sinto frustrada. Parece que aquele lugar final foi tirado de mim por causa da decis�o da NCAA [entidade organizadora da competi��o] de deixar algu�m que n�o � uma mulher biol�gica competir", escreveu Reka Gyorgy em carta aos organizadores.
Gyorgy disse reconhecer que Thomas est� "fazendo o que ela ama e merece esse direito", mas disse que "gostaria de criticar as regras da NCAA que permitem que ela compita contra n�s".
"Estou escrevendo esta carta agora na esperan�a de que a NCAA abra os olhos e mude essas regras no futuro. Isso n�o promove nosso esporte de uma maneira boa e acho que � desrespeitoso contra as nadadoras biologicamente femininas que est�o competindo na NCAA."

Outros dirigentes e ex-atletas tamb�m reagiram � pol�mica.
"Acho que a integridade do esporte feminino, se n�o fizermos isso direito, e na verdade o futuro do esporte feminino, � muito fr�gil", disse Sebastian Coe, ex-medalhista ol�mpico e presidente da World Athletics, �rg�o dirigente do atletismo mundial.
"Olhe para a natureza das meninas de 12 ou 13 anos. Eu me lembro que as minhas filhas regularmente ultrapassavam os colegas do sexo masculino em sua classe, mas assim que a puberdade chega, uma lacuna se abre e n�o se fecha mais. O g�nero n�o pode superar a biologia."
"Voc� n�o pode ignorar o sentimento p�blico, claro que n�o. Mas a ci�ncia � importante. Se eu n�o estivesse satisfeito com a ci�ncia que temos e os especialistas que usamos e as equipes internas que t�m trabalhado isso por um longo tempo, se eu n�o estivesse confort�vel com isso, este seria um cen�rio muito diferente."
Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!