Medo, estranhamento e confusão. Esse é o sentimento compartilhado por pais de alunos e estudantes da Escola Estadual Sandoval Soares de Azevedo, em Ibirité, na Região Central, desde que 63 alunos precisaram de atendimento médico por suspeita de intoxicação alimentar depois de comerem salpicão na merenda escolar na tarde dessa terça-feira (7/10).
Com as portas fechadas, a expectativa é que a situação seja resolvida e que os estudantes possam retornar tranquilos à escola. Nesta quarta-feira (8), todas as atividades da instituição de ensino foram suspensas.
As estudantes Lydia Vitória, de 17 anos, e Ana Clara, de 19, estudam na 2ª e 3ª séries do Ensino Médio, no período da noite. As turmas delas estão separadas em dois prédios: o prédio da Escola Técnica, que comporta alunos da última série, e o Prédio Anexo, conhecido como a “escola nova”, onde estudam alunos das séries iniciais do Ensino Médio. Conforme apurado pela reportagem, os alunos que passaram mal eram todos estudantes do Anexo, do turno integral.
No dia seguinte ao incidente, o refeitório estava fechado. Papeis amassados pelo chão e um odor característico, apesar de uma limpeza aparente, porém, ilustram os momentos de intoxicação vividos pelos alunos horas antes.
A doméstica Juliana Gonçalves, de 39 anos, mãe de Lydia e Ana, relatou ao EM que as filhas viveram momentos de apreensão e evitaram se alimentar enquanto estavam na escola. “Tudo aconteceu quase na hora em que as meninas estavam vindo. Elas não tomaram água e nem comeram, com medo. Nem elas nem os poucos alunos que foram ficaram com medo [de comer]. Chegaram em casa já com fome e sede”, contou.
“É uma coisa que assusta os pais. Imagina estar no trabalho, longe daqui, e receber que o filho está passando mal. Com fé em Deus, tudo vai voltar ao normal”, comentou. “Foi uma fatalidade, susto tanto pros professores quanto aos alunos”. A informação recebida pela reportagem, porém, dá conta que apenas estudantes passaram mal.
Suspensão das aulas
As aulas da E.E. Sandoval Soares de Azevedo foram suspensas nesta quarta-feira. Segundo a Fundação Helena Antipoff (FHA), as aulas foram suspensas em todos os prédios da instituição. “A decisão foi tomada de forma preventiva, para que possamos oferecer apoio à nossa comunidade escolar e garantir que todos sejam recebidos com segurança e bem-estar no retorno às atividades”, informou em nota.
De acordo com a FHA, todas as providências legais foram tomadas junto aos órgãos competentes, incluindo a Vigilância Sanitária, Polícia Civil e Polícia Militar. “A instituição segue acompanhando a situação com responsabilidade e transparência, reafirmando seu compromisso com a segurança, a saúde e o cuidado com todos”, finalizou o comunicado.
Para a torneiro mecânica Iasmin Miranda, de 32 anos, foi um alívio a suspensão das aulas. Ela, que é mãe de um aluno do ensino fundamental, conta que nunca teve problemas com a escola. “Ter acontecido isso foi muito estranho. Estudei aqui anos atrás e por isso coloquei meu filho. Nunca vi nada parecido acontecendo. Agora espero que tudo seja resolvido logo”, relatou.
A decisão impactou o funcionamento dos três prédios da instituição de ensino: o prédio do Ensino Infantil e Fundamental; o prédio Anexo, que tem aulas para os alunos da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio; e o prédio da Escola Técnica, com os alunos da 3ª série.
Outra causa para a intoxicação?
A suspeita, para as famílias, é que a causa da intoxicação não tenha sido o salpicão. Segundo Juliana, circula entre os alunos que houveram casos de suspeita de intoxicação em estudantes que não ingeriram o alimento. Nenhuma pessoa do quadro de funcionários foi vítima da intoxicação.
“Os alunos dizem que tiveram alunos que passaram mal que não comeram. Imagino que possa ter acontecido algo com esse alimento, ou até com os bebedouros; mas ainda não sabemos de nada. Esse calor pode ter prejudicado também, fez muito calor ontem (7) aqui”, questionou Juliana. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que as temperaturas máximas registradas na cidade foram de 31,7ºC.
A definição sobre o que causou de fato o mal-estar será definida após análise da Vigilância Sanitária, que é acompanhada pelas polícias Militar e Civil e direções da Fundação Helena Antipoff e Secretaria Estadual de Educação.
A Fundação Helena Antipoff e a Secretaria Estadual de Educação foram procuradas para esclarecimentos sobre armazenamento de alimentos e a fiscalização e higienização de bebedouros, e a reportagem aguarda retorno.
A Prefeitura de Ibirité e a Copasa foram procuradas para esclarecimentos sobre alvarás de funcionamento e fornecimento de água local e, até a publicação deste material, não responderam.
Transferência
Estável, todos liberados ainda na noite de terça-feira. Informações recebidas pela reportagem indicam que o Hospital Municipal não comportou todos os estudantes e cerca de 20 deles tiveram que ser transportados de ambulância a um hospital de Sarzedo, também na Região Metropolitana. A transferência, porém, não é confirmada pela Prefeitura de Ibirité.
Em nota, a gestão municipal informou que “todos os estudantes que procuraram atendimento no Hospital de Ibirité foram atendidos. Sem exceção”. Segundo a Prefeitura, foi necessário mobilizar profissionais médicos e de enfermagem que não estavam na unidade hospitalar e que não houve falta de insumos ou materiais médico-hospitalares.
“Para absorver o aumento súbito da demanda assistencial, foram mobilizados profissionais médicos e de enfermagem fora da escala regular de plantão, garantindo a manutenção da capacidade operacional e da segurança assistencial”, afirma a nota.
“Destacamos que não houve intercorrências relacionadas à disponibilidade de insumos ou materiais médico-hospitalares, mantendo-se a cadeia de suprimentos estável e responsiva para a necessidade de cuidado existente para essa demanda, sem prejuízos assistenciais para a demanda natural do Hospital”, finaliza a mensagem divulgada à imprensa.
A Prefeitura de Sarzedo foi procurada para esclarecer a questão, mas até o momento a reportagem não recebeu retorno.
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As infecções
Conforme informações da Prefeitura de Ibirité, 63 estudantes, de maioria adolescente, foram atendidos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Hospital e Maternidade Regional de Ibirité, com sintomas de intoxicação alimentar.
Não houve registro de casos graves até a noite de terça-feira, segundo a gestão municipal. Todos os pacientes foram atendidos, não apresentaram sintomas graves e foram liberados do hospital, segundo a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG).
O caso é acompanhado pela Prefeitura Municipal e pela SEE/MG. Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que as diligências ainda estão em andamento para a finalização do registro da ocorrência.