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Estado de Minas Brasil S/A

Presidente da R�ssia, Putin bagun�a o cen�rio internacional

Invas�o da Ucr�nia desafia a ordem neoliberal tutelada pelos EUA e escancara o nosso atraso


27/02/2022 04:00 - atualizado 27/02/2022 07:27

presidente russo Vladimir Putin
Ex-agente da KGB, presidente russo Vladimir Putin: l�der ascendente da extrema-direita mundial (foto: Alexey NIKOLSKY/SPUTNIK/AFP )


A invas�o da Ucr�nia transcende a an�lise simplista de que o russo Vladimir Putin seja um autocrata implac�vel, nost�lgico do antigo passado sovi�tico. Ex-agente da KGB, ele tem jeito, cara e boca dos vil�es da antiga Uni�o Sovi�tica dos filmes da franquia James Bond.

Retrat�-lo como um comunista malvado sa�do da Guerra Fria para o s�culo que tende a ser das luzes, por�m, n�o ilumina o que o al�ou de mero coadjuvante da hist�ria a protagonista. E, n�o obstante seu passado na KGB, est� mais para l�der ascendente da extrema-direita mundial, incluindo Donald Trump, que para um comunista tempor�o.

Megas Putin, como o chin�s Xi Jinping e o indiano Narendra Modi, minis, como o h�ngaro Viktor Orb�n, farsantes, tipo Donald Trump, e trainees, como Nicol�s Maduro e Jair Bolsonaro, t�m o iliberalismo como denominador comum. Mas muito mais os desune que aproxima.
 
� exce��o da China, que n�o conheceu elei��o livre em sua hist�ria milenar, eles se elegeram pela liturgia do chamado “mundo livre”, promovida pelas suas institui��es – OCDE, FMI, BIS, Banco Mundial, think tanks privados, universidades dos EUA e Inglaterra e a imprensa mainstream (tradicional).

Aos poucos, apropriam-se das institui��es que ancoram a democracia liberal, como a corte suprema, a imprensa, disseminam fake news nas redes sociais, mudam zonas eleitorais, e passam a governar sem oposi��o, abastardando a maioria difusa, mantida ignorante pela imprensa controlada, al�m de enfeiti�ada por ressentimentos criados (contra imigrantes, minorias �tnicas e de g�nero, amea�a comunista ou imperialista americana, conforme a conveni�ncia do autocrata).

O ponto central, que n�o justifica a invas�o de um pa�s soberano, � a oposi��o � ordem global liderada pelos EUA, especialmente a sua concep��o do “fundamentalismo de mercado”, express�o frequente nos estudos e debates de Oren Cass, diretor do think tank conservador, mas n�o iliberal como Trump, American Compass, ao explicar pela sua �tica a decad�ncia da economia americana e a polariza��o pol�tica.

Aplicada �s rela��es internacionais, foram as “ilus�es liberais” que causaram a crise na Ucr�nia, conforme artigo de Stephen Walt, professor da Universidade de Harvard, publicado em 19 de janeiro, muito antes, portanto, da a��o extrema anunciada por Putin. � essa a discuss�o relevante e ela nos diz respeito, enquanto maior e mais importante na��o do continente por ora sem rumo nem dire��o.
 

Do realismo �s ilus�es

 
O papel dos atores no confronto in�dito na Europa desde a Segunda Guerra ajuda a explicar a reviravolta russa insinuada a partir da dissolu��o da Uni�o Sovi�tica, em 1991, e a independ�ncia de algumas rep�blicas, como Let�nia, Litu�nia e Est�nia, no B�ltico, Arm�nia e Ge�rgia, na �sia, e Ucr�nia, cellula mater na “m�e R�ssia”.

At� ent�o, diz o professor Walt, predominavam no mundo as rela��es de poder baseadas no “realismo”, o reconhecimento de que as guerras ocorrem porque n�o h� autoridade central que proteja os Estados uns dos outros e impe�a-os de lutar se assim o desejarem.

