
No in�cio da semana, a Ford anunciou que est� deixando de produzir ve�culos no Brasil. Na pr�tica, quatro modelos deixar�o de ser fabricados no pa�s: Ford Ka, Ka Sedan, EcoSport e Troller T4 (a marca de jipes pertence � Ford). No in�cio de 2019, a empresa fechou a planta de S�o Bernardo do Campo SP), onde eram fabricados o Fiesta e os caminh�es Cargo. De fabricante de ve�culos h� mais de 100 anos, a marca passa a operar no pa�s apenas como uma importadora, mantendo toda a sua linha de modelos importados, que deve crescer ao longo dos pr�ximos anos.

Dessa forma, a produ��o nas plantas de Cama�ari (BA), onde eram produzidas a linha Ka e o EcoSport, e Taubat� (SP), que fabricava motores e transmiss�es, foram imediatamente encerradas. A fabrica��o de pe�as segue por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de p�s-venda. A f�brica da Troller em Horizonte (CE) continuar� operando at� o quarto trimestre deste ano. Ao todo, 5 mil funcion�rio diretos ser�o impactados no Brasil e na Argentina.

Para indenizar os funcion�rios demitidos e concession�rios, assim como devolver incentivos fiscais recebidos, a empresa calcula que vai gastar US$ 4,5 bilh�es. De acordo com a Ford, ser�o mantidas no Brasil a sede administrativa da Am�rica do Sul, na capital paulista, o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, e o campo de provas de Tatu� (SP). O fabricante ainda informou que pretende facilitar “alternativas poss�veis e razo�veis para partes interessadas adquirirem as instala��es produtivas dispon�veis”.

