Geraldinho Carneiro: 'Brasil sem Minas é um país mutilado'
Integrante da ABL, poeta e tradutor nascido em BH e radicado no Rio voltou à cidade natal para participar do projeto Letra em Cena
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Siga no“Um sujeito dedicado ao ofício da palavra, um mineiro desgarrado de tanto talento que não cabe só na poesia”. Assim José Eduardo Gonçalves, idealizador e apresentador do Letra em Cena, apresentou Geraldinho Carneiro (foto). O poeta, tradutor e roteirista foi o mais recente convidado do projeto realizado na biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas e que faz uma pausa em julho para voltar, em 19 de agosto, com Humberto Werneck e o lançamento do livro “Viagem no país da crônica”.
Belo-horizontino que deixou a cidade aos três anos para morar no Rio e ocupa a cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras, Geraldinho ofereceu aos que lotaram a biblioteca do Minas uma deliciosa sucessão de ruminações, reinações, reminiscências e inconfidências (mineiras e cariocas). Revelou que o seu próximo livro, “Ensaio sobre o mar”, incluirá muitos poemas “sem o compromisso” com decassílabo, “negócio infernal que Shakespeare deixou e nos torna escravos de um método”. E provocou riscos ao responder sobre a origem de tanta vitalidade: “Vem da falta de dinheiro. E do desejo de ver alguma coisa consumada, de flertar com algo até concretizá-lo. São esses os dois vetores.”
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Ao lado, algumas das falas de Geraldinho Carneiro no Letra em Cena, posteriormente complementadas com uma inspirada leitura de poemas do autor e de outros poetas de sua geração pela escritora mineira Bruna Kalil Othero.
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- Alexandra Lucas Coelho sobre Gaza: 'Campo de extermínio'
- Primeira leitura: 'Exercícios de viver em palavras e cor II'
Flip 2025: Uma porta de entrada chamada Leminski
“A poesia é muito impositiva na literatura brasileira hoje: rica, novidadeira, com pulsão de várias linguagens na literatura brasileira contemporânea. No ano passado senti um mea culpa por não ter muita poesia na programação principal (que homenageou o cronista João do Rio), aí veio esse desejo (de homenagear um poeta). Para mim, (Paulo) Leminski foi a porta de entrada para ‘drogas mais pesadas’ na literatura. E acho que todo mundo já passou por uma fase Leminski: ele estava na música, no grafite, em todos os lugares. Quando você mergulha na obra de Leminski, você se dá conta de como ele era elaborado e sofisticado, e, ao mesmo tempo, capaz de um convite maravilhoso para se chegar perto. Leminski abre portas para poetas de muitos lugares; é um bom norte.”
Ana Lima Cecilio, curadora da Flip, em coletiva na última terça-feira, ao justificar a escolha do autor homenageado Paulo Leminski (1944-1989), na apresentação da programação completa da 23ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, de 30 de julho a 3 de agosto.
Uma voz palestina em BH
Por Denys Lacerda
Dezenas de leitores de Belo Horizonte lotaram, na última segunda-feira, o espaço em frente à Livraria Jenipapo, na Rua Fernandes Tourinho, para escutar o poeta sírio-palestino Ghayath Almadhoun. Ele esteve em BH para o lançamento do seu mais recente livro, “Você deu em pagamento o meu país” (Ars et Vita), em evento conjunto com outra livraria da Savassi, a Quixote. Esta é a primeira antologia poética do autor publicada no Brasil, com 31 poemas nos quais o leitor é situado na Palestina e na Síria (berço do poeta e de sua família), e na Suécia e na Alemanha, onde Almadhoun se refugiou e vive atualmente.
As descrições de cenários trágicos do Oriente Médio, nos quais o escritor denuncia as agruras da guerra sobre o povo palestino, se entrelaçam com as arbitrariedades vivenciadas na Europa, enquanto ele sonha em poder voltar à terra natal. Nascido em Damasco em 1979, Almadhoun se mudou para a Suécia em 2008 e hoje vive entre Estocolmo e Berlim.
“Você deu em pagamento o meu país” é um brado pelo direito de se expressar, afirma o poeta. Ele denuncia o “cancelamento” que vive na Alemanha com a recusa de publicação de textos pró-Palestina em periódicos e editoras do país.
“Depois do 7 de Outubro (de 2023), os alemães começaram a silenciar toda voz que falava sobre a Palestina, sejam palestinos ou não palestinos. Qualquer um que tenta dizer para parar a guerra, que há um genocídio acontecendo, eles cancelam. Parece que o cancelamento é parte da cultura alemã, porque eles cancelaram os judeus há 80 anos e agora estão cancelando os palestinos”, contou o poeta ao Estado de Minas. Essa perseguição, conforme relata Almadhoun, é expressa, inclusive, na relegação da identidade dos refugiados. “Se você diz qualquer coisa, te acusam de antissemita. Se você diz ‘sou palestino’, isso já é considerado antissemita. Para eles, você deveria dizer ‘sou apátrida’”.
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Os ataques recentes no Oriente Médio, com o aumento da tensão entre Israel, estado ocupante da Cisjordânia, apoiados pelos Estados Unidos e parte do mundo ocidental, e o Irã, são, ainda, um ataque à esperança de um mundo com direitos iguais a todos, o que, na visão do poeta, deveria ser o norte da humanidade. “Acho que Israel começou a agir não como um país agressivo, mas como um país não civilizado. Matar crianças de forma tão brutal, aos milhares, significa que você não é civilizado. Isso não é civilização para mim. Isso é um ato bárbaro”, afirma Almadhoun. Lançamento da editora mineira Ars et Vita, “Você deu em pagamento o meu país” tem 31 poemas traduzidos diretamente do árabe por Alexandre Chareti e prefácio de Ricardo Domeneck.