Raimundo Gomes instala ''Curupira'' (guardião mitológico da floresta) com objetivo de ajudar no combate ao desmatamento florestal

Raimundo Gomes instala ''Curupira'' (guardi�o mitol�gico da floresta) com objetivo de ajudar no combate ao desmatamento florestal

MICHAEL DANTAS / AFP
Quando uma motosserra for ligada para derrubar uma �rvore em algum recanto remoto da Amaz�nia, o "Curupira" vai ouvir o ru�do e alertar as autoridades em tempo real. Este dispositivo de Intelig�ncia Artificial (IA) � um novo "guardi�o" no combate ao desmatamento na maior floresta tropical do planeta.

A olho nu, o dispositivo, desenvolvido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) parece um discreto modem de internet sem-fio amarrado � casca de uma �rvore. Mas � muito mais que isso.

Ele possui um sensor dotado de "intelig�ncia artificial", um programa de computador treinado para "reconhecer o ru�do de motosserra e tratores ou o que possa causar desmatamento na floresta", explica � AFP Thiago Almeida, gerente do projeto.

O aparelho consegue identificar desta forma uma amea�a e enviar em tempo real a informa��o a uma central de alertas.

O objetivo � "complementar outros modelos de monitoramento" j� existentes, como o controle de desmatamento por imagens de sat�lite, explicou o pesquisador Raimundo Cl�udio Souza Gomes, coordenador do Laborat�rio de Sistemas Embarcados da UEA, � frente do projeto.

Enquanto as imagens de sat�lite detectam a superf�cie j� desmatada, o sistema de IA poder� avisar "quando se est� tentando ou j� iniciando o processo de dano", ajudando a evit�-lo, afirma.

O projeto foi nomeado "Curupira" em homenagem ao ser encantado da mitologia ind�gena conhecido pela ast�cia para enganar os ca�adores e combater quem destr�i a natureza. Um verdadeiro guardi�o da floresta.

A fase piloto do projeto, financiada pela Hana Electronics, uma empresa nacional, testou dez prot�tipos nos arredores de Manaus, em �reas de mata que permitiram simular as condi��es mais remotas da floresta.
Segundo Gomes, os estudos preliminares para que estes sensores funcionem em rede na transmiss�o de informa��o, cobrindo grandes dist�ncias, "s�o muito promissores".

Mediante uma conex�o sem-fio que n�o requer internet, cada curupira se mostrou capaz de se comunicar com os outros sensores a 1 km de dist�ncia.

Dispostos como uma rede pela floresta, os dispositivos ser�o capazes de identificar as amea�as e fazer os alertas chegarem a qualquer ponto com conex�o via sat�lite.

Por isso, seus criadores agora est�o buscando financiamento para fabricar e colocar em campo entre cem e mil sensores.

Tamb�m ser�o desenvolvidos novos "curupiras" capazes de identificar focos de inc�ndio com detectores de fuma�a e term�metros infravermelhos.

Na regi�o amaz�nica, "o crime se estabelece nas trevas. Quando voc� coloca luz em cima, torna mais dif�cil", afirmou.

- Solu��o 'Made in Brazil' -

Em pa�ses como Canad�, Estados Unidos e Indon�sia tamb�m foram implementados sistemas de vigil�ncia por sensores de �udio, mas em geral envolvem conex�es caras ou grandes antenas para transmiss�o de dados, segundo Gomes.

O projeto criado no Amazonas, ao contr�rio, poderia ser implantado a baixo custo.

Os sensores, cujo custo de fabrica��o por unidade varia entre 200 e 300 d�lares (aproximadamente R$ 1.000 a R$ 1.500), j� trazem embutida a tecnologia que processa os dados e gera os alertas, facilitando o envio da informa��o. Al�m disso, por seu design, funcionam com baix�ssimo consumo de energia.

"O prot�tipo inicial � alimentado por uma bateria comum, que parece uma pilha (...), que consegue uma autonomia de um ano", ilustra.

Na floresta, essa energia pode ser obtida de fontes t�o diversas quanto "o balan�ar dos galhos das �rvores, a diferen�a de temperatura, a diferen�a da acidez na seiva de uma �rvore", explica Gomes.

Implementada em larga escala, a plataforma poderia ser usada para fins p�blicos e privados diversos, afirma o professor - de trabalhos de seguran�a at� como "auxiliar fiscal" no incipiente mercado de cr�ditos de carbono, permitindo, por exemplo, a um propriet�rio de terra demonstrar que est� preservando.

"A gente est� tentando quebrar paradigmas, mostrando que aqui tamb�m tem ci�ncia, intelig�ncia, capacidade", afirma Gomes, que confia no potencial desta solu��o local.