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Estado de Minas BRASIL S/A

Embargos exp�em escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim

EUA aumentam restri��es � China, acirrando as rela��es entre nossos dois maiores parceiros no mundo


16/10/2022 04:00 - atualizado 16/10/2022 09:49

Ant�nio Machado

Funcionário faz um chip em uma fábrica em Nantong, na província de Jiangsu, no leste da China
Funcion�rio faz um chip em uma f�brica em Nantong, na prov�ncia de Jiangsu, no leste da China: restri��es dos EUA podem afetar avan�o tecnol�gico do pa�s asi�tico (foto: STR/AFP)

Shhhh... N�o quero perturbar a baixaria da campanha eleitoral, mas h� coisas s�rias intrigando o mundo que � melhor ficarmos espertos. N�o falo das bravatas nucleares de Putin na Ucr�nia. Isso � com os europeus, espera-se... Falo de outra guerra, anunciada sem tiro nem baz�fia no �ltimo fim da semana, que, se levada adiante, impactar� o com�rcio global em centenas de bilh�es de d�lares anualmente.

Negando an�ncios recentes do secret�rio de Estado, Antony Blinken, segundo os quais os EUA n�o procuram uma “guerra fria” com a China, o escrit�rio de ind�stria e seguran�a do Departamento de Com�rcio divulgou um denso documento com 139 p�ginas ampliando sobremaneira, com dezenas de restri��es, os “controles adicionais de exporta��o” de �tens de computa��o avan�ada e de fabrica��o de semicondutores.

O embargo inclui restri��es a acordos de colabora��o com entidades chinesas de pesquisa e de licen�a de tecnologias visando proteger a seguran�a militar dos EUA. Mas as impli��es econ�micas t�m maior alcance, j� que itens de intelig�ncia artificial e desenvolvimento de chips avan�ados s�o hoje onipresentes na ind�stria comercial e de servi�os, indo de ve�culos e m�quinas agr�colas automatizadas a exames cl�nicos, equipamentos de energia e inova��es financeiras.

Semicondutores est�o para a vida moderna como a energia el�trica e o petr�leo entre o fim do s�culo 19 e o in�cio dos anos 1900. Nada mais se faz sem as min�sculas placas de sil�cio, com informa��es e comandos gravados, inseridos em tudo o que hoje alimenta, protege, movimenta, distrai, aquece e nos esfria. Nele est� o poder.

S� que o grosso de bens industriais � venda no mundo sai da China, que importa pouco para o porte de sua demanda interna, pa�s com 1,3 bilh�o de habitantes, sobretudo alimentos e min�rios, mas � muito para exportadores de insumos, com Brasil � frente de todos.

O mundo interconectado das cadeias de produ��o desabar� se houver algum solavanco, como vimos no auge da pandemia da COVID-19 e em menor grau na invas�o da Ucr�nia pela R�ssia. Isso � o que p�e em risco a escalada de restri��es dos EUA ao acesso a inova��es tecnol�gicas, se tiver �xito com o que pretende: sufocar o avan�o tecnol�gico da China, entendido como desafio � sua hegemomia no mundo.

Todas as op��es s�o ruins

Foquemos o que isso significa para nossa seguran�a econ�mica, hoje amplamente dependente das exporta��es de alimentos e min�rios. A China � obcecada com a soberania alimentar. At� o final do ano, a China, com 20% da popula��o mundial, dever� ter em estoque cerca de 65% do milho e 53% do trigo do mundo. Parece muito, e �, sobretudo para quem a abastece, como Brasil, mas corresponde a apenas 5% de seu d�ficit total de produ��o pr�pria de alimentos.

A China importa apenas 10% do milho que consome, mas isso a torna o maior importador de milho do mundo. Consome quase 120 milh�es de toneladas de soja por ano, equivalentes a toda a safra de gr�o dos EUA, mas importa 62% de toda a soja comercializada no mundo.

Cerca de 30% dessas importa��es v�m dos EUA, e boa parte do resto do Brasil. Sem a soja, grande parte da principal fonte de prote�na da China, sua enorme ind�stria de carne su�na (a maior do mundo), entraria em colapso, segundo informe da intelig�ncia dos EUA.

