
Nos muito antigamentes, minha fam�lia era imensa – cultura nascida em Santa Luzia, onde a maioria morava e cultivava o h�bito de conviv�ncia, que acabou com o progresso desta vida moderna. Todos os parentes se conheciam, todos se visitavam, conhec�amos todos, pr�ximos ou mais distantes. H� dois meses, fui � Teixeirada, que busca reunir novos e antigos da fam�lia, mas reconheci pouca gente. E logo eu, que sempre fui furona, casa de parente era como minha casa, frequentava todas com a maior sem cerim�nia.
A pressa da vida moderna acabou com esse tipo de conviv�ncia, e procuro fazer o que posso em minha casa. Em minha meninice, l� pelos 12, 15 anos, mor�vamos no bairro Santo Ant�nio e eu vivia nas casas de parentes, onde passava s�bados, domingos e feriados. Por uma dessas curiosidades da vida, na eram poucas as meninas na minha idade. Ent�o, meus companheiros eram os meninos, a maioria dos parentes. Eu os acompanhava em tudo. At� no futebol.
Uma de minhas primas morava na Avenida do Contorno, quase em frente ao hotel que l� existe hoje. Gostava de ir em sua casa aos domingos, porque tinha duas atra��es muito boas: o futebol jogado no canteiro do gramado, que ficava no meio da avenida e foi transformado em pista de tr�nsito, e os trocados que seu irm�o nos dava para irmos � matin�, no Cine Avenida.
O futebol come�ou aos poucos. A cada fim de semana, aparecia um novo jogador, porque a meninada naquela �poca n�o tinha celular nem outras distra��es. Como eu topava tudo, � claro que fui jogar futebol com os primos, e era �timo.
Enquanto o aprendizado com a bola ia aumentando, a avalia��o dos times ia se aperfei�oando. De tanto perder a bola e ser menina magrinha, acabei escalada como a goleira do nosso time, era mais f�cil segurar a bola nos peitos. N�o sei por quanto tempo fui goleira. Como era a �nica menina dos dois times, chamava a aten��o.
Os carros de passeio que rodavam a cidade nas manh�s de domingo costumavam parar para ver o jogo e aquela menina jogando futebol com um bando de meninos, em plena �rea chique da cidade. A impertin�ncia ficava no ar: que fam�lia era aquela que n�o se importava com tamanho disparate? Como � que deixavam a menina no meio daquela molecada, jogando futebol na rua?
Tenho saudades daquele tempo, pelo descompromisso da juventude e pela saudade dos meus companheiros de futebol. A vida me pregou uma pe�a, todos j� se foram, dos mais novos aos mais velhos. Fiquei me lembrando daquela brincadeira que n�o existe mais, encantada com esses times de jogadoras mulheres que est�o fazendo bonito pelo mundo.
O segundo tempo domingueiro tamb�m era �timo. �amos � matin� do Cine Avenida, onde passava a s�rie “A deusa de Joba”, de 1936, que era o m�ximo.
Na volta, o bonde nos largava na Rua da Bahia e �amos torrar os trocados que sobravam tomando um cop�o de groselha de morango num botequim. Que menino de hoje se interessa por esse tipo de divers�o?