Cr�tico, ou realista como se define, ele diz que “se os EUA e seus aliados europeus n�o tivessem sucumbido � arrog�ncia, ilus�es e idealismo liberal e, em vez disso, confiado nos insights centrais do realismo, a crise atual n�o teria ocorrido. De fato, a R�ssia provavelmente nunca teria tomado a Crimeia, e a Ucr�nia estaria mais segura hoje. O mundo est� pagando um alto pre�o por confiar em uma teoria falha da pol�tica mundial”. Eis um bom resumo da hist�ria.

Autoridades americanas e europeias acreditavam que a democracia liberal, os mercados abertos, o estado de direito e outros valores liberais estavam se espalhando, criando uma ordem global. “Em vez de competir por poder e seguran�a”, diz ele, “as na��es do mundo se aplicariam em enriquecer numa ordem liberal cada vez mais aberta, harmoniosa e baseada em regras, moldadas e guardadas pelo poder benevolente dos EUA”. S� que essa “vis�o r�sea” foi parcial.

 

A paz dos desconfiados

 
Em vez de um Plano Marshal, nome da ajuda a fundo perdido dos EUA para a reconstru��o da Europa, ambos incorporaram ao acordo militar de prote��o m�tua, a Otan, as rep�blicas egressas da finada URSS, o governo Obama instalou m�sseis voltados contra a R�ssia na Pol�nia, ex-sat�lite sovi�tico, e foi prometido � Ucr�nia o guarda-chuva militar que nunca se concretizou.

A invas�o unilateral do Iraque pelos EUA, a derrubada do ditador l�bio Muammar Al-Qaddafi, aprovada pelo Conselho de Seguran�a da ONU, com absten��o da R�ssia, para prote��o a civis, n�o para mudar o regime, tudo isso fez “os russos se sentirem enganados”, segundo o ex-secret�rio de Defesa Robert Gates. Tais incidentes, diz Walt, explicam por que Moscou insiste em garantias por escrito, como a de que a Ucr�nia n�o se filiar� � Otan – garantias ignoradas por Joe Biden, presidente dos EUA, e seus aliados europeus.

Nada alivia para Putin. Dificilmente, ele deixar� de ser visto como l�der de um estado desonesto, a invas�o legar� sequelas horr�veis que dever�o desestabilizar o mundo nos pr�ximos anos. Uma delas j� se delineia nos EUA, provocada pelo maior fracasso da tese de que a liberaliza��o econ�mica bastaria contra o nacionalismo iliberal – o fant�stico desenvolvimento da China � custa do decl�nio dos EUA.
 
 

A Am�rica que quer mudar

 
A economia dos EUA ecoa mundo afora pela imprensa, pelos grandes bancos de Wall Street, as Big Techs, alardeando a domin�ncia do que se convencionou chamar de neoliberalismo. A Am�rica profunda, que fala, entre outros, pelos thinks tanks solidamente conservadores Heritage e American Compass, pensa diferente. Vale a pena ouvi-la.

Defende pol�tica industrial, quer de volta as f�bricas que foram para a China, vedar transfer�ncia de tecnologia, diz que as Fortune 500 “n�o se importam se seus investimentos beneficiam ou prejudicam a Am�rica e os trabalhadores americanos”, quer tributar mais os ricos, diz que Twitter, Facebook, Instagran fazem mais mal que bem, veem os libert�rios hayekianos como nefastos, e por a� vai.

Merece aten��o que os intelectuais e ativistas da Am�rica profunda n�o d�o um dime por Trump e radicais adeptos de ideias (replicadas pelo bolsonarismo) de fechar fronteiras, dar armas a todos, acabar com o welfare state, expurgar o identitarismo. � mais que a marca de fantasia MAGA, de Fa�a a Am�rica Grande Outra Vez, e � muito forte no meio-oeste, embora ainda sem um l�der nacional como Trump.

O conflito entre EUA e China, agu�ado pela rudeza da R�ssia, infla as teses, digamos, desenvolvimentistas do novo conservadorismo, que se assemelham ao bidenomics. O que vir� est� nebuloso. Certo � que a pol�tica econ�mica vai mudar a pretexto de enfrentar a amea�a dos “novos b�rbaros”,  mas, de fato, em resposta � enorme insatisfa��o social nos EUA e Europa. O eco das mudan�as j� ecoa por aqui.

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