Agora, suponha que o embargo dos EUA de suas tecnologias vitais seja bem-sucedido. Qual ser� a sequela: uma nova guerra fria, uma guerra quente, a desacelera��o de seu forte crescimento econ�mico? Nenhuma dessas op��es � boa, umas s�o piores que outras, mas todas comprometem a nossa soberania econ�mica. E ningu�m tem tais temas na agenda de prioridades, nem as FAs, mais preocupadas com o que n�o lhe diz respeito, como a integridade das urnas eletr�nicas.

Subemergente consciente

O desenvolvimento como esteira do sucesso econ�mico e paz social era tema frequente at� 40 anos atr�s nas entidades empresariais, nas universidades e na �rea militar. Hoje, impera a mediocridade.

De repente, tudo se perdeu, jovens egressos das universidades dos EUA e de cursos de MBA mudaram o foco para o mercado como indutor mais qualificado do desenvolvimento que o planejamento, que nunca foi s� da burocracia do Estado, mas um h�brido p�blico e privado.

Isso em meio ao legado do regime militar, infla��o descontrolada e cr�nica escassez de divisas, imp�s o saneamento fiscal como a prioridade da vez. A infla��o se endere�ou com a reforma monet�ria de 1994. A depend�ncia de d�lares foi eliminada com a forma��o de reservas a partir do primeiro governo Lula, US$ 370 bilh�es, mais que o total da d�vida externa, feito que seus advers�rios ignoram.

E o ajuste fiscal? Se no in�cio os d�ficits or�ament�rios vinham do gasto p�blico financiado com emiss�o monet�ria, com o tempo os novos procedimentos de contabilidade p�blica e de controle deveriam ter solucionado. Fracassaram n�o por erro de implementa��o, mas porque o Estado foi sendo capturado por interesses empresariais, sob o disfarce de partidos fisiol�gicos e o manto da ideologia neoliberal de que o planejamento seria nocivo ao bem-estar, secando as fontes dos fundos que moviam a ind�stria. Sobraram apenas para o agro, que deslanchou, mas porque havia demanda externa garantida.

Ascens�o de outra ordem

� este o pano de fundo e contexto dos EUA no mundo, tamb�m v�tima do fundamentalismo de mercado desde o governo Reagan. Teve sucesso na estrat�gia de colapsar a cambaleante Uni�o Sovi�tica, pondo fim � chamada Guerra Fria entre ambas as pot�ncias, rivais da �poca. Mas plantou a semente da decad�ncia econ�mica, ao matar o forte keynesiasmo, que vinha da 2ª Guerra, com desregulamenta��o, corte de impostos dos ricos e controle da infla��o por meio de juros.

A aloca��o de f�bricas de empresas americanas em pa�ses com baixo custo salarial e tribut�rio e nenhuma regra ambiental, sobretudo a China, importando o que antes produzia localmente, minou a riqueza da sua ent�o frondosa classe m�dia, vindo bater em Trump, em 2016.

Ele prometeu fazer a Am�rica grande outra vez, o acr�nimo Maga em ingl�s, num processo malsucedido, que misturou �dio contra negros e imigrantes, restri��es � China, e fez emergir a extrema-direita.

O “fundamentismo de mercado”, como os cr�ticos de direita definem o neoliberalismo, foi mantido com Trump, mas est� em baixa com Biden e ganhar� impulso se a nova direita da oposi��o republicana voltar ao poder. Oren Cass, um de seus gurus, escreveu que “o livre-com�rcio internacional n�o � um princ�pio vital de liberdade na tradi��o americana; foi adotado pelos piores motivos e produziu os piores resultados”. N�o se trata do fim da globaliza��o, trata-se de quem manda nas regras da ordem internacional. E n�s com isso?

Se a economia da China enfraquecer ou voltar-se mais para dentro, a exporta��o de commodities n�o bastar� para nos manter. E j� n�o basta para manter a coes�o social reclamada nas urnas. Que fazer?

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