O paradoxo de Moravec foi apresentado em 1988, quando a rob�tica e a intelig�ncia artificial enfrentavam um momento de estagna��o
Ser� que, algum dia, conseguiremos criar um rob� com as mesmas capacidades do ser humano?
O surpreendente surgimento do ChatGPT e de outros programas de intelig�ncia artificial faz com que esta pergunta se torne cada vez mais relevante. E, mais do que isso, a imagina��o dos engenheiros tentando criar um rob� que pense e aja como ser humano fica ainda mais agu�ada.
J� conseguimos imitar os complexos sistemas de racioc�nio e at� de criatividade do nosso c�rebro, especialmente com a intelig�ncia artificial.
Mas os rob�s ainda n�o conseguem amarrar um sapato.
A rob�tica e a intelig�ncia artificial podem fazer com que o pensamento racional exija menos processos de computa��o, enquanto atos aparentemente mais simples e que s�o facilmente executados pelo ser humano, como amarrar os sapatos ou pegar uma bolsa que caiu no ch�o, exigem enorme esfor�o computacional.
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“O ser humano levou centenas de milhares de anos de evolu��o para fazer coisas simples como, por exemplo, manter o equil�brio”, explica o pesquisador em rob�tica Gonzalo Zabala, da Universidade Aberta Interamericana, na Argentina. “Por isso, reproduzir todos esses processos em n�vel computacional, no momento, � quase imposs�vel.”
Zabala destaca, em entrevista � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC), que o contr�rio tamb�m acontece com os processos que s�o frutos de racioc�nio.
“H� quanto tempo podemos falar em homem inteligente, da raz�o?”, pergunta ele. “Em compara��o com outros processos evolutivos, o tempo � muit�ssimo menor e, por isso, podemos codific�-los e reproduzi-los com mais sucesso.”
Hans Moravec e Alan Turing

A intelig�ncia artificial trouxe uma revolu��o nos �ltimos anos
Getty ImagesUm dos precursores da intelig�ncia artificial foi o cientista brit�nico Alan Turing (1912-1954).
Um dos diversos estudos publicados por Turing na sua curta, mas prodigiosa carreira relaciona uma s�rie de perguntas que serviriam para distinguir, em um caso te�rico, um rob� de um ser humano.
Este m�todo vem orientando os engenheiros e te�ricos para o desenvolvimento da intelig�ncia artificial desde que foi formulado, na d�cada de 1950.
Como destacou o professor de rob�tica Rodney Brooks, do Instituto Tecnol�gico de Massachusetts (MIT, na sigla em ingl�s), o que ocorreu foi que os engenheiros se concentraram em criar programas ou aparelhos que conseguissem “enganar” seus interlocutores, respondendo adequadamente �s perguntas do teste de Turing para que pudessem se passar por seres humanos.
Mas, no final dos anos 1970, este enfoque come�ou a apresentar um problema. As respostas l�gicas n�o desenvolviam nada de original e o caminho indicado por Turing come�ava a n�o deixar muitas sa�das.
“O pr�prio financiamento das pesquisas foi suspenso, pois n�o era claro o caminho a ser seguido e n�o se observavam progressos”, segundo Brooks.
Por isso, os cientistas sa�ram em busca de alternativas para fazer avan�ar o desenvolvimento da intelig�ncia artificial.
“O caminho escolhido foi criar circuitos similares aos do c�rebro humano”, explica Zabala. “N�o um rob� que respondesse com a l�gica, mas um circuito que conseguisse pensar.”
Foi ent�o que surgiu a contradi��o, ainda n�o resolvida: enquanto processos de intelig�ncia artificial eram criados com relativa facilidade, as fun��es b�sicas do ser humano eram praticamente imposs�veis de serem recriadas em um rob�.
Este fato foi amplamente observado at� o final da d�cada de 1980 pelos especialistas em rob�tica, como o pr�prio Rodney Brooks, o austr�aco Hans Moravec e o norte-americano Marvin Minsky. Mas foi Moravec, professor da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh (Estados Unidos), o respons�vel por apresentar a melhor exposi��o sobre o tema em 1988, a partir do trabalho dos tr�s colegas.
Segundo Moravec, “� comparativamente f�cil fazer com que os computadores mostrem rendimento de n�vel adulto em testes de intelig�ncia ou jogando xadrez, mas � dif�cil ou imposs�vel fornecer a eles as capacidades de um menino de um ano, em rela��o � percep��o e � mobilidade.”
Ou seja, os rob�s podem ser t�o inteligentes quanto incapazes.
“O que o paradoxo de Moravec fez foi dar sentido ao que estava sendo observado”, afirma Zabala. “E, quando se d� um nome a um problema, indicam-se as poss�veis solu��es.”
“Quando se chega a este ponto, come�a algo muito interessante, que � nos conhecermos melhor para podermos nos reproduzir nos rob�s: saber como mantemos o equil�brio, como aprendemos a dirigir e assim por diante”, acrescenta ele.

O cientista brit�nico Alan Turing (1912-1954) � considerado o pai da rob�tica
Getty ImagesRob�s sens�veis
Os tr�s pesquisadores – Moravec, Brooks e Minsky – desenvolveram projetos destinados a esclarecer o paradoxo.
Brooks, por exemplo, trabalhou com a empresa norte-americana Boston Dynamics e com outra fundada por ele mesmo, chamada iRobots.
O princ�pio, segundo ele, resume-se em uma premissa direta: “se quisermos construir um rob� com intelig�ncia humana, � preciso primeiro construir um rob� com anatomia humana”. E, a partir da�, foram desenvolvidos projetos de rob�s que apresentassem um aspecto mais pr�ximo do nosso.
Uma equipe de cientistas europeus, por exemplo, desenvolveu um prot�tipo conhecido como ECCERobot, dotado de um esqueleto termopl�stico completo, com v�rtebras, falanges e caixa tor�cica.
O ECCERobot tem os mesmos graus de movimento do tronco humano e, o mais importante, todas as suas partes s�o repletas de sensores.
Mas os pr�prios cientistas que desenvolveram o rob� destacaram que o principal inconveniente n�o foi superado. A complexidade do ECCERobot � t�o grande que ele mal consegue segurar um copo. Por isso, n�o se pode esperar que ele tenha comportamento inteligente.
“Construir um rob� humanoide inteligente, que possa interagir sem problemas com seres humanos e ambientes humanos de forma natural, exigir� avan�os da inform�tica e de efici�ncia de bateria, sem falar no salto qu�ntico do equipamento sensorial”, afirma Rolf Pfeifer, coordenador do projeto do ECCERobot.
“Um desenvolvimento realmente fundamental ser� a pele”, segundo ele. “A pele � extremamente importante no desenvolvimento da intelig�ncia porque fornece padr�es sensoriais muito ricos: tato, temperatura, dor, tudo de uma vez.”
Mas os especialistas destacam que, apesar dos problemas apresentados pelo paradoxo de Moravec, a constru��o de um rob� inteligente como o ser humano � uma possibilidade, ainda que distante.
“O que o paradoxo de Moravec fez foi colocar um problema em evid�ncia, para que os pesquisadores procurassem solu��es”, explica Zabala. “Uma delas, sem d�vida, � a que estamos observando com a revolu��o da intelig�ncia artificial, onde demos um passo rumo � cria��o, n�o s� �s respostas l�gicas.”
Para o especialista, esta revolu��o claramente n�o � uma amea�a para a extin��o da esp�cie humana.
“N�o acredito que ela signifique o fim, como afirmaram diversos analistas. � uma ferramenta que ir� facilitar muitos processos no futuro”, conclui Zabala.
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