A medida faria parte de uma reestrutura��o da marca na Am�rica do Sul, apesar de as opera��es de manufatura na Argentina e no Uruguai, assim como as organiza��es de vendas em outros mercados da regi�o, n�o terem sido impactadas. Enquanto fecha as f�bricas no Brasil, a Ford anunciou um investimento de US$ 580 milh�es na planta argentina de Pacheco, para a fabrica��o da nova gera��o da Ranger.
P�S-VENDA A marca tamb�m garantiu que manter� a assist�ncia total ao consumidor com opera��es de vendas, servi�os, pe�as de reposi��o e garantia para seus clientes no Brasil. Apesar do compromisso, � ineg�vel que a sa�da da Ford ter� reflexos em quem depositou sua confian�a na marca – que ter� o ve�culo desvalorizado, al�m da deprecia��o normal e uma inseguran�a quanto � disponibilidade de pe�as de reposi��o – e sobre a rede de concession�rios, que tende a se reduzir significativamente. Procurada pela reportagem, a Associa��o Brasileira dos Distribuidores Ford (Abradif) n�o quis se posicionar.
MOTIVA��ES De acordo com o fabricante, a principal motiva��o de sua sa�da seria a persist�ncia do cen�rio da COVID-19, “que estende a capacidade ociosa da ind�stria e a redu��o das vendas, resultando em anos de perdas significativas”, mas a explica��o vai muito al�m disso.
PREJU�ZOS Um aspecto que motivou a sa�da da marca foi sua crescente queda de participa��o entre os autom�veis e comerciais leves no mercado brasileiro nos �ltimos anos: em 2015, a Ford respondia por 10,24%; em 2016, a marca passou a deter 9,07%; em 2017, esse n�mero cresceu um pouco, 9,52%; mas, em 2018, caiu para 9,17%; em 2019, uma nova queda, para 8,22%; no fechamento de 2020, a Ford passou a responder por 7,14%. Os dados s�o da Federa��o Nacional da Distribui��o de Ve�culos Automotores (Fenabrave).
Informativo destinado �s concession�rias da marca, obtida pela TV Globo, revela que "desde a crise econ�mica em 2013, a Ford Am�rica do Sul acumulou perdas significativas" e que a matriz americana vinha auxiliando nas necessidades de caixa, o que n�o seria mais sustent�vel. De acordo com relat�rio divulgado pelo JPMorgan, em 2019, a Ford teve preju�zo de US$ 300 milh�es nas opera��es na Am�rica do Sul, e que o encerramento da produ��o no Brasil deve levar ao equil�brio financeiro na regi�o.
INCENTIVOS FISCAIS O presidente Jair Bolsonaro chegou a criticar a ren�ncia fiscal: “Faltou a Ford dizer a verdade: querem subs�dios. Voc�s querem que eu continue dando R$ 20 bilh�es para eles como fizeram ao longo dos �ltimos anos? Dinheiro de voc�s, de imposto de voc�s, para fabricar carro aqui?” Apesar disso, em seu governo a ind�stria continuou a receber incentivos fiscais.
De acordo com Rui Costa (PT), governador da Bahia, a Ford n�o pediu qualquer novo incentivo ao estado, e atribuiu o encerramento das atividades da Ford no Brasil � aus�ncia de uma pol�tica industrial favor�vel nos �ltimos seis anos, trocando farpas como presidente. Segundo dados da Receita Federal, a ind�stria automotiva recebeu incentivos fiscais por parte da Uni�o no valor de R$ 69,1 bilh�es, entre 2000 e 2021, em valores corrigidos. Segundo reportagem da Folha, o governo estadual da Bahia afirma que, entre 2018 e 2020, concedeu incentivos fiscais � Ford no valor de R$ 948 milh�es.
CUSTO BRASIL Em resposta �s declara��es de Bolsonaro, Luiz Carlos Moraes, presidente da Associa��o Nacional dos Fabricantes de Ve�culos Automotores (Anfavea), afirmou que o setor n�o busca mais incentivos fiscais, mas uma melhora na competitividade no pa�s. Ele disse ainda que a sa�da da Ford corrobora com o que a entidade vem alertando h� mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo Brasil, como a alta carga tribut�ria, c�mbio desfavor�vel e log�stica onerosa.
PERFIL DO PRODUTO Pode ser complicado para o consumidor entender como um simples Ford Ka, vendido a partir de absurdos R$ 52 mil, n�o d� um lucro satisfat�rio, mas � que os modelos mais caros t�m uma margem muito superior e, em detrimento do volume, esse � o foco da marca. N�o � segredo que a Ford optou globalmente por modelos mais sofisticados, como picapes e SUVs, muito diferente da linha que vinha sendo produzida no Brasil.
A nova cara da Ford
Com a decis�o de fechar as f�bricas no Brasil e o t�rmino dos estoques, a Ford passa a contar apenas com sua gama de importados, que j� era maior que a de nacionais e promete crescer mais ainda. Por outro lado, a marca americana abre m�o do volume de vendas, j� que os modelos que deixaram de ser produzidos – Ka, Ka Sedan e EcoSport – responderam em 2020 por 84% das unidades comercializadas entre autom�veis e comerciais leves.
Se somar a Ranger, fabricada na Argentina, portanto, com os benef�cios do Mercosul, esses quatro ve�culos respondem por 98,4% do volume da marca no Brasil, evidenciando que a “importadora” Ford deve trabalhar com um volume m�nimo no mercado. Esse n�mero tamb�m pode dar uma resposta para quem ainda n�o percebeu o impacto da “reestrutura��o” da marca na rede de concession�rias, que tende a minguar significativamente. Confira como fica a linha Ford.
RANGER Importada da Argentina, a Ranger foi a terceira picape m�dia mais vendida em 2020 por aqui. No �ltimo ano foram comercializadas no Brasil 19.833 unidades do modelo, cerca de 14% do volume da marca. Uma terceira gera��o da Ranger est� programada para 2023. Para este ano, a novidade fica por conta da vers�o Black, com diversos elementos em preto na carroceria.
TERRITORY O SUV m�dio � importado da China, o que n�o permite um pre�o competitivo. Com bons predicados, ele � vendido a partir de R$ 179.900. Em 2020, foram comercializadas 1.558 unidades, 1,1% do volume da marca.
MUSTANG �cone automotivo mundial, foi o segundo esportivo mais vendido no Brasil em 2020, com 350 unidades, 0,25% de participa��o no volume da marca. A novidade para 2021 � a chegada da vers�o Mach 1, ainda mais esportiva.
EDGE ST SUV de luxo de porte m�dio, o Edge tem volume t�o pequeno que nem figura entre os 40 utilit�rios-esportivos mais emplacados de 2020 no ranking da Fenabrave. Importado do Canad�, o modelo custa a partir de R$ 351.950.
IMPORTADOS QUE
PODEM CHEGAR
Alguns j� foram confirmados, outros podem fazer parte do portf�lio da “importadora” Ford.
BRONCo Sport Fabricado no M�xico, o Bronco Sport viria sem imposto de importa��o. O SUV m�dio � fabricado em estrutura monobloco e sua carroceria faz uma fus�o entre as linhas retil�neas de um jipe e o porte de um utilit�rio-esportivo.
BRONCO A releitura do modelo cl�ssico tamb�m ser� vendida no Brasil, provavelmente em 2022. O modelo � fabricado nos Estados Unidos, e, a exemplo do rival Jeep Wrangler, deve chegar por aqui com pre�o salgado. Al�m do visual irado, o modelo constru�do sobre chassis tem muitos recursos para o fora de estrada.
NOVA TRANSIT A van ser� montada na f�brica da Nordex, no Uruguai, e tamb�m est� confirmada para o mercado brasileiro. Existem vers�es para passageiros, para carga e chassi-cabine, mas ainda n�o se sabe quais estar�o dispon�veis por aqui.
MUSTANG MACH-E Aqui j� entramos no campo das possibilidades. � que o presidente da Ford na Am�rica do Sul, Lyle Watters, chegou a afirmar que pretendia trazer o Mustang Mach-E para o Brasil. A vers�o mais potente do SUV el�trico fabricado no M�xico tem 465cv e 84,6kgfm de torque, com acelera��o at� os 100km/h em 3,5 segundos.
MAVERICK Calma, n�o se trata de uma releitura do Maverick cl�ssico (infelizmente!), mas uma picape que ainda nem foi lan�ada. O modelo ser� fabricado no M�xico e ter� porte intermedi�rio entre as picapes compactas e as m�dias. Uma suposta imagem flagrada do modelo na linha de montagem revela que suas linhas ser�o robustas, como as m�dias. Sob o cap�, um motor 1.5 turbo de 150cv.
ESCAPE H�BRIDO A vers�o h�brida do SUV m�dio j� � vendida na Argentina, onde se chama Kuga. E seria essa mesma vers�o, que combina motor 2.5 litros a combust�o interna com outro el�trico para obter 203cv, que viria para o Brasil. N�o espere por uma pechincha. (